DiretorAs

Quando pensei nesse tema foi após perceber que um dos maiores candidatos a vencer o Oscar de 2010 é 'Guerra ao Terror' (The Hurt Locker), dirigido pela diretora Kathryn Bigelow que nenhuma mulher venceu o Oscar de melhor Diretor. Nunca. E ainda pior, só três foram indicadas ao prêmio até hoje. As que bateram na trave foram: a italiana Lina Wertmüller com 'Pasqualino Sete Belezas' de 1975, a neozelandesa Jane Campion por 'O Piano' de 1993 e a filha de Francis, Sofia Coppola com 'Encontros e Desencontros' de 2003. Verdadeiras Joanas D’arc do mundo machista do Cinema.

A repercursão do filme de Bigelow está exatamente por se tratar de um filme de guerra (reconhecidamente um tema masculino) mostrado pela perspectiva do ser humano, das famílias e os sentimentos mais puros do ser humano em um clima de terror e pavor. A visão não é feminista, porém não é a machista de explosões de minas terrestres, tiros de metralhadora incessantes, helicópteros sobrevoando e amedrontando os civis do Iraque. Ela consegue entrar nos personagens sem mostrar uma amputação. O que foi amputado pela foi o cérebro. Quem sabe a Academia não premie a primeira mulher para o prêmio de Melhor Diretor e amenize essa lacuna que ainda persiste em resistir. Ela dirigiu os filmes: 'Caçadores de Emoções', citado por Gui Pádua em nossa entrevista com o paraquedista e 'K-19: The Widowmaker', um filme de ação com Harrison Ford. Amadureceu.


No Brasil tivemos a Carla Camurati como grande iniciadora da nova Retomada do Cinema Nacional com o lançamento de Carlota Joaquina em 1995, que fez um sucesso estrondoso com participação em mais de 40 festivais. Infelizmente a continuação de sua carreira não foi maravilhosa na direção de filmes como Copacabana, Madame Butterfly e Irma Vap. Tomara volte logo aos bons tempos.

A nossa maior diretora feminina da atualidade é Laís Bodanzky. Apareceu nacionalmente em 2001 com o drama social de ‘Bicho de Sete Cabeças’, dirigindo Rodrigo Santoro como protagonista. Venceu os prêmios de melhor diretora dos Festivais de Brasília, Recife e do Grande Prêmio BR de Cinema. Continuou a carreira sólida, porém sem o mesmo sucesso, com o longa ‘Chega de Saudade’.‘As Melhores Coisas do Mundo’ tem estréia prevista para 2010, com grande elenco que conta com Denise Fraga e Caio Blat. Também foi a realizadora do documentário ‘Cine Mambembe – O Cinema Descobre o Brasil’ e do curta ‘Cartão Vermelho’. Nas 'horas vagas' ela também ensina a fazer filmes no site Tela Brasil. Que continue nessa estrada de ladrilhos amarelos, como em 'O Mágico de Oz'.


Internacionalmente há algumas diretoras fazendo muito sucesso, além de Bigelow. A peruana Claudia Llosa foi recentemente premiada no Festival de Berlim com o Urso de Ouro e em outros 10 prêmios pelo mundo apenas com o seu segundo filme - ‘A Teta Assustada', um filme pesado que aborda temas ligado à tradições dos indios e sobre a doença enclausurada nas mentes das pessoas. Seu primeiro longa é ‘Madeinusa’ que não passou por aqui. Promissora.

Francis Ford Coppola além de produzir grandes clássicos como Apocalipse Now e a trilogia de O Poderoso Chefão, tem em Sofia Coppola seu maior prêmio. A norte-americana estreou com ‘As Virgens Suicidas’ em 1998, depois o sucesso que lhe rendeu a indicação ao Oscar por ‘Encontros e Desencontros’, dirigindo Bill Murray e Scarlett Johansson em uma história lindíssima e sua última produção foi o fraco ‘Maria Antonieta’ estrelado por Kirsten Dunst. Lançou 'Um Lugar Qualquer' e levou o Leão de Ouro por isso. Tem grande talento para filmes dramáticos e com assuntos polêmicos. Certamente seu sucesso será ainda maior, porém dificilmente chegará no prestigio de seu pai.


