A Lagoa Azul

Nome Original: The Blue Lagoon
Diretor: Randal Kleiser
Ano: 1980
País: Estados Unidos
Elenco: Brooke Shields, Christopher Atkins, Leo McKern
Prêmios: Indicação ao Oscar de Melhor Fotografia e indicação ao Globo de Ouro de Melhor Ator Revelação (Christopher Atkins).
A Lagoa Azul (1980) on IMDb

A Lagoa Azul (The Blue Lagoon, 1980), dirigido pelo americano Randal Kleiser, não faz parte da galeria de filmes atemporais. E isso, definitivamente, não é bom. Explico: as obras realmente de valor, ou seja, as reconhecidas por sua grandeza artística, por seu engenho, são justamente aquelas que não se modificam com o tempo. E A Lagoa Azul mudou muito. E, infelizmente, para pior. Tornou-se (para mim) um arremedo do romance de aventuras Robinson Crusoé, escrito pelo inglês Daniel Defoe em 1719. Há, porém, outra hipótese: a de eu ter mudado radicalmente desde a pré-adolescência, certamente para pior, e me tornado um adulto idiota e exigente.

Vejamos:



O filme em questão tem o seguinte roteiro: após naufrágio, dois primos ── um menino e uma menina ── e um velho beberrão, o cozinheiro do navio afundado, passam a viver em uma ilha deserta. Lá, graças principalmente ao conhecimento de vida do velho, as crianças sobrevivem e adquirem habilidades para sua subsistência: aprendem a pescar; a cozinhar; a selecionar frutas para consumo; a fazer belos e eficientes nós, usados nas mais variadas situações, úteis ou fúteis, como, por exemplo, para construir uma cabana, auxiliar no carregamento de alimentos, prender os cabelos ou simplesmente ajustar um vestido, aprimorando o seu caimento. Pois bem... pouco tempo depois, o beberrão morre, acontecimento que abre caminho para que os dois pombinhos possam finalmente se virar sozinhos naquele pequeno paraíso. Richard (Christopher Atkins) e Emmeline (Brooke Shields) gozam, de fato, longos anos de felicidade conjugal, aproveitam ao máximo as maravilhas do amor, até o dia em que o filho deles, um garotinho saudável e louro como o Sol, engole, por engano, a frutinha do “sono eterno”. Consternados, seus pais decidem acompanhá-lo naquele sono tranqüilo, profundo, perpétuo ── bem ao estilo de Romeu e Julieta.

Robinson Crusoé: após naufrágio, um homem (cujo nome intitula o livro) passa a viver em uma ilha deserta. Lá, graças ao seu conhecimento de vida, sobrevive e luta todos os dias em busca do seu bem-estar. Contribuem para isso, além do “bom selvagem” Sexta-Feira (que aparece na aventura de Defoe somente anos mais tarde), a inteligência, a determinação, a excepcional noção de organização de Crusoé e, claro!, uma ou outra ferramenta da embarcação naufragada.

A seguir, algumas diferenças entre as duas histórias:

Em A Lagoa Azul a atmosfera é carregada de romantismo, de inocência e de beleza. A ilha é um lugar absolutamente lindo. Os protagonistas são jovens e belíssimos. O céu, a Lua e o Sol são verdadeiras obras-primas. As frutas são brilhantes e anatomicamente perfeitas. Os animais (todos, de peixes a insetos) são uma gracinha. A cabana, então, mereceria destaque na revista Casa e Jardim. Enfim... tudo é lindo de morrer! ── como num filme água-com-açúcar de Hollywood. Possivelmente influenciado por esse mar de “bom gosto”, o diretor resolveu tratar com delicadeza extrema, incomum, um dos períodos mais difíceis da nossa vida: a passagem da infância para a adolescência. E é justamente esse exagero, essa delicadeza excessiva, esse cuidado de vovó, que torna A Lagoa Azul um filme comum. As descobertas físicas e emocionais das personagens principais beiram a pieguice. E só perdem em pieguice para a própria ilha, digna da capa de Caras.

O romance Robinson Crusoé, ao contrário, notabiliza-se pela sobriedade e praticidade. Durante os 28 anos, dois meses e 19 dias em que o protagonista da aventura ocupa “provisoriamente” seu novo lar, ele não mede esforços para melhorar suas condições de vida. Com a finalidade de proteger seu corpo e seu espírito, empenha-se em muitos afazeres, tais como: a caça, a pesca, a elaboração de instrumentos que o auxiliam em suas tarefas diárias, a construção de sua moradia. Além disso, torna-se agricultor e até pastor de caprinos (cria alguns bodes e cabras na ilha); e, nos momentos de aperto na alma, lê a Bíblia. Tudo extremamente simples e prático.

Apesar de análogos, os principais assuntos tratados em A Lagoa Azul e em Robinson Crusoé têm abordagens bastante distintas.

