A Bela da Tarde
Nome Original: Belle de Jour
Ano: 1967
Direção: Luis Buñuel
Países: França e Itália
Elenco: Jean Sorel, Michel Piccoli, Catherine Deneuve e Geneviéve Page
Prêmios: Leão de Ouro e Pasinetti de Melhor Filme no Festival de Veneza, Bodil de Melhor Filme Europeu e Melhor Filme segundo o Sindicato de Críticos de Cinema da França.
A última postagem foi Salò. Agora Belle de Jour. O pessoal deve pensar: O que está se passando com quem escreve neste blog? Estão querendo fazer uma ode ao Marquês de Sade e à perversão, ou estão obcecados por transtornos sexuais que ordinários seres humanos apresentam? Nem uma coisa, nem outra. Aliás ver Catherine Deneuve sendo açoitada e violentada tinha que sair da mente de Buñuel, afinal de contas é uma imagem surreal que não me ocorreria em um primeiro instante. Bem, aliás comparar o que me ocorreria com o que ocorreria a Luis Buñuel é no mínimo um pretenso sacrilégio. Um nada a ver sem tamanho.
Comparações impraticáveis à parte, o filme mais famoso de um dos cineastas mais cultuados, citados e copiados de todos os tempos é um convite à imaginação. Não aprecio muito escrever sobre o blá-blá-blá técnico, visto que não sei muito desta conversa. Mas, neste caso muito só não é percebido por quem estiver desconectado mesmo! Me encanto com os planos e com o cuidado com as cenas. Não sei se por uma viagem ou por um excesso de reparo, vejo até os figurantes muito bem posicionados e vivos durante suas passagens. Ver aquelas pessoas compondo a paisagem de um outono europeu é no mínimo confortante.
O clima de "Belle de Jour" é transmitido por subtextos. Aliás, todos os personagens transbordam uma subjetividade muito próxima da real, embora o filme seja muitas vezes somente tachado por seus aspectos surrealistas, mas isto é um mal da síntese, enfim... Não são muitos os filmes em que só de olhar as expressões e a entonação que uma ou outra personagem dá a fala que pode se imaginar um mundo de pensamentos lógicos e/ou ilógicos. É um caminho arriscado, que só dá bons resultados se a direção for muito sagaz. Não precisa nem escrever que esta sagacidade é alcançada por Buñuel, mas agora que já escrevi, não vou deletar. Está feito!
Certo. Vou parar de citar aspectos mais técnicos ou de execução, os mais infiltrados que se ocupem desta parte. Vou às questões da vida em sociedade a que estamos condenados. Por exemplo, quem não já ouviu alguém dizer em uma conversa qualquer:
“A fulana é quietinha, não é? São as quietinhas as mais perigosas.”
Talvez esteja no imaginário de muita gente que com exceção sacerdotes, seja estranho que alguém aparente calma, tranquilidade e correção o tempo todo. Que alguém, sobretudo a mulher, consiga ser uma esposa perfeita para padrões culturais do século XVIII, sem ter uma saída, uma válvula de escape pervertida - um fetiche sado masoquista, escatológico ou no mínimo um adultério. Sem contar o desejo depravado que um comportamento tido como exemplar pode suscitar. Pode ser que os nossos sentidos fiquem abalados com a distância delicada que pode existir entre o dito bom e o dito mau – o sagrado e o profano.
Outros pontos escancarados nas entrelinhas deste clássico são: O quão anormal pode ser a superficial normalidade? Quanto os assumidos sórdidos são parecidos com os que ainda mantêm uma respeitabilidade dentro das instituições sociais? Como fugir da hipocrisia que certas esferas impõem? Quais os custos pessoais que o cumprimento de ritos sociais podem acarretar? Será que as pessoas se reconhecem quando olham para dentro de si, ou tem medo das imagens e dos bichos que podem descobrir? E eu ficaria até amanhã interpelando sobre, mas quem leu até aqui, espera que este texto acabe. Então, chegou o momento esperado. Fim. Não! Espere um pouco que tem o comecinho do filme no vídeo aí embaixo.
Agora sim. FIM.
