Há Tanto Tempo Que Te Amo
Nome Original: Il y a longtemps que je t'aime
Diretor: Philippe Claudel
Ano: 2008
País: França / Alemanha
Elenco: Kristin Scott Thomas, Elsa Zylberstein, Serge Hazanavicius, Laurent Grévill e a pequena Lise Ségur
Prêmio: Bafta de Melhor Filme de Língua Não Inglesa e César de Melhor Estréia de um Diretor (Philippe Claudel) e de Melhor Atriz Coadjuvante (Elsa Zylberstein).
Depois de ver 'Não Se Preocupe, Estou Bem!' e 'Não Minha Filha, Você Não Irá Dançar' vejo em 'Há Tanto Tempo Que Te Amo' um fim de uma trilogia infindável. A trilogia da família, da dor da família. E não apenas a dor por si só, mas como saber conviver com ela e o que podemos esperar do sofrimento alheio, que muitas vezes está mais próximo do que podemos (e queremos) acreditar. Certamente há muitos outros filmes com polêmicas familiares e fraternais (outro relativamente recente e altamente recomendável é 'Reis e Rainhas' de Arnaud Desplechin), porém recentemente vi esses 3 que me fizeram pensar em um cinema pensado, sentido, belo, de atuações marcantes e histórias edificadas em cima de nossa fragilidade mais indefesa: o sentimento, fraternal.
Há uma crise na educação, como visto em 'Entre os Muros da Escola' e certamente há uma crise na instituição da família. E do mesmo modo que na educação, isso não é um "privilégio" dos franceses, é um problema mundial. Não há mais divisão territorial que demarque onde tem e onde não esse tipo de problema. É uma avalanche que não sabemos onde começa e nem onde terminará. Não sei se há falta de religião e de conversa ou uso de muita tecnologia, não sei mesmo. Mas é mais e mais comum ver que não há mais irmandade presente nas relações familiares ou mesmo fora da árvore genealógica, tampouco igualdade ou liberdade. Em 'Há Tanto Tempo Que Te Amo' o que vemos é uma familia tentando se refazer. Ou melhor renascer.
A obscura Juliette volta à sociedade após 15 anos. A prisão foi uma fuga. A prisão não prendeu, a deixou ausente de um mundo que continuava a viver, e não sentiu a sua falta. Não por ela ser inexpressiva ou inútil mas por não ter força para viver. Se estivesse aqui fora, terminaria como o oficial que sonhava com o rio Orinoco. Ele mesmo que disse gostar tanto de fontes, da água, dos rios, e a Sra. Fontaine chegou a ser um rio, mas o seu nome já a avisaria do que se tornaria, uma simples fonte, de onde a água jamais sairá. Somente sua família seria capaz de fazê-lo, mas nem eles ela queria encontrar.
Sua prisão tem um motivo doloroso e que só ela saberia explicar o motivo. Ninguem sabe porque. Nem a força da fraternidade para entender ou tentar ajudar. Não havia ajuda. Lea, sua irmã a resgata e com seu marido, seu sogro e suas duas engraçadissimas filhas aos pouco se tornam seu novo porto seguro. Sua culpa, se é que podemos chamar assim, parece acalentada por pessoas que há muito tempo a amam, mesmo nunca a tendo visto. Os 15 anos da prisão foram como uma gestação prolongada de onde ela sai de um ventre de muros e encontra o mundo real, de onde ela não deveria ter saido, mas precisou.
É impossivel falar desse filme sem citar spoilers. Portanto pararei de falar. Fica minha recomendação: veja "Há Tanto Tempo Que Te Amo". Uma história sentimental, tocante, fria e em alguns momentos hilária, principalmente com as crianças vietnamitas. Kristin Scott Thomas dá um banho de interpretação, fazendo-nos encarar a vida de Juliette como uma vida comum, ordinária, de uma pessoa que poderia ser nossa irmã. E poderia mesmo. E não importa o que aconteça, a justiça sempre acontecerá. Só precisamos fazer algo. Amar quem você realmente ama, com todas as forças, mesmo que seja por muito tempo. Tempo bastante para pensarmos que não amamos mais. Persista.
Só 'À la Claire Fontaine' para nos dar um pouco de esperança. Canção infantil que certamente inspirou o nome desse lindo filme. Também parte da trilha de 'O Despertar de uma Paixão', onde só a beleza da música para nos deixar bem. Melhor do que a vida nos deixa. Para ouvir, veja a postagem do tocante filme estrelado por Naomi Watts e Edward Norton.
