O Cinema Brasileiro tem muitas glórias para contar. São retomadas, revoluções e inovações, porém o Oscar, Prêmio da Academia Norte-Americana, ainda é uma busca frustrada. Não que vencer seja mesmo importante, porém a premiação traria investimento, visibilidade e credibilidade que o público dá aos vencedores deste prêmio. Os parâmetros dos vovôs que fazem parte do Conselho da Academia são totalmente contestáveis, porém, quem quer chegar lá e levar o careca dourado para casa, deve ter uma influencia política muito grande. Engana-se quem chama o prêmio que mais temos chances de Melhor Filme Estrangeiro', porém os filmes de países que não os EUA que falam inglês, não concorrem a esse prêmio. Portanto a busca é pelo Oscar de Melhor Filme de Língua Não Inglesa.
Começamos a participação como uma co-participação. Muitos nem lembram, mas ‘
Orfeu Negro’ de Marcel Camus foi o vencedo do Oscar de Melhor Filme de Língua Não Inglesa de 1960, porém creditada somente à França, mesmo sendo uma produção franco-italo-brasileira. Mesmo ambientada no Brasil, a história do Orfeu na favela carioca foi agraciado mundialmente, mas não nos rendeu nem uma menção na premiação, mas devemos nos sentir felizes por 'Orfeu Negro' fazer parte de uma filmografia nacional. Infelizmente a versão nacional dirigida por
Cacá Diegues, 'Orfeu', interpretado por Tony Garrido, não está ao nível do original, mesmo tendo seus (poucos) méritos.
|
'O Pagador de Promessas |
A história brasileira na premiação é muito pequena. Em 1963 tivemos nosso primeiro indicado genuinamente brasileiro ao prêmio. ‘
O Pagador de Promessas’ de Anselmo Duarte, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, concorreu ao Oscar de Melhor Filme de Língua Não Inglesa. A história de Zé do Burro e sua peregrinação até Salvador com sua cruz foi vencida pelo francês ‘Sempre aos Domingos’ de Serge Bourguignon. A primeira participação brasileira na festa de Hollywood é um marco na nossa história.
|
'O Beijo da Mulher Aranha' |
Já a segunda participação brasileira no Oscar não foi muito legítima, até por isso muitos nem a consideram. Mas isso é um erro. ‘
O Beijo da Mulher Aranha’ foi totalmente rodado no Brasil e financiado com capital nacional, porém o fato de ser falado em inglês e com dois atores de grande nível como Raul Julia e William Hurt no elenco, o fazem ter um peso estrangeiro. Sônia Braga teve grande participação e sua carreira a partir daí decolou. Em 1985 ‘O Beijo...’ recebeu 4 indicações ao Oscar, inclusive a primeira indicação a um diretor brasileiro - Hector Babenco. Sim, ele nasceu na Argentina, porém se considera brasileiro. Hurt levou o prêmio de Melhor Ator. Concorreu ainda a Melhor Filme e Roteiro.
|
O fotografo Germano Schüür, Glória Pires, Patrícia Pillar e o escritor José Clemente Pozenato de 'O Quatrilho' em festa do Oscar. |
O retorno ao tapete vermelho para um filme genuinamente nacional demorou mais de 3 décadas. No começo da Retomada, ‘
O Quatrilho’ de Fabio Barreto em 1996 teve chances de ser o melhor filme de língua não inglesa, mas o fabuloso filme ‘A Excêntrica Família de Antonia’ levou a estatueta para a Holanda, com méritos. Os holandeses mantiveram-se complicando a nossa vida na terceira participação brasileira no Oscar. Em 1998 ‘
O Que é Isso, Companheiro' de Bruno Barreto, também não teve sorte. Perdeu de ‘Caráter’ de Mike van Diem. E a família Barreto acumula força e experiência na participação do Oscar. Lembra-se desse sucesso? Veja o trailer desse potente filme:
O melodrama de Walter Salles cativou todos em 98 e o apresentou para todo o mundo. ‘
Central do Brasil’ foi arrebatador de público no Brasil e no mundo. A grande atuação de Fernanda Montenegro também foi reconhecida e concorreu a Melhor Atriz, nomeação inédita para o cinema brasileiro e latino-americano. A primeira mulher da America Latina a ser nomeada ao Oscar de Melhor Atriz. No Brasil continua sendo a única, entre as latinas, hoje são 3 as nomeadas, Salma Hayek por 'Frida' e Catalina Sandino Moreno por 'Maria Cheia de Graça', porém nenhuma levou até hoje. A gélida Gwyneth Paltrow levou em 1999 por ‘Shakespeare Apaixonado’ e Roberto Benigni foi o premiado de Melhor Filme de Língua Não Inglesa pelo belo drama ‘A Vida é Bela’. Foi nossa maior chance de ter levado a estatueta, mas o carisma e experiência do italiano pesaram a seu favor.
