O Enigma de Kaspar Hauser
Nome Original: Jeder für sich und Gott gegen alle
Diretor: Werner Herzog
Ano: 1974
País: Alemanha
Elenco: Bruno S., Walter Landengast, Brigitte Mira, Herbert Achternbusch, Michael Kroecher entre outros
Prêmios: Grande Prêmio do Júri, Prêmio FIPRESCI e Prêmio do Juri Ecumênico em Cannes
É com este relato que o espectador é induzido a testemunhar o universo do “achado” Kaspar :
“No domingo de Pentecostes do ano de 1828 recolhemos na cidade de Nuremberg uma criatura abandonada que, mais tarde chamamos de Kaspar Hauser. Ele mal sabia andar e só pronunciava uma frase. Depois contou-nos que logo após nascer viveu preso num calabouço. Ignorava o mundo exterior e a existência dos seres humanos, pois lhe deixavam alimento à noite enquanto dormia. Não tendo noção do que era uma casa, uma árvore ou a fala... até que um homem entrou onde ele jazia. O mistério de sua origem nunca foi esclarecido.”
“Você não escuta este grito horrendo ao redor e a que chamam de silêncio?”
Um esclarecimento a fazer é que aqui não farei uma análise ou comentário padrão do filme. O que mais interessa, desta vez, é o recorte, a ilustração. Tirem suas conclusões e assistam ao filme. Cada um por si e Deus contra todos.
A vida é absoluta. A natureza humana é mutante. E o que se quer dizer com isto? Todo humano é igual enquanto ser que vive, respira, reproduz, envelhece e morre. O que diferencia os seres humanos é, em suma, seu condicionamento diante das suas experiências. Já é repertório de muitos autores e de muito copy and paste as questões que relacionam natureza e cultura, natureza e política. Mas, este que vos fala, não tinha visto isto ainda tão claramente estes ensaios se não no diálogo entre Lord Stanhope e Kaspar durante o maior clímax social da vida do protagonista – uma festa. Quando Kaspar é provocado em meio às pessoas a dizer alguma coisa com espontaneidade. Ele verdadeira e simplesmente e com todo o respeito que consegue decodificar, afirma:
“Vossa Senhoria, a única coisa interessante em mim, é a minha vida.”
Momento poético sem dúvida. No entanto, o que pode haver de interessante em um homem além da vida? Tenho uma resposta: Suas paixões e representações advindas do convívio em sociedade. É, haverão de existir outras respostas plausíveis... Estou aguardando!
Por falar em momentos poéticos, não há como abandonar o momento em que Kaspar ensaiando a sua nova habilidade – as primeiras letras – escreve ao Sr. Daumer:
“Há alguns dias eu semeei meu nome com pés de agrião. E eles pegaram bem. E isto me deu tamanha alegria que mal posso expressar. Mas, ontem ao voltar do passeio notei que alguém entrou no jardim e espezinhou meu nome. Chorei por muito tempo então resolvi semear de novo.”
O que é o ser humano e o que nos diferencia das outras espécies animais? Por que chora, por que espezinha o nome dos outros, por que concebe a arte? E sobretudo, por que pergunta?
Leandro Antonio
Sessões
Um belo ensaio sobre o filme está disponível na página do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa
Para fazer download deste e de outros filmes de Werner Herzog clique aqui.
Diretor: Werner Herzog
Ano: 1974
País: Alemanha
Elenco: Bruno S., Walter Landengast, Brigitte Mira, Herbert Achternbusch, Michael Kroecher entre outros
Prêmios: Grande Prêmio do Júri, Prêmio FIPRESCI e Prêmio do Juri Ecumênico em Cannes
É com este relato que o espectador é induzido a testemunhar o universo do “achado” Kaspar :
“No domingo de Pentecostes do ano de 1828 recolhemos na cidade de Nuremberg uma criatura abandonada que, mais tarde chamamos de Kaspar Hauser. Ele mal sabia andar e só pronunciava uma frase. Depois contou-nos que logo após nascer viveu preso num calabouço. Ignorava o mundo exterior e a existência dos seres humanos, pois lhe deixavam alimento à noite enquanto dormia. Não tendo noção do que era uma casa, uma árvore ou a fala... até que um homem entrou onde ele jazia. O mistério de sua origem nunca foi esclarecido.”
“Você não escuta este grito horrendo ao redor e a que chamam de silêncio?”