Vejamos:



1A)No filme de Randal Kleiser não existe a solidão de fato, isto é, a ausência física do outro. Não significa, porém, que em certos momentos o sentimento de solidão não preencha o coração dele (Richard) ou dela (a estonteante e miraculosa Emmeline, que no decorrer da história conseguiu a façanha de manter o penteado impecável); 2A) O casal está tão feliz em sua ilha, tão feliz, que não deseja mais abandoná-la para voltar à civilização. Eles e o seu filhote ── o menino-Sol ── se bastam naquele pedaço de mundo generoso; 3A) A ilha deserta e todos os acontecimentos são romanceados, enfeitados, embelezados; 1B) O personagem principal do livro de Defoe é um solitário, apenas deixando essa condição após 26 anos, com o “aparecimento” de Sexta-Feira na história; 2B) Crusoé jamais desistiu de partir, de abandonar sua ilhota e voltar à civilização; 3B) Robinson Crusoé demonstra que para superar grandes adversidades, o ser humano precisa de pelo menos três qualidades: ser dotado de inteligência privilegiada (inclusive emocional), de determinação incomum e de senso de organização (ou de capacidade de planejamento, se você preferir uma expressão atual). Reflexão preconceituosa? Ultrapassada? Talvez. Genial? Visionária? Quem sabe. Depende do ponto de vista de cada um. Entretanto, nunca é demais lembrar que Daniel Defoe escreveu esse romance de aventuras há quase 300 anos.

Concluindo...

Eu era um jovenzinho ingênuo quando vi A Lagoa Azul pela primeira vez, na tevê, no início da década de 80. E gostei bastante. Fiquei impressionado sobretudo com a beleza e a doçura da Emmeline, a moça do penteado impecável. Outro aspecto que me impressionou foi perceber que mais pessoas no mundo passavam por aquele período de descobertas. Foi bacana saber que eu não era o único. Quando o filme da Emmeline passou aqui no Brasil, eu também era um “descobridor” dessas sensações. Por isso, talvez o mais justo seja jogar fora o termo "arremedo" e preservar as lembranças advindas de A Lagoa Azul, inclusive suas belezas desmedidas e seu sentimentalismo hollywoodiano, pois elas existiram, de maneira significante ou não, em uma fase importante da minha vida. Mas isso já passou. Não posso dizer o mesmo de Robinson Crusoé, livro cujos ensinamentos práticos e narrativa envolvente ainda carrego comigo, tanto no que diz respeito ao modo de viver do protagonista de Defoe, expressão de sobriedade e determinação, quanto pelo simples prazer da leitura de uma história extraordinária, engenhosa como poucas e de incontestável valor literário, que tem comovido a todos, de crianças extremamente ingênuas a adultos idiotas e exigentes, desde que foi escrita ── comprovando, assim, sua grandeza artística e, conseqüentemente, sua atemporalidade.

Paulo Jacobina
Sessões

Comentários

  1. Li Robson Crusoe obrigado na escola durante o Ensino Médio(cre). Na época gostei não, mas lembro que isto preencheu algumas tardes em que um passatempo era assaz imprescindível. A Lagoa Azul e todo seu aparato não foi uma das minhas preferências durante as Sessões da Tarde e cinema em casa dos anos 80 e 90, mas óbvio que vi algumas vezes, foi legal e tudo. Acrescentou? Talvez não, mas por incrível que pareça, não consigo ter clareza disto. Mas, o moleque precisava passar o tempo, o adulto exigente e idiota vê que o tempo passou e continua passando. Nem sei se aqui cabe parafrasear Paulinho da Viola, mas vá lá: Foi uma lagoa que passou em minha vida e meu coração se deixou levar...

    Leandro Antonio
    Sessões

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  2. A LAGOA AZUL DE NOVO????

    NAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAOOOooo....

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  3. É, Anônimo. Uma ótica diferente diante de um objeto que já foi muito, muito olhado.

    Leandro Antonio
    Sessões

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  4. Xaropada!!!
    Como se crianças que por um milagre sobrevivendo numa ilha sozinhos e se tornando adultos, viveriam algum tipo de romance.
    FILME XAROPE e de péssimo gosto.
    Passa uma linguagem subliminar negativa.

    Querem conhecer uma contundente e real crítica desse filme?
    Acessem este Blog de um consciente ativista:

    http://juliosevero.blogspot.com/2011/03/lagoa-azul-da-educacao-sexual-e.html

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  5. Gostei de sua visão sobre o filme, foje a mesmice e o puritanismo que hoje muitos veem esse filme.

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  6. Ora, vou ser breve e direta. Eu tive a oportunidade de ver este filme a pouco tempo e o que vcs dizem aqui é que é uma "xaropada". e só em dizerem o que dizem do filme é atitude de canalha! Se não teem a capacidade de apreciar um bom filme nao falem deste PF. Falei!

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  7. eu adoro esse filme assisto mil vezes e não canso de ver. rs' . está de parabéns !

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