Dossiê Claudio Assis

"Imbecil! Você é um escroto. Fodam-se vocês todos. Eu falo o que eu quiser falar. Tomem no cu".

Desse modo Claudio Assis em 2004 se dirigiu a Hector Babenco. Porque? Porque Babenco venceu como melhor diretor com seu globowoodiano 'Carandiru' no Grande Prêmio TAM de Cinema Brasileiro daquele ano, enquando Claudio concorria com seu ótimo 'Amarelo Manga'.

Cláudio Assis é assim. Um homem de palavra, de opinião formada e forte. Não se rebaixa, apesar da baixaria, tem um estilo próprio de fazer o cinema, sempre agregando elementos da cultura pernambucana em seus projetos. O pernambucano não apenas xingou Babenco, ele se rebelou contra um cinema de aparência e de bom-mocismo que estava tomando conta do cinema desse país. Claudio faz filmes para poucos, talvez para ninguem além dele mesmo. E mesmo assim o faz com grande qualidade, apelo social e diversisdade cultural. Ele recoloca o cinema nordestino em um patamar de grande qualidade de onde já vieram gênios como Glauber Rocha.

Sua filmografia não é longa. São apenas 2 longas metragens lançados ('Amarelo Manga' e 'Baixio das Bestas'), porém eles tem uma força que já merecem destaque na história da produção audio visual brasileira. São os curta/médias/documentários feitos pelo pernambucano: 'Henrique, um Assassinato Político', 'Soneto do Desmantelo Blue', 'Opara, Tão Grande Quanto o Mar', 'Texas Hotel', 'Vou de Volta' e 'Um Passo a Frente e Você Não Está Mais no Mesmo Lugar'. Tambem já fez participações em filmes como ator, por exemplo em 'Madame Satã'. É um artista multifacetado de uma única face: o cinema pernambucano!

A intensidade de Claudio é tão grande que artistas de outros ramos, como Paulinho do Amparo, lider da Banda 3 Et Records entre outras representações artisticas, criou o mini-curta de animação, intitulado como trailer de 'As Mortes de Claudio Assis' que mostra a personalidade de nosso homenageado com humor e sarcasmo.


O primeiro longa do diretor, 'Amarelo Manga' causou muita polêmica pois desestruturou o cinema que estavamos acostumados a ver. Uma abordagem direta, com uma temática do dia a dia, grande elenco e um roteiro de causar náuseas. No bom sentido, pois nos abre a mente para os problemas que a periferia sofre, além de termos que ter um estômago forte para aguentar ver a crueldade do ser humano estampada na tela grande. Com Matheus Nachtergaele, Jonas Bloch, Dira Paes, Chico Diaz e Leona Cavalli em interpretações premiadas e memoráveis, além de uma trilha sonora marcante. Um filme cru, mas com muita força. Esse poema define bem o que é 'Amarelo Manga'.
"O ser humano é estômago e sexo
E tem diante de si a ordem
de ter obrigatoriamente de ser livre
Mas ele mata e se mata
com medo de viver
Por isso meus olhos estão cegos
para não enxergar as falhas desses pecadores
Meus ouvidos escutam uma voz que diz
Padre, morrer não dói
Estamos todos condenados
Eternamente condenados
condenados a ser livres"
A poesia faz parte do cinema assissiano. Em 'Baixio das Bestas' também temos alguns momentos poéticos, além de ser um filme mais complexo, pelo roteiro e pela narrativa. O filme conta novamente com as ótimas presenças de Matheus Nachtergaele e Dira Paes, acompanhados agora de Mariah Teixeira, Fernando Teixeira e Caio Blat, de Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos. Houve um certo amadurecimento cinematográfico de Assis. Apesar da temática difícil (abuso de menores) Claudio consegue com uso de simbologismos mostrar ao que veio com 'Baixio'. A presença marcante do maracatu na película é um desses simbolismos que amenizam a dureza da abordagem. O Maracatu Rural é uma representação folclórica pernambucana onde os Cablocos de Lanças dançam a música ritmada com tambores. Uma força que só o Pernambuco tem e que Claudio Assis não poderia deixar de fora.


