Os Incompreendidos – Nouvelle Vague e suas apreciações
Título Original: Les quatre cents coups
Direção: François Truffaut
Ano: 1959
Elenco: Jean-Pierre Léaud, Claire Maurier, Albert Rémy, Patrick Auffay , Guy Decomble
Prêmios: Cannes de Melhor Direção e Prêmio OCIC e Bodil de Melhor Filme Europeu.
Os franceses presentearam a sétima arte com um dos movimentos mais notórios da História do Cinema, foi através das lentes francesas que o mundo descobriu um novo olhar sobre as filmagens, um olho particular, um olho autor-diretor. O Nouvelle Vague é um dos gêneros, se é que podemos assim enquadrá-lo, mais impressionantes e cultuados do cinema até hoje. No entanto, há uma característica além-tela que soa bastante desagradável neste movimento cinematográfico que é a idéia ou ideologia de que não é cinema para qualquer um. Bem, o que quero dizer eu com isto?
É ponto pacífico que estas produções realizadas na França, sobretudo na década de sessenta são de um hermetismo proposital, que por muitas vezes não vislumbra uma comunicação direta com o público. Suas intenções são subjetivas e pessoais, mas é uma subjetividade e uma pessoalidade que dá trabalho ao cabeção, aliás pira o cabeção. Pois bem, detendo estas características tão fechadas na sua linguagem, este cinema é utilizado por pseudo-informados-ensimesmados como instrumento capaz de elevá-los a um patamar superior, a uma autodignificação e a um auto-enaltecimento. Certo! Só para exemplificar é o tipinho que por n vezes se utiliza de vocábulos estrangeiros em uma conversa trivial, que discute aquela cena, se preocupando em dizer o ano e detalhes da vida do diretor sem ninguém ter perguntado nada, que reproduz falas do filme, que tem opiniões infalíveis todas cuidadosamente catalogadas no Google... Ah! Um bando de características, nos comentários vocês podem escrever mais coisas sobre os tipinhos.
No entanto, o que é realmente lamentável constatar é que ainda em nossos dias, estes frescos têm lugar cativo em rodinhas e são por alguns, tratados como se houvesse alguma real profundidade naquilo que estão exibindo para o mundo. A aprovação e aceitação destes comportamentos sustentam a teoria de que é bastante aceita a intelectualidade rasa, os floreios e a simples retórica – se o domínio de poucos acordes já é suficiente para impressionar em uma roda de herdeiros da casa grande e senzala por que raios é preciso aprender a tocar violão?
Voltando ao que interessa – “Os Incompreendidos” de Truffaut – e peço desculpas por abrir um parêntese tão enorme, mas o parentênse faz-se necessário justamente por estarmos tratando aqui de um diretor do mesmo importantíssimo movimento de Godard, Chabrol, Resnais e Rohmer que conseguiu transcender ao hermético. Truffaut consegue comunicar às massas com facilidade sem perder suas características autorais, sua forma, sua verdade cinematográfica, sua densidade. Não é fechado em si mesmo, não detém em si mesmo todos os seus significados e pode emocionar a menos instruída das criaturas. Em “Os Incompreendidos” o tema da infância e da denúncia social vão de encontro direto a um inconsciente coletivo universal.
Como este post está ficando enorme, falo mais de Truffaut outra hora. Pode ser retomar os temas de “Os Incompreendidos” ou outro filme com o personagem Doinel, veremos. Deixo só um gostinho, porque sei que o tempo na internet é raro e fico feliz demais se consegui prender sua atenção até aqui, mas tenha mais um minuto e vinte segundos e assista abaixo a cena que coloca em cheque a competência de muito cineasta por aí.
Fica então a dica: caso ainda não tenha se entendido pomposo o suficiente para assistir ao cinema da Nouvelle Vague comece com Truffaut e verá que estes “ismos” impostos por uma meia dúzia de retardadores do processo civilizatório é um joguinho bem rasteiro. Não se faz mau uso da genialidade alheia.
Leandro Antonio
Sessões
Direção: François Truffaut
Ano: 1959
Elenco: Jean-Pierre Léaud, Claire Maurier, Albert Rémy, Patrick Auffay , Guy Decomble
Prêmios: Cannes de Melhor Direção e Prêmio OCIC e Bodil de Melhor Filme Europeu.
Os franceses presentearam a sétima arte com um dos movimentos mais notórios da História do Cinema, foi através das lentes francesas que o mundo descobriu um novo olhar sobre as filmagens, um olho particular, um olho autor-diretor. O Nouvelle Vague é um dos gêneros, se é que podemos assim enquadrá-lo, mais impressionantes e cultuados do cinema até hoje. No entanto, há uma característica além-tela que soa bastante desagradável neste movimento cinematográfico que é a idéia ou ideologia de que não é cinema para qualquer um. Bem, o que quero dizer eu com isto?
