Zona de Interesse

 fim não termina quando acaba.

Os gritos. As máquinas. O forno. Os tiros. O desespero. O cheiro. A fumaça. A morte. Zona de Interesse é o tipo de filme que acaba e ele continua conosco. Ele continua ecoando em sua sinestésica construção e abordagem. Pra muito além da vida idílica da família Höss acompanhamos a construção da História. 

Vivendo muro a muro com o Auschwitz conhecemos a os Höss. Um casal com seus cinco filhos e muitos criados. O patriarca é um militar de alta patente e um dos responsáveis pelo sucesso da empreitada do campo de concentração que lhe acerca. Rudolf segue sua rotina árdua e incessante com o campo e a relação política com o Partido Nazista. Já Hedwig trabalha pra cuidar dos filhos e criar esse mundo perfeito, essa casa perfeita. Esse lar.

O filme de Jonathan Glazer nos coloca dentro desse ponto de vista - na morada dos Höss - enquanto o além muro ganha sua face por conta de outro sentido: o som. É assustador e enojador. Os gritos de socorro aliados a fumaça dos corpos carbonizados e o forno trabalhando incessantemente nos geram repulsa e raiva. Mas estranhamente aos olhos de quem está nesse paraíso construído é apenas parte da necessidade. É absurdo mas eles creem estar fazendo o que é certo. O que devem fazer. Que devem se lavar até o último detrito de judeus sair de seu corpo. Mal sabem que aquele ar estava cheio deles…

O filme flerta com o absurdo da premissa com imagens fantásticas e fantasiosas - tal qual contos de fadas (de horror) dos irmãos Grimm - e a quebras de narrativa com sons altos e telas monocromáticas que geram mais e mais incômodo. Muito disso se deve ao excelente trabalho sonoro que vai da abertura das cortinas ao final dos créditos. Inacreditável. Um filme tão potente sem ser expositivo. Um filme tão dilacerante sem mostrar uma gota de sangue. 

Um filme que nos faz imaginar a necessidade de relembrar o Holocausto, mas também nos faz imaginar sobre a banalidade de como hoje em dia relembramos tais atos. Talvez ter e manter um museu limpo não seja suficiente. Só expor sapatos não seja impactante o bastante. É preciso vomitar um vômito que não há. Abrir mais portas do que fechar. Que filme!

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