Ambos são filmes complexos, difíceis e regionais, porém a abordagem de temas de nossa sociedade mereçam que um cineasta como Claudio Assis mostre-nos claramente a realidade que nos é encoberta. Que toda essa força que ele tem, gere muito mais filmes que nos pegue pelo estômago e deixe claro que tudo não é nada e a terra é apenas um lugar para o qual um dia voltaremos, se tivermos sorte. A mando de Claudio, Mateus Natchergale quebra a quarta parede e diz: "Sabe o que é o melhor do cinema? É que no cinema tu pode fazer o que tu quer”. E com Claudio Assis na direção pode. Sou fã de seu trabalho e agora temos que esperar por 'Febre do Rato'.

Vitor Stefano
Sessões

Comentários

  1. Eu só assisti Amarelo Manga dele, e no cinema, e lembro de ter saído da sala com a palavra "uau!". É uau.

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  2. Acredito que eu possa dar minha opinião, sem ser julgada certo?!
    Tadinho, ele é uma pessoa deprimida, que so enxerga o sucesso agredindo os olhos das pessoas. ODIEI Amarelo Manga!
    Com certeza ele ja se deu muito mal na vida, para fazer esse tipo de filme.

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  3. Claro que pode She.
    O Sessões é democrático e aceita todos tipos de opinião. E você acabou esquecendo de dizer que você vomitou de tanto que 'Amarelo Manga' lhe causou nojo. Mas foi o que disse, talvez Claudio Assis faça filmes para ele, não para um público.
    Mas já que eles chegaram até nós, podemos julgá-lo como cinema. Que bom que comentou! =)
    Beijos meu amor!

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  4. 'Amarelo Manga' me remete a uma vagina com coloração castanha clara!

    M.M.
    Sessões

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  5. A primeira fala de baixio das bestas é:


    O Caio Blat se irritando com a molestação de uma menina que por fim estupra.

    "A bucetinha dela!!!!!!!!!"

    Obra-prima.

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  6. Oi Vítor,
    Sempre defendi que a arte deve promover reações ou não serve para nada.
    Claudio Assis provoca ao ponto da náusea, por isso não deve ser ignorado. Mas não é algo que eu queira ver, quando vou ao cinema.
    Depois de 'Amarelo Manga' não tive interesse em ver o 'Baixio das Bestas'.
    No entanto, aprendi a respeitar a sua opinião, Vítor. Por isso, vou olhar os filmes de Assis com mais atenção a partir deste seu post, nem que seja para reforçar que não gostei do que vi...
    Parabéns por fazer posts que provocam reações.
    Abs!!!

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  7. Incrível o relismo denunciador de "Baixio das Bestas" é um filme brilhante e é preciso estar preparado para entender a proposta do cineasta Claudio Assis, as vezes sentimos um estranho nojo e ao mesmo tempo entendemos que aquilo é real, é a nossa realidade, que muitos querem esconder, filme carnal e cruel como só a vida é, vemos um mundo real que a sociedade se recusa a ver...

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  8. Os filmes de Cláudio Assis não são filmes de entretenimento. Existe uma grande diferença entre o cinema e a música que são feitos para vender como entretenimento e o que é feito com caráter de denúncia social, de expor problemas que a sociedade esconde debaixo do tapete. Não assisti Baixio, mas assisti Amarelo Manga. A temática do Baixio lembrou-me um outro filme que trata da exploração sexual de meninas na região amazônica e a entrada delas dfinitivamente na prostituição. É evidente que cada diretor tem seu próprio estilo e não vou dizer que o de Cláudio Assis seja o meu predileto, mas valorizo o fato dele não esconder os problemas sociais e o comportamento dissumulado de algumas pessoas. Vale a pena analisar a obra.

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