Vitor Stefano
Sessões
Diretor: Philippe Claudel
Ano: 2008
País: França / Alemanha
Elenco: Kristin Scott Thomas, Elsa Zylberstein, Serge Hazanavicius, Laurent Grévill e a pequena Lise Ségur
Prêmio: Bafta de Melhor Filme de Língua Não Inglesa e César de Melhor Estréia de um Diretor (Philippe Claudel) e de Melhor Atriz Coadjuvante (Elsa Zylberstein).
Depois de ver 'Não Se Preocupe, Estou Bem!' e 'Não Minha Filha, Você Não Irá Dançar' vejo em 'Há Tanto Tempo Que Te Amo' um fim de uma trilogia infindável. A trilogia da família, da dor da família. E não apenas a dor por si só, mas como saber conviver com ela e o que podemos esperar do sofrimento alheio, que muitas vezes está mais próximo do que podemos (e queremos) acreditar. Certamente há muitos outros filmes com polêmicas familiares e fraternais (outro relativamente recente e altamente recomendável é 'Reis e Rainhas' de Arnaud Desplechin), porém recentemente vi esses 3 que me fizeram pensar em um cinema pensado, sentido, belo, de atuações marcantes e histórias edificadas em cima de nossa fragilidade mais indefesa: o sentimento, fraternal.
Há uma crise na educação, como visto em 'Entre os Muros da Escola' e certamente há uma crise na instituição da família. E do mesmo modo que na educação, isso não é um "privilégio" dos franceses, é um problema mundial. Não há mais divisão territorial que demarque onde tem e onde não esse tipo de problema. É uma avalanche que não sabemos onde começa e nem onde terminará. Não sei se há falta de religião e de conversa ou uso de muita tecnologia, não sei mesmo. Mas é mais e mais comum ver que não há mais irmandade presente nas relações familiares ou mesmo fora da árvore genealógica, tampouco igualdade ou liberdade. Em 'Há Tanto Tempo Que Te Amo' o que vemos é uma familia tentando se refazer. Ou melhor renascer.
A obscura Juliette volta à sociedade após 15 anos. A prisão foi uma fuga. A prisão não prendeu, a deixou ausente de um mundo que continuava a viver, e não sentiu a sua falta. Não por ela ser inexpressiva ou inútil mas por não ter força para viver. Se estivesse aqui fora, terminaria como o oficial que sonhava com o rio Orinoco. Ele mesmo que disse gostar tanto de fontes, da água, dos rios, e a Sra. Fontaine chegou a ser um rio, mas o seu nome já a avisaria do que se tornaria, uma simples fonte, de onde a água jamais sairá. Somente sua família seria capaz de fazê-lo, mas nem eles ela queria encontrar.
Sua prisão tem um motivo doloroso e que só ela saberia explicar o motivo. Ninguem sabe porque. Nem a força da fraternidade para entender ou tentar ajudar. Não havia ajuda. Lea, sua irmã a resgata e com seu marido, seu sogro e suas duas engraçadissimas filhas aos pouco se tornam seu novo porto seguro. Sua culpa, se é que podemos chamar assim, parece acalentada por pessoas que há muito tempo a amam, mesmo nunca a tendo visto. Os 15 anos da prisão foram como uma gestação prolongada de onde ela sai de um ventre de muros e encontra o mundo real, de onde ela não deveria ter saido, mas precisou.
É impossivel falar desse filme sem citar spoilers. Portanto pararei de falar. Fica minha recomendação: veja "Há Tanto Tempo Que Te Amo". Uma história sentimental, tocante, fria e em alguns momentos hilária, principalmente com as crianças vietnamitas. Kristin Scott Thomas dá um banho de interpretação, fazendo-nos encarar a vida de Juliette como uma vida comum, ordinária, de uma pessoa que poderia ser nossa irmã. E poderia mesmo. E não importa o que aconteça, a justiça sempre acontecerá. Só precisamos fazer algo. Amar quem você realmente ama, com todas as forças, mesmo que seja por muito tempo. Tempo bastante para pensarmos que não amamos mais. Persista.
Só 'À la Claire Fontaine' para nos dar um pouco de esperança. Canção infantil que certamente inspirou o nome desse lindo filme. Também parte da trilha de 'O Despertar de uma Paixão', onde só a beleza da música para nos deixar bem. Melhor do que a vida nos deixa. Para ouvir, veja a postagem do tocante filme estrelado por Naomi Watts e Edward Norton.
Vitor Stefano
Sessões
Engole o mundo, senão o mundo te engole.
ResponderExcluirGostei do texto!
M.M.
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