Leandro Antonio
Sessões
Ano: 1967
Direção: Luis Buñuel
Países: França e Itália
Elenco: Jean Sorel, Michel Piccoli, Catherine Deneuve e Geneviéve Page
Prêmios: Leão de Ouro e Pasinetti de Melhor Filme no Festival de Veneza, Bodil de Melhor Filme Europeu e Melhor Filme segundo o Sindicato de Críticos de Cinema da França.
A última postagem foi Salò. Agora Belle de Jour. O pessoal deve pensar: O que está se passando com quem escreve neste blog? Estão querendo fazer uma ode ao Marquês de Sade e à perversão, ou estão obcecados por transtornos sexuais que ordinários seres humanos apresentam? Nem uma coisa, nem outra. Aliás ver Catherine Deneuve sendo açoitada e violentada tinha que sair da mente de Buñuel, afinal de contas é uma imagem surreal que não me ocorreria em um primeiro instante. Bem, aliás comparar o que me ocorreria com o que ocorreria a Luis Buñuel é no mínimo um pretenso sacrilégio. Um nada a ver sem tamanho.
Comparações impraticáveis à parte, o filme mais famoso de um dos cineastas mais cultuados, citados e copiados de todos os tempos é um convite à imaginação. Não aprecio muito escrever sobre o blá-blá-blá técnico, visto que não sei muito desta conversa. Mas, neste caso muito só não é percebido por quem estiver desconectado mesmo! Me encanto com os planos e com o cuidado com as cenas. Não sei se por uma viagem ou por um excesso de reparo, vejo até os figurantes muito bem posicionados e vivos durante suas passagens. Ver aquelas pessoas compondo a paisagem de um outono europeu é no mínimo confortante.
O clima de "Belle de Jour" é transmitido por subtextos. Aliás, todos os personagens transbordam uma subjetividade muito próxima da real, embora o filme seja muitas vezes somente tachado por seus aspectos surrealistas, mas isto é um mal da síntese, enfim... Não são muitos os filmes em que só de olhar as expressões e a entonação que uma ou outra personagem dá a fala que pode se imaginar um mundo de pensamentos lógicos e/ou ilógicos. É um caminho arriscado, que só dá bons resultados se a direção for muito sagaz. Não precisa nem escrever que esta sagacidade é alcançada por Buñuel, mas agora que já escrevi, não vou deletar. Está feito!
Certo. Vou parar de citar aspectos mais técnicos ou de execução, os mais infiltrados que se ocupem desta parte. Vou às questões da vida em sociedade a que estamos condenados. Por exemplo, quem não já ouviu alguém dizer em uma conversa qualquer:
“A fulana é quietinha, não é? São as quietinhas as mais perigosas.”
Talvez esteja no imaginário de muita gente que com exceção sacerdotes, seja estranho que alguém aparente calma, tranquilidade e correção o tempo todo. Que alguém, sobretudo a mulher, consiga ser uma esposa perfeita para padrões culturais do século XVIII, sem ter uma saída, uma válvula de escape pervertida - um fetiche sado masoquista, escatológico ou no mínimo um adultério. Sem contar o desejo depravado que um comportamento tido como exemplar pode suscitar. Pode ser que os nossos sentidos fiquem abalados com a distância delicada que pode existir entre o dito bom e o dito mau – o sagrado e o profano.
Outros pontos escancarados nas entrelinhas deste clássico são: O quão anormal pode ser a superficial normalidade? Quanto os assumidos sórdidos são parecidos com os que ainda mantêm uma respeitabilidade dentro das instituições sociais? Como fugir da hipocrisia que certas esferas impõem? Quais os custos pessoais que o cumprimento de ritos sociais podem acarretar? Será que as pessoas se reconhecem quando olham para dentro de si, ou tem medo das imagens e dos bichos que podem descobrir? E eu ficaria até amanhã interpelando sobre, mas quem leu até aqui, espera que este texto acabe. Então, chegou o momento esperado. Fim. Não! Espere um pouco que tem o comecinho do filme no vídeo aí embaixo.
Agora sim. FIM.
Leandro Antonio
Sessões
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