Um Lugar ao Sol


Nome Original: Um Lugar ao Sol
Diretor: Gabriel Mascaro
Ano: 2009
País: Brasil
Elenco: Coberturistas
Prêmios: Menção Especial no BAFICI – Buenos Aires Independent Film Festival, Melhor Documentário pelo Juri no FIDOCS – Festival Internacional de Documentales de Santiago (Chile) e Prêmio do Juri no Festival de Film Etnografico do Rio de Janeiro.
Um Lugar ao Sol (2009) on IMDb


Os documentários costumam ser feitos de fatos reais, entrevistas e imagens de arquivo. Mas cada vez mais documentários ficcionais tomam espaço do gênero no Brasil. Roteiros complexos, leituras, reinterpretações da realidade já fazem parte da realidade dos documentários. O Brasil é grande construtor desse tipo de cinema que cada vez mais ganha espaço nos lançamentos dos cinemas. Só nos lançamentos, pois não evolui em público. “Um Lugar ao Sol” é mais um deles. Lendo a sinopse parecia mais um filme com várias entrevistas de pessoas moradoras de coberturas e suas impressões dessa realidade. Mas o que se ouve é muito mais do que isso.

Um roteiro inventivo, polêmico e audaz. Sem dúvida o roteirista consegue seu objetivo ao escrever tantas intempestividades sobre a vida por atores que, propositalmente, interpretam mal para dar ares de veracidade ao documentário do diretor Gabriel Mascaro. Passado em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, ouvimos loucuras, devaneios e frases preconceituosas sobre o povo brasileiro. Sem tomar partido, sem forçar ou instigar o declarante diz com uma naturalidade ímpar, digna de Raul Cortez, os atores dizem que estão perto de Deus, que estão seguros, que estão por cima da sociedade. Sim, estão por cima. Isso é exatamente o que eu queria que fosse: uma ficção. A verdade é saber que todo o dito é verdade e que os depoentes não são atores de alto gabarito, são seres humanos normais. Normais não, superiores, segundo eles mesmos.

Quando vemos figuras aparentemente comuns falando sobre segurança, altivez, isolamento ou glamour temos um choque. Morar numa cobertura deve ser altamente contaminador. A ignorância, soberba e disparidades ditas por aqueles seres extraterrestres dão a impressão que eles moram numa capsula de ouro imbutido no Paraíso e conduzido pelo Altíssimo, que obviamente, os olha mais de perto. O mérito maior do documentário é fazer o recorte de uma burguesia elitista com ares de novos ricos e que alcançaram o jubilo eterno. O depoimento mais coerente, posso estar absolutamente errado e me arrepender do dito, é do único “famoso” que falou com a equipe, que é o dono de casas de divertimento masculino, Oscar Maroni. Também é possível compreender o último jovem a aparecer na película que parece ser maduro e esclarecido sobre a realidade da vida. Se você não acredita e vai rogar que sou esquerdista, veja o trailer para você ter apenas uma noção do que digo.


O restante dos entrevistados dão impressão que voltamos à mitologia e os que vivem em coberturas são semi-deuses. Quando a senhora, na foto acima com seu gato de estimação de pelúcia e com seu engomado filho, levanta-se e sai de cena incomodada com a intromissão alheia é o que dá vontade e fazer. Levantar e sair do cinema e deixá-los falando sozinho. A premissa de “Um Lugar ao Sol” é ótima. Se a principio queria mostrar uma outra classe social (visto que documentários em sua maioria mostram a pobreza e miséria), entendemos que os alto padrão da nossa sociedade é um reflexo de toda a disparidade existente entre um gênio e um deficiente mental. Óbvio que nem todos moradores de cobertura são ignorantes sociais como os que vemos, mas é triste saber que pessoas tão acéfalas existem numa burguesia dominante como desse país chamado Brasil.

Vitor Stefano
Sessões

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