Dr. Jivago


Nome Original: Dr.Jivago
Ano: 1965
Diretor: David Lean
País: EUA
Elenco: Omar Shariff. Julie Christie, Geraldine Chaplin
Prêmios: Roteiro Adaptado, Direção de arte, Fotografa, Figurino e Trilha Sonora



Em 2015, eu e minha companheira fomos assistir ao show de David Gilmour na Pedreira Paulo Leminski no Paraná. Pegamos um táxi e, como de praxe, o taxista era reaça. Digo de praxe, para generalizar mesmo, porque afora as raras exceções os taxistas são conservadores. Este, porém, ia além: era um reacionário puro sangue. Logo de cara já foi nos perguntando qual era nossa posição política querendo nos enquadrar em um campo ideológico. Tergiversei e evitei que minha companheira entrasse na briga infindável que se iniciaria se aceitássemos a provocação.

Depois de despejar toda a sua filosofia adentrou o terreno do comunismo. O que considerei um desdobramento natural até. Citou todos os países comunistas ainda existentes: Cuba, Venezuela, Coréia do Norte, França(?) e falando que em nenhum desses a revolução tinha tido serventia.

Tentamos argumentar que não era bem assim. As revoluções eram processos complexos e, de fato, muitas vezes com capítulos pouco gloriosos, mas que traziam avanços e a própria história era uma sequência de marchas e contramarchas.


  Debalde. Logo emendou que era profundamente contrarrevolucionário. Para ele, era algo que nunca dava certo.Sempre acabava em ditadura. E se saiu perguntando se havíamos assistido Dr.Jivago. Meneamos a cabeça negativamente e ele olhou com ar de reprovação e, num tom um tanto professoral, lançou: assistam Dr.Jivago que vocês vão entender o que estou falando.

Este texto é a minha resposta àquele olhar de desprezo que recebemos em 2015.

Baseado no livro de Boris Pasternak, Dr. Jivago é um longa dirigido por David Lean sobre uma historia de amor que se passa durante o período revolucionário na Rússia em 1917. 

Se formos mais específicos, o longa remete ao fim da I guerra mundial indo, até a década de 1930, passando pela Guerra Civil entre o exercito Branco e Vermelho, após a tomada de poder pelos bolcheviques liderados por Lenin.

Do ponto de vista político, o central é a forma pela qual Dr. Jivago se desilude com os caminhos que o processo revolucionário toma à medida em que se consolida. 

Eu não li o livro (600 págs na edição da cia das letras), achei mais prático ver o filme, mas pela biografia de Boris Pasternak fica claro que o Jivago que é médico e poeta é um alter-ego. O próprio livro Dr.Jivago foi proibido quando de sua publicação em 1958 na URSS, mas os originais da obra foram publicados na Itália com grande sucesso. O que lhe valeu o Nobel em 1958 que não podê receber por razões políticas. Na Rússia o livro só foi ser conhecido com a abertura política de Mikhail Gorbatchev em 1989. O filme que temos em apreço é de 1965. Boris Pasternak faleceu em 1960, não tendo tido chance de ver a sua obra adaptada para o cinema.

David Lean é diretor de outros clássicos longos como Lawrence das Árabias e Ponte do Rio Kwai. Não assisti nenhuma das duas.Esperarei um outra taxista fazer a recomendação.

Uma nota sobre a direção técnica do filme merece ser feita. O filme retrata a Rússia mas foi filmado na Espanha. Ora, conseguir fazer com que o clima temperado Espanha se pareça com o gélido inverno da Rússia não é para amadores. E as cenas do inverno provocam angústias no telespectador.

Convém destacar as atuações de Omar Shariff (Dr.Jivago), Julie Christie (Lara) e Geraldine Chaplin ( Tonya), esta última, é filha do diretor de The Great Dictator.

Em suma, Dr. Jivago é um filme sobre a decepção política de uma momento histórico sentido por um artista. É um filme altamente recomendável, embora um pouco longo, o que para alguns seja um defeito. E aproveito o ensejo pra responder aquele taxista reaça do paraná que eu continuo achando que as revoluções são processos complexos que, de vez em quando, explodem, sem que com isso se justifique a perda de vidas humanas, a violência e os excessos que toda revolução traz dentro de si.  Um beijo à todos os taxistas deste Brasil (reaças ou não). 

Fernando Moreira
Sessões

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