Um esclarecimento a fazer é que aqui não farei uma análise ou comentário padrão do filme. O que mais interessa, desta vez, é o recorte, a ilustração. Tirem suas conclusões e assistam ao filme. Cada um por si e Deus contra todos.
A vida é absoluta. A natureza humana é mutante. E o que se quer dizer com isto? Todo humano é igual enquanto ser que vive, respira, reproduz, envelhece e morre. O que diferencia os seres humanos é, em suma, seu condicionamento diante das suas experiências. Já é repertório de muitos autores e de muito copy and paste as questões que relacionam natureza e cultura, natureza e política. Mas, este que vos fala, não tinha visto isto ainda tão claramente estes ensaios se não no diálogo entre Lord Stanhope e Kaspar durante o maior clímax social da vida do protagonista – uma festa. Quando Kaspar é provocado em meio às pessoas a dizer alguma coisa com espontaneidade. Ele verdadeira e simplesmente e com todo o respeito que consegue decodificar, afirma:
“Vossa Senhoria, a única coisa interessante em mim, é a minha vida.”
Momento poético sem dúvida. No entanto, o que pode haver de interessante em um homem além da vida? Tenho uma resposta: Suas paixões e representações advindas do convívio em sociedade. É, haverão de existir outras respostas plausíveis... Estou aguardando!
Por falar em momentos poéticos, não há como abandonar o momento em que Kaspar ensaiando a sua nova habilidade – as primeiras letras – escreve ao Sr. Daumer:
“Há alguns dias eu semeei meu nome com pés de agrião. E eles pegaram bem. E isto me deu tamanha alegria que mal posso expressar. Mas, ontem ao voltar do passeio notei que alguém entrou no jardim e espezinhou meu nome. Chorei por muito tempo então resolvi semear de novo.”
O que é o ser humano e o que nos diferencia das outras espécies animais? Por que chora, por que espezinha o nome dos outros, por que concebe a arte? E sobretudo, por que pergunta?
Leandro Antonio
Sessões
Um belo ensaio sobre o filme está disponível na página do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa
Para fazer download deste e de outros filmes de Werner Herzog clique aqui.
MUIYO BOM VIDEO GOSTEI
ResponderExcluirAssisti ontem no módulo O Ser Humano e Sua Inserção Social na faculdade. O filme é bastante monótono, mas é rico como fonte de discussões antropológicas e psicossociais, estou, neste mesmo momento, preparando um escrito sobre o mesmo :)
ResponderExcluirNew World Blog! Curti o comentário rápido e certeiro.
ResponderExcluirLucas, não consegui achar o filme monótono não, mas verdade que seu ritmo é lento, mas ainda assim, acredito que Herzog acertou, pois este era o tempo para gurgitar a história enquanto o filme ainda acontecia diante dos seus olhos. Digamos que saí feliz da sessão e me impressionei sobretudo com a poética dos diálogos.
Obrigado pelos comentários.
Leandro Antonio
Sessões
Muito boa a escolha do trecho do circo. Pois ela mostra por meio de metáforas o que povoava o pensamento da sociedade europeia no início do século XIX, fruto da Revolução Francesa e das teorias positivistas. Bom, espero que a humanidade tenha caminhado de lá pra cá.
ResponderExcluirOi, Anônimo!
ResponderExcluirO Enigma de Kaspar Hauser é um filme que apresenta algumas cenas bastante significativas, a mim parece que Herzog optou pela ilustração de contextos e conflitos dessa Europa do século XIX. Escolhi a cena do circo, pois, ali há também uma alusão ao Positivismo - o que era desconhecido da ciência poderia considerado aberração, ou seja, a explicação metafísica ou teológica já não era, necessariamente, absoluta.
Valeu pelo comentário!
Leandro Antonio
Sessões
Belíssimo comentário, Lê. Não vi ainda esse filme, porém Herzog é daqueles que devemos ver tudo, desde os clássicos, aos que ficaram perdidos pelas décadas. E a temática, como você colocou, nos parece algo grandioso!
ResponderExcluirObrigado pela dica!
Olá, Vitor!
ResponderExcluirValeu o comentário. Herzog certamente vale o passeio. Dos clássicos aos perdidos. Gostei do termo perdido. Dá até para sugerir ao Armando uma Lista de 10 Perdidos.
Aquele abraço.
Leandro Antonio
Sessões