É ponto pacífico que estas produções realizadas na França, sobretudo na década de sessenta são de um hermetismo proposital, que por muitas vezes não vislumbra uma comunicação direta com o público. Suas intenções são subjetivas e pessoais, mas é uma subjetividade e uma pessoalidade que dá trabalho ao cabeção, aliás pira o cabeção. Pois bem, detendo estas características tão fechadas na sua linguagem, este cinema é utilizado por pseudo-informados-ensimesmados como instrumento capaz de elevá-los a um patamar superior, a uma autodignificação e a um auto-enaltecimento. Certo! Só para exemplificar é o tipinho que por n vezes se utiliza de vocábulos estrangeiros em uma conversa trivial, que discute aquela cena, se preocupando em dizer o ano e detalhes da vida do diretor sem ninguém ter perguntado nada, que reproduz falas do filme, que tem opiniões infalíveis todas cuidadosamente catalogadas no Google... Ah! Um bando de características, nos comentários vocês podem escrever mais coisas sobre os tipinhos.
No entanto, o que é realmente lamentável constatar é que ainda em nossos dias, estes frescos têm lugar cativo em rodinhas e são por alguns, tratados como se houvesse alguma real profundidade naquilo que estão exibindo para o mundo. A aprovação e aceitação destes comportamentos sustentam a teoria de que é bastante aceita a intelectualidade rasa, os floreios e a simples retórica – se o domínio de poucos acordes já é suficiente para impressionar em uma roda de herdeiros da casa grande e senzala por que raios é preciso aprender a tocar violão?
Voltando ao que interessa – “Os Incompreendidos” de Truffaut – e peço desculpas por abrir um parêntese tão enorme, mas o parentênse faz-se necessário justamente por estarmos tratando aqui de um diretor do mesmo importantíssimo movimento de Godard, Chabrol, Resnais e Rohmer que conseguiu transcender ao hermético. Truffaut consegue comunicar às massas com facilidade sem perder suas características autorais, sua forma, sua verdade cinematográfica, sua densidade. Não é fechado em si mesmo, não detém em si mesmo todos os seus significados e pode emocionar a menos instruída das criaturas. Em “Os Incompreendidos” o tema da infância e da denúncia social vão de encontro direto a um inconsciente coletivo universal.
Como este post está ficando enorme, falo mais de Truffaut outra hora. Pode ser retomar os temas de “Os Incompreendidos” ou outro filme com o personagem Doinel, veremos. Deixo só um gostinho, porque sei que o tempo na internet é raro e fico feliz demais se consegui prender sua atenção até aqui, mas tenha mais um minuto e vinte segundos e assista abaixo a cena que coloca em cheque a competência de muito cineasta por aí.
Fica então a dica: caso ainda não tenha se entendido pomposo o suficiente para assistir ao cinema da Nouvelle Vague comece com Truffaut e verá que estes “ismos” impostos por uma meia dúzia de retardadores do processo civilizatório é um joguinho bem rasteiro. Não se faz mau uso da genialidade alheia.
Leandro Antonio
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Apoio, PNC dos presunçosos!!!!!!
ResponderExcluirQueria relatar meu próprio receio em explorar novelle vague por medo de não compreender ou medo de entender rápido demais ou viajar no cabeção...
ResponderExcluirPNC dos presunçosos que colocam caraminholas nas nossas mentes a fim de parecerem ser superiores, além do seus tempos e conhecedores do real e do oculto.
PNC dos intelectualoides que dizem entender tudo e nada sabem, só supõe.
Obrigado por quebrar uma barreira, Lê!
Vitor Stefano
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Boa Leandro!
ResponderExcluirÉ importante colocar o dedo nessa ferida, há uns 20 anos ela seria ainda mais impertinente.
Existem sim alguns cineastas boçais que são cultuados como gênios da raça, sem que ninguém entenda direito o que eles querem dizer.
O Jean-Luc Godard é um deles, seu melhor filme é justamente o que tem argumento do Truffaut.
Outro (e já estou até me abaixando para não receber as pedradas do Vítor) é o nosso amado e estimado Glauber Rocha.
Atenção! Não descarto a contribuição que eles nos deixaram. Apenas me incomoda a forma como são cultuados pelos motivos errados, por gente que apenas vai na onda da tal genialidade.
O proprio Godard se perdeu completamente por achar-se um gênio e nos últimos 40 anos não fez nada que seja inteligível a não ser para a turma dele.
È um erro pensar que a Nouvelle Vague é hermética. Ela até começou como um culto aos diretores, mas evoluiu com filmes bastante acessíveis e agradáveis (vide a Lista de 10 sobre o tema).
Já sobre Truffaut, só posso dizer que é um cineasta que só nos dá prazer ao assistir. Seus filmes todos têm uma lufada de frescor até hoje. 'Os Incompreendidos', que ele dirigiu muito jovem é um dos maiores filmes da história do cinema. Justamente por sua simplicidade.
Parabéns pelo post e pela discussão.
Abs!!!
Muito obrigado pelos comentários Vitor, Armando e anônimo. A ideia é abrir a discussão mesmo, identificar os comportamentos pedantes e fugir, fugir, fugir de imitá-los. Assumir que naquele momento não se conseguiu contextualizar ou entender é muito mais humano e sensível do que sair arrotando o peixe que outros comeram.
ResponderExcluirLeandro Antonio
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