The Final Year


Nome Original: The Final Year
Diretor: Greg Baker
Ano: 2016
País: EUA
Elenco: Barack Obama, Samantha Power, Ben Rhodes, John Kerry

The Final Year traz o último ano da presidência de Barack Obama e sua equipe na condução da diplomacia norte americana. Destacam - se entre seus assessores o conselheiro para comunicações estratégicas (Ben Rhodes e Susan Rice), a embaixadora dos EUA na ONU (Samantha Power) e o Secretário de Estado (John Kerry).

Este núcleo, juntamente com o presidente, dará as coordenadas dos EUA em questões internacionais.

Antes de dar alguns exemplos que o filme de Greg Baker apresenta convém retomar a longa tradição na política externa estadunidense que forma duas linhas de pensamento e atuação no cenário internacional. Os idealistas e os realistas. Grosso modo, os primeiros se agrupam no partido democrata e, os outros, no partido republicano. 

A noção geral do pensamento idealista na visão norte-americana é a de que o uso da força não deve ser a tônica nos assuntos internacionais. Os idealistas acreditam que em questões da humanidade deve prevalecer a defesa de valores que são universais como o diálogo/democracia, os direitos humanos, a cooperação internacional e o multilateralismo. Por óbvio, esses valores sendo universais devem ser defendidos pela nação mais poderosa do sistema. A lógica, portanto, do papel dos EUA para os democratas é a de que os americanos devem liderar por meio da defesa de valores universais, e estes, por sua vez, são a motivação de toda ação diplomática. Essa é a ideia por trás da política externa sob Obama. 

Criticamente, o excepcionalismo americano se reveste em  uma forma de atuação diplomática em que os interesses nacionais deste país se equivalem aos interesses do mundo inteiro. E esse ideário conduz necessariamente à liderança e a segurança internacionais.

O retrato mais cabal disso no filme fica a cargo da embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Power, professora de Harvard que foi convidada por Obama à se aproximar da Casa Branca. O filme explora isso com cenas da família em que a embaixadora se divide entre ser mãe e diplomata da maior potência bélica do planeta. A sua missão à Nigéria na defesa da campanha pelo retorno das meninas que foram sequestradas pelo Bolo Haram. No seu discurso sobre a concessão de cidadania para imigrantes nos EUA e etc. Samantha Power tem vários livros escritos (recomendo O homem que queria salvar o mundo sobre o embaixador da ONU Sérgio Vieira de Melo, morto em um atentado terrorista no Iraque em 2003) é uma especialista em assuntos internacionais e pessoalmente deve ser extremamente agradável. Porém, no cargo de embaixadora ela é representante de um país cuja história não lhe outorga muitas condições morais de se valer de conceitos idealistas e pretensamente universais.

Ben Rhodes, o conselheiro de comunicações estratégicas, é mais pé no chão. Mais crítico que os demais, se irrita com a cobertura pela imprensa de seu país acerca de temas mundiais que, a seu juízo são omitidos em favor dos twitters de Donald Trump. É também o que acreditava mais piamente na vitória de Hilary Clinton e que mais se decepciona com o resultado eleitoral.

John Kerry, o Secretário de Estado, é um misto de otimismo e pragmatismo. Sua missão para tentar uma saída política para a guerra civil na Síria é incansável, mas encontra tenaz resistência em Sergei Lavrov, Ministro das Relações Exteriores da Rússia e representante da realpolitik contemporânea.Sua campanha na questão do clima também parece sincera. 

O presidente Barack Obama percorre vários países em seu último ano de governo. O documentário, em momento de grande altivez, apresenta o discurso de Barack Obama lembrando-se das vítimas de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, e durante a Guerra do Vietnã. O reconhecimento dos erros cometidos no passado dá um toque de sensibilidade ao filme, além de convidar à reflexão sobre quantas vezes líderes reconheceram desastres históricos.

Obama é o símbolo dessa noção idealista de política externa e como seus assessores exerceu sua presidência se pautando por eles. 

Um outro elemento importante é que o filme deixa a sensação de que ninguém naquela equipe estava preparada para a vitoria de Donald Trump. Quiçá, porque estavam focados em deixar um legado em política externa, quiçá,porque não acreditavam que o impossível poderia acontecer.

O diretor Greg Baker teve acesso irrestrito à equipe que conduzia a diplomacia norte americana no último ano de governo. Esse registro, por si só, faz de The final year um documentário histórico. Mas em uma dimensão mais profunda o documentário mostra quantas mudanças ocorreram em dois anos de política internacional. Se há pouco tempo atrás o mundo caminhava para uma gradativa estabilidade, com o multilateralismo e a ONU no centro das questões mundiais, pouco tempo depois a instabilidade e o unilateralismo voltaram a ser um modelo de análise.

Em suma, pra quem gosta de política internacional The Final Year é um prato cheio. Além de ser um registro importante sobre uma presidência que via na diplomacia um instrumento de construção de consensos e estabilidade é um registro também de que algo está fazendo falta nos dias de hoje.

Fernando Moreira dos Santos
Sessões

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