As Melhores Coisas do Mundo



Nome Original: As Melhores Coisas do Mundo
Diretor: Laís Bodansky
Ano: 2010
País: Brasil
Elenco: Fernando Miguez, Denise Fraga, Fiuk, Caio Blat, Ananda Carvalhosa, Gabriela Rocha, Zé Carlos Machado e Paulo Vilhena.
Prêmios: Melhor Filme, Filme pela Crítica, Diretor, Direção de Arte, Fotografia, Roteiro, Ator (Fernando Miguez) e Edição de Som no Cine PE.
As Melhores Coisas do Mundo (2010) on IMDb


Todas gerações da juventude já foram retratadas na história do cinema. Mas porque essa fase da vida sempre é motivo de retratação? Sempre foi o momento de conhecer novidades, explorar experiências, querer a fase adulta, fugir da infância. Mas a primeira decepção de um ser humano quase sempre é a mesma: porque eu cresci? A identificação com os problemas com as obrigações e responsabilidades faz com que os adolescentes tornem-se temerosos à vida real que os adultos são obrigados a seguir.

Mano é como qualquer maninho por aí. Novo, cheio de sonhos, idéias e quereres. É você, foi você, é seu filho, seu neto. Ele está mais próximo do que você imagina. Ele só quer ser mais um, pegar umas menininhas, curtir com os amigos, trocar uma idéia, viajar, tocar um instrumento, trocar confissões com o irmão. Mas descobrir que os pais se separarão porque o pai vai morar com outro homem muda toda a rotina da casa. Ninguem pode saber. Nem ele queria saber. Aliás, nenhuma família constituida gostaria. Mas a vida não é feita do que queremos.

Pedro, irmão de Mano, retrata um dos maiores problemas da juventude atual. A depressão atingi cada vez mais gente cada vez mais cedo. Problemas de relacionamento com a família e com a namorada fazem com que jovens embarquem em rumos dolorosos e improváveis. A melancolia divulgada em um blog de auto destruição poética é o escape à uma vida que não deve ser vivida. É o alerta para que pais e educadores ouçam, busquem entender e enxerguem a realidade por trás de cabelos na cabeça cabisbaixa que escondem os olhos vermelhos de tanto chorar de dores que não deveriam ser vividas por ninguém, quanto mais por jovens.


Laís Bodanzky consegue com “As Melhores Coisas do Mundo” um retrato primoroso da juventude atual, mostrando uma grande diversidade de estilos em um mesmo lugar, assim como a vida real. Os jovens de classe média podem se ver na tela. São eles com voz. E os pais, verem que a vida dos filhos vai muito além de cadernos, computadores e amigos. Retratar uma juventude transviada aos olhos dos pais reacionários não seria mostrar a verdade. Denise Fraga, como mãe dos meninos, está estupenda, entre a ética de professor e mãe sem entender o que acontece, mostra o quanto é real o afastamento entre pais e filhos na vida real.

“As Melhores...” deixa detalhes marcados na mente. Como não lembrar do olhar da Carol mudando de direção no momento do beijo, no tempo de Mano parado enquanto o mundo segue seu ritmo incontrolável. Seja com o bullying inconsciênte, no ônibus indo e voltando, ao ouvir Something. É um dos melhores filmes de 2010, com uma história que podemos ouvir todos os dias, recheado da técnica perfeita aliada a um roteiro dinamico, atual. Ela prova que o cinema brasileiro é mais do que desgraça, mais do que o sertão árido e perverso, mais do que uma melancolia infindável. O cinema brasileiro pode ser grande. É grande!

Se “A Rede Social” retrata a geração Y com propriedade, “As Melhores...” retrata o que será a W, dialogando com naturalidade e perfeição sobre essa juventude média, excluída, criativa em criar mundos exclusivos e impenetráveis. Já vimos rebeldes, hippies e revolucionários. Agora é a vez de ouvirmos as vozes dos jovens sem voz, sem esperança, sem força. Cada um em seu blog, em seu mundo virtual, em seu diário, vomita medos e insegurança. Comer e sobreviver é o que nossa juventude faz, com a força de uma ameba contra um dinossauro, como um bichinho virtual, apenas com a certeza que a vida terá o fim, mesmo que o suicídio seja a via mais fácil (ou difícil) para chegar lá.



O elenco jovem cheio de surpresas ótimas e atuações precisas, até porque eles estão ali interpretando a si próprios na vida real. Miguez é destaque como Mano, otimamente acompanhado por Gabriela Rocha como Carol. A grande surpresa fica pela surpreendente atuação de Fiuk como o melancólico-suicida Pedro. Seu estereótipo ajuda a compor o personagem desconexo e confuso. Essas “crianças” amparados pelos “vovôs” Denise Fraga, Caio Blat e Paulo Vilhena formam um elenco harmonioso. Laís novamente consegue emocionar, nos envolver. E cada vez que toca Something, é impossível não ficar ouvindo.

Vitor Stefano
Sessões

Comentários

  1. Achei um filmaço. Digno de toda apreciação. A duplaba Bondansky-Bolognesi arrasa mais uma vez com um filme arrojado, com tema atual e de interesse geral. Mostra o universo adolescente de forma muito própria. Realmente não entendo quem fala que o filme é ruim.

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