|
'Central do Brasil' |
Após certa estiagem nas indicações os curtas-metragens é que fizeram bonito representando o Brasil. Em 2000 ‘
Uma História de Futebol’ de Paulo Machline concorreu a Melhor Curta Metragem. A história do menino Edson que viraria Pelé aos olhos do amigo Zuza num documentário rendeu muitos prêmios por aqui e chamou a atenção em festivais internacionais. Florian Gallenberger foi agraciado pelo curta mexicano 'Quiero Ser', deixando o Brasil mais uma vez a ver navios. Já em 2003 Carlos Saldanha com John C. Donkin concorreu ao Oscar de Melhor Curta de Animação em 2003 com ‘
A Aventura Perdida de Scrat’, curta originário da participação do diretor brasileiro na produção da animação ‘A Era do Gelo’. Seria apenas uma vitória de Carlos, visto que o curta foi totalmente executado e produzido nos EUA, mas seria um diretor brasileiro a ser coroado. Seria, já que o oscar foi para a animação da Austrália ‘Harvie Krumpet’ de Adam Elliot. Mas Saldanha é uma esperança viva já que está em um grande estúdio e sempre envolvido com grandes projetos.
|
'Cidade de Deus' |
O fenômeno ‘
Cidade de Deus’ de Fernando Meireles foi aguardado por todo o público brasileiro como grande concorrente ao Oscar de 2003. Mas não foi nem selecionado entre os 5 concorrentes finais. Dos últimos anos, teve a seleção mais fraca, sendo ‘Lugar Nenhum na África’ da Alemanha levado o prêmio. Mas percebendo a força do filme, a Miramax, distribuidora do filme, relançou o filme em circuito americano junto à forte estratégia de marketing. Em 2004 os resultados da ação foram recebidos com 4 indicações do filme ao Oscar, igualando a quantidade de nomeações de ‘O Beijo da Mulher Aranha’. As categorias em que ‘Cidade...’ concorreu foram: Direção, Fotografia (César Charlone), Roteiro Adaptado (Braulio Mantovani) e Montagem (Daniel Rezende). Porém o fenômeno da favela do Rio não foi maior do que o fim da trilogia dos elfos e a busca incessante pelo ano de ‘O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei’ de Peter Jackson que levou 11 categorias. A única categoria que ‘Cidade de Deus’ tinha chances, já que não concorria contra ‘O Retorno...’ era de Melhor Fotografia, porém quem levou foi o modorrento ‘Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante do Mundo’ estrelado por Russel Crowe. Nessa o Brasil passou muito perto, mas como sempre, não deu.
A busca pelo Oscar é um fetiche no mundo cinematográfico. A América Latina que tem um cinema próspero e crescente só tem 2 Oscars e ambos pela Argentina, com ‘A História Oficial’ (1986) e ‘O Segredo dos Seus Olhos’ (2010). Os critérias usados pela comissão nacional e pelos senhores feudais da Academia são totalmente obscuros, onde a arte nem sempre é levada em consideração. Mas a busca continua e a torcida também. Agora cabe à ‘
Lula - O Filho do Brasil’, mais um filme da família Barreto, tentar no ano que vem a tão esperada estatueta.
“And the Oscar goes to... Brazil”. Ainda ouviremos, mesmo que de nada valha.
Vitor Stefano
Sessões
Sempre foi grande promoção para um filme o fato de estar concorrendo ao Oscar.
ResponderExcluirAcredito que o Brasil nunca ganhou este prêmio, pois durante os anos em que eu pude acompanhar deixou claro, que era um prêmio para a grande indústria. Foi uma grande surpresa para mim, por exemplo, a derrota de Avatar para Guerra ao Terror.
Acho que para o Brasil, vale mais como promoção do filme mesmo. Só de estar lá a bilheteria já arrecada mais do que normalmente arrecadaria e assim já se ganha, pois alguns filmes brasileiros são desenterrados e vivenciados por maiores públicos desta forma.
Acho que Lula será o mais forte candidato do Brasil de todos os tempos, pois o cinema ali tem uma "cara" conhecida e industrial que deve agradar públicos mundo afora.
Concordo que não vale de nada, mas o filme brasileiro que levar, vai com certeza CAUSAR!
Leandro Antonio
Sessões