As próximas diretoras citadas são minhas prediletas e isso não se deve ao fato de ambas terem tido filmes produzidos pela El Deseo, dos irmãos Almodóvar. A primeira é Isabel Coixet que antes de começar a carreica como diretora, era publicitária. A espanhola teve no maravilhoso e denso ‘A Vida Secreta das Palavras’ com Tim Robbins foi o ápice da diretora aqui pelo Brasil. Depois dirigiu um curta para o projeto ‘Paris, Eu Te Amo’ e o seu mais recente sucesso foi ‘Fatal’ com Ben Kingsley e Penélope Cruz que vivem em um romance tórrido entre professor e aluna, além de abordar a crise de meia idade, problemas de saúde e o amor. Lindos filmes no curriculo e a habilidade de tocar em assuntos com a sutileza de uma pluma. Cresce a passos largos.

A outra é a nossa hermana Lucrécia Martel, que só não faz chover em 'O Pântano' de 2001. As relações humanas são levadas ao limíte em situações delicadas e controversas. Com ele venceu o Prêmio Alfred Bauer, também no Festival de Berlim. Segue a mesma linha em seu mais polêmico trabalho: 'A Menina Santa'. À la Almodóvar em 'Maus Hábitos', ela faz da trama um drama sexual entre celibatários e crianças. Premiado na Mostra SP com Menção Honrosa. Seu último trabalho foi 'A Mulher Sem Cabeça' que passou por aqui sem fazer o mesmo barulho que os anteriores. Continua sua jornada chocando e tocando nos assuntos errados do jeito certo.

Só citei algumas que entendo serem as melhores em atividade. Certamente temos muitas outras representantes diretores do sexo feminino que mostram que mulher no cinema não é sinonimo apenas de atrizes bonitas. Há muito mais dentro de mentes femininas do que masculinas, sem sombra de dúvidas. E não é um discurso feminista, mas a intenção é amenizar o abismo existente entre prestígio com os diretores homens e mulheres. Que Bigelow os grandes diretores masculinos como seu ex-marido Cameron, Tarantino, Eastwood, Irmãos Coen, Soderberg, ou tantos outros já mega premiados.

Vitor Stefano
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Comentários

  1. Isso é para os machistas de plantão verem, que acima de tudo, mulher tambem pode fazer um ciname decente (:
    Belo post cara. Como eu disse no twitter, se Guerra ao terror ganhar globo de melhor filme drama, vai até ser um incentivo para o cinema conseguir mais mulheres diretoras (:
    abrazz.

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  2. É mesmo né? Machismo ainda existe e é uma coisa que a nossa sociedade ainda discute. Fazia um tempo que não me relacionava com o tema. 2010 e ainda falar das particularidades de gênero!? Hahahaha!

    Lembro aqui a grande Tata Amaral que surpreendeu o mundo com o belo "Céu de Estrelas".

    Leandro Antonio

    Sessões

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  3. Muito bom o post e as diretoras mencionadas, mas tenho uma observação...
    A Carla Camurati é a pior diretora, que já surgiu no cinema brasileiro e Carlota Joaquina é um dos piores filmes.
    Ela estava na hora certa, no lugar certo e com o apelo certo, mas o filme simplesmente não tem qualidades.
    A bem da verdade ela evoluiu nos filmes seguintes, que também são muito ruins, mas melhores que a estreia.
    O cinema brasileiro tem dezenas de grandes cineastas, além da Laís, que você lembrou bem. Temos Suzana Amaral, Monique Gardemberg, Ana Carolina, Daniela Thomas, Lúcia Murat, Sandra Werneck, etc, etc, etc
    Aliás, aqui no Brasil, mulher dirige tão bem quanto homem. Se não melhor.
    Parabéns pelo blog!
    Abs!!!

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  4. Parei neste blog fuxicando o Twitter de Lais Bondansky e me encantei com o texto. Sensacional! Concordo com o comentário acima. Nós mulheres no Brasil estamos dando um show na direção. Homens talentosos serão sempre bem vindos mas é bom puxar um pouco de sardinha pro nosso lado.

    Parabéns pelo blog.

    Voltarei sempre!

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