Elle


Nome Original: Elle
Ano: 2016
Diretor: Paul Verhoeven
País: França
Elenco: Isabelle Huppert, Laurent Lafitte, Anne Consigny, Christian Berkel, Virginie Efira, Judith Magre, Charles Berling e Jonas Bloquet.
Prêmios: Globo de Ouro de Melhor Atriz (Huppert) e de Melhor Filme de Língua Estrangeira.


Cinismo. Violência. Mentira. Estranheza. Medo. Insanidade. Força. Excitação. Dor.
Incômodo.

Logo no começo vemos um gato observando uma cena de violência. Um estupro. Michelle foi violentada em sua casa e o agressor nada levou, deixando-a no chão. Ela apenas toma banho, se limpa, limpa a casa e não dá queixa à polícia. A brutalidade é impactante. Michelle é uma mulher com seus 40 anos e tem uma vida cheia de fantasmas e dilemas: uma mãe que vive com um garoto de programa, o filho que não cresceu e está prestes a virar pai – além de ser maltratado pela namorada, é dona de uma empresa de games e convive diariamente com uma gama de funcionários homens que duvidam de seu trabalho, tem um amante carente e machista – e marido da sua melhor amiga, vê seu ex-marido começar um relacionamento com uma mulher bem mais jovem e seu pai está preso por uma série de assassinatos que cometeu enquanto ela ainda era uma criança de 10 anos.

Essa é Michelle. Mas ainda não é o bastante e a cada aparição e flash back da cena do estupro, percebemos que ela é um ser humano em processo de redescoberta. Michelle acaba percebendo-se atraente aos olhos do vizinho. Ela ainda se sente desejada ao receber anonimamente um elogio do estuprador. Michelle se empodera de sua vida, do seu corpo, da sua mente forte, por uma vida cheia de agruras e de provações. Michelle parece uma heroína saída dos games sua empresa cria superando cada “chefão”, machista, abusador, oportunista, patriarcalista, opressor. Michelle é rodeada de pessoas amorais, assim como ela com exceção da melhor amiga, Anna, que é o único ser humano “normal” que acompanhamos.

Michelle não é obrigada a mudar exatamente pelo estupro, ela muda pelas circunstâncias da vida da qual ela é mestre de todas as escolhas.


Verhoeven fez um filme memorável, impactante e denso, mas sem perder uma pitada de humor negro. Do início ao fim ficamos entretidos com a trama brilhantemente costurada e com uma atuação incrível de Isabelle Huppert. O filme trata de assuntos tão complexos e a sua personagem principal faz parecer tudo muito fácil, ágil e reflexivo diante de suas atitudes e pensamentos. Michelle é digna de estudo. Uma mulher que sofreu e continua a sofrer todos os tipos de preconceitos e de opressão e não abaixa a guarda - e nem deveria. Não estamos num filme simples de redenção como parece, até porque o estupro foi apenas um acaso, um evento isolado - apesar da complexidade desse ato a uma pessoa - em sua vida já cheia de agruras. É uma mulher que controla tudo e que por vezes sobe em um pedestal de cinismo e arrogância que faz com que tenhamos nojo e ódio misturado com pesar e com a torcida de que ela consiga sair viva e sã dessa jornada tão complexa. Um filme que flerta com o feminismo e com o machismo, e essa é a principal característica, deixa para que nós, espectadores, vejamos o que quisermos. O filme é incrível em sua direção, edição e nas atuações. É, com certeza, um dos melhores dos ultiúlt tempos. Huppert está fabulosa e Verhoeven no auge.

Vitor Stefano
Sessões

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