Escritores da Liberdade
Diretor: Richard LaGravenese
Ano: 2007
País: Estados Unidos da América
Elenco: Hilary Swank, Imelda Staunton, Patrick Dempsey, Scott Glenn, Kristin Herrera, Mario Barrett, Hunter Parrish, Antonio García, Giovonnie Samuels
Prêmio: Humanitas Prize de Melhor Filme - empatado com 'Vênus' de Hanif Kureishi.
É na cena em que a professora G propõe a dinâmica da "linha vermelha" que se constrói a beleza a se extrair de Escritores da Liberdade. Mais do que no momento preciso e pleno em que se realiza o início da tranformação - quando a professora intervém em uma rixa entre latinos e afro-americanos relacionada com um desenho de deboche. Quando os alunos se dispõem face-a-face diante de suas mazelas comuns haverá a queda de seu orgulho, o surgimento de outro sentimento que aos poucos será moldado corroborando para a formação de um novo grupo engajado no bem comum. Na escola Wilson será realizado, então, um feito que ficará marcado nas vidas dos alunos e da comunidade local.
O filme, oportunamente, explorará a comoção através da possibilidade que se abre quando a dedicação toma conta da vida de alguém - no caso a professora Erin Gruwell. Eis o sucesso cinematográfico: bilheteria e crítica aprovam e o filme emplaca. O livro no qual a produção se baseia é um recorte dos diários dos alunos daquela High School, é um pedaço da vida de muitos alunos que viveram uma experiência absoluta e positiva. Entretanto, o filme se dirige elegantemente para uma abordagem digna dos padrões hoolywoodianos, sem densidade extremada. Então, será difícil através do filme certificar-se da dimesão socio-cultural ou mesmo antropológica daquela proposta, não será possível distinguir o feio do belo pois a maquiagem plástica de uma superprodução produz àquela sensação de bem-estar - identica a quando ouvimos àquela música no rádio com quatro acordes e palavras exaustivamente repetidas. Escritores da Liberdade é um belo bordão, contagia, entontece, desperta. E é ai que se encontra a chave para uma boa interpretação do filme: baseado em uma história real. A dimensão que o filme não traz poderá ser alcançada a mediada que nos aproximarmos da história que provou grande alvoroço nos E.U.A e nos seus desdrobramentos sociológicos e educacionais.
A escola em questão, em 1994, já é alvo de um programa do governo estadual que prevê a inclusão de jovens de origens etnicas diversas, estrangeiros. A quietude que a escola saboreava é invadida por um surto de violência e segregação capaz de causar descrétito total na diretoria e nas autoridades competentes. A professora G, em início de carreira, ficará com a sala 203 - a problemática - e então irá se deparar com a falibilidade do método tradicional: "qual o motivo desse aprendizado?", "por que os alunos deveriam respeitá-la?". Sob esse clima nebuloso de violência e violação a Srta. Gruwell precisará recorrer a um novo plano de ação.
A partir do reconhecimento das limitações do trabalho que visava praticar em sala, a professora irá procurar uma alternativa de aproximação com àqueles jovens: seu plano será esboçado diante da sua surpresa ao perceber que seus alunos nunca tinham ouvido falar sobre o Holocausto. Sua postura passará a uma tentativa mais diversa, sua pedagogia versará com o que podemos aproximar com o método Paulo Freire (o método Paulo Freire consiste no aprendizado baseado na ação e reflexão, considerando a práxis como ferramenta tranformadora). Sua aula de inglês irá flertar com a livre escrita dos estudantes em seus diários: evoca-se o espelho nas valorosas reflexões impressas nos títulos "Noite" de Elie Wiesel, "O Diário de Anne Frank" e "O Diário de Zlata". Seu programa será direcionado para o elemento fundamental do currículo: a tolerância. Ao perceberem a opressão em comum os alunos irão integrar-se de maneira gradual e formarão um conjunto com objetivos regulares. O empenho da professora supera o comum, faz desintegrar, inclusive, seu casamento, sua vida pessoal: será possível tamanha doação sem perder os trilhos da estrada que se escolhe na vida privada?
A ação de Erin terá longo alcance: conseguirá a resposta de várias cartas enviadas a Zlata Filipovic e a visita da mulher que abrigou a família Frank na Segunda Guerra Mundial, Miep Gies. Isso será possível por conta da mobilização da turma de alunos interessada em encontrar sentido para suas vidas e para seu aprendizado.
É uma proposta que reage ao determinismo e integra o sujeito em sua dimensão social. A professora G promove a criação de um espaço de crítica e desenvolvimento pessoal coerente com o contexto de seus alunos. Há uma dimensão antropologica a se observar e um "sonho" a ser realizado. Haverá problemas ao transpormos esse projeto em outras realidades, mas haverá consenso em dizer que essa esperança é o que balança os corações das minorias, nas palavras de Martin Luther King:
"Eu tenho um sonho em que meus quatro pequenos filhos vão um dia viver em uma nação onde elas não sejam julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!"
E Mano Brown:
"Queria que Deus ouvisse a minha voz e tranformasse aqui num mundo mágico de Oz..."
Serão esses, inspirados pelos Freedom Rides, os Escritores da Liberdade encarnados nesta produção. Uns que rompem com o sistema de reprodução das desigualdades e da segregação nos espaços públicos, nos espaços de educação. Uma alternativa a ser visualizada para encontrar o lugar da escola na falência das instutuições, na queda das tradições e nesta profunda modernidade líquida. Neste lapso será que nós poderemos fazer uma visita constante a um "museu da tolerância"? Encontrar em nosso passado ou em nosso futuro uma possibilidade plena de encontrar abrigo para nossas diferenças? Serão esses novos dias!
Mateus Moisés
Sessões
Vi cenas deste filme hoje lá na pós. E lá vem trabalho!
ResponderExcluirLeandro Antonio
Sessões