Dossiê Glauber Rocha

Um povoado de Eldorado vivia um momento estranho após a eleição de Dr. Paulo. Outrora Paulo foi considerado um Câncer da cena política nacional dos início dos anos 60. Tudo por conta da Cruz na Praça retirada sem consulta da comunidade, um patrimônio destruído para a construção de um viaduto para a passagem da burguesia sem ter que se misturar com a plebe.

Vários motins foram criados. Tivemos Cabeças Cortadas, muito sangue derramado, como o burguês gosta de dizer que política se faz com suor e sangue. Mas, Claro, o sangue que rola jamais é em vão. Famílias choraram a sua destruição, mulheres e crianças foram poupadas, mas não tiveram chances. As Armas e o Povo não foram suficientes para contornar o massacre que se viu no chão de Eldorado. Mas nas próximas eleições, Dr. Paulo não teria chances. Sim, a democracia ainda existia. Ele fugiu e foi desfrutar com sua família e prole política no distante Amazonas. Amazonas, Amazonas, nunca mais foi o mesmo. Foi o Pátio de sua transformação. Paulo agora é José, burlou o sistema e mudou de estado.

José deixou o bigode crescer, mudou a voz e com sua habilidosa prosa conquistou o governo. Maranhão 66 está na história. José foi eleito com quase unanimidade. O povo viu nele a salvação. Mal sabiam o que estaria por vir. Ele não só burlou o sistema, ele é o sistema. E a democracia que existiu até 66 foi exterminada, como se um Leão de Sete Cabeças imponente e estupidamente forte que inescrupulosamente andasse pelo Sertão vazio, desértico e sem dono. O cacique é Paulo, aliás, é José. O povo na miséria sem casa, sem comida, sem saúde, sem educação enquanto o Rei do Sertão vive em seu palacete, abastado, regados a champagne e caviar.

Porém em 1986 Antônio surge do Sertão. Um mártir, um guerreiro. O Salvador. José começa a se incomodar com a força que Antônio ganha junto aos pobres e esquecidos pelo sistema. Parece um grande acontecimento, um novo líder para os sem liderança, sem perspectivas. Aos sem vidas. Um duelo se forma. A força do ditador e a força do povo com Antônio. Há um clima de embate dos maiores já vistos, maior que a guerra entre Deus e o Diabo na Terra do Sol. A Terra em Transe aguardando a maior batalha de todos os tempos.

José contra Antônio. Golias contra Davi. O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro. Uma tempestade aproximou-se anunciando o Barravento, o momento de violência. O embate foi na mansão do ditador. Em combate sangrento, nosso Santo Guerreiro com seu povo conseguiu destruir a base política de José, matou todos sem dó, arrancando-lhes as cabeças. José conseguiu safar-se, por muito pouco. Um duelo que por toda A Idade da Terra jamais veremos outro. Jamais é muito forte pois José hoje encontra-se na capital e continua enganando a todos. Melhor fazer como Letícia em Marrocos, fugir para não ver tamanho absurdo ou voar como uma Paloma, Paloma pelos ares.

Nosso Santo Guerreiro morreu e foi descansar na Terra do Sol, deixando paz ao povo do Maranhão, do Amazonas, de Eldorado. Infelizmente em Brasília ainda não. Mas uma hora alguém o destruirá completamente. Essa é a História do Brasil da nossa América Latina, Diabos no poder, Povo sofrido. Tudo aos olhos Di Glauber, o nosso gênio que colocou até Jorjamado no Cinema.

Um singela homenagem do Sessões a Glauber Rocha, nosso Rocha Que Voa.

Vitor Stefano
Sessões

Comentários

  1. Andreia @andreia_sleite20 de abril de 2010 às 12:17

    Nossa... aplausos! Mto bom post... q inspiração companheiro! Glauber merece uma BAITA homenagem dessa.

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  2. Glauber Rocha é inspiração de muitos e espelho de poucos.
    Arrisco dizer que o Vitor, aqui com seu trabalho e pesquisa sobre Glauber Rocha, inaugura no Sessões um novo ponto da crítica de qualquer coisa. Muitas publicações de cinema tornam-se toscas, pois só falam de aspectos técnicos, ritmo e no fim das contas conseguem resumir quase tudo com os targets bom ou ruim. E detenho na minha cabeça oca, uma ideia de que a apreciação e o comentário de devem ter outras funções que vão além disto, além da mera recomendação ou chatice pseudointelectual. E é isto que quero dizer a você, amigo Vitor, seu texto foi além. Parabéns, você despertou minha emoção agora.

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  3. Vitão,
    Delirante e genial. Não tenho mais o que dizer.

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  4. Obrigado aos elogios.

    Glauber tinha um lema: uma idéia na cabeça, uma câmera na mão.

    Ele nos inspira a: um ideal na cabeça, uma poesia no papel!

    Ave Glauber!

    Vitor Stefano
    Sessões

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  5. Adorei a homenagem!

    Glauber é muito falado e pouco visto.

    EM BH eu encontrei seus filmes em UMA só locadora, lá no Othon Palace, especializada em filmes clássicos e de arte.

    Abs do Lúcio Jr.

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  6. Taí um coisa que eu também percebo, mas se fala de que se vê Glauber, uma obra para ser vista e revista. Aqui em São Paulo não é muito diferente. Acaba se restringindo a locadoras de segmento e restrito quase que só ao meio cinéfilo-cult.

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