Mãe!


Nome original: Mother!
Diretor: Darren Aronofsky
Ano: 2017
País: EUA
Elenco: Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Ed Harris e Michelle Pheiffer.
Sem Prêmios.


Eu preciso fazer daqui um paraíso. Aqui é tudo pra ele e eu o amo tanto que preciso reconstruir e fazer daqui nosso lar. Nosso paraíso particular, nossa alcova, nosso e só nosso. Só nós dois. Ele precisa disso pra voltar a escrever e ser o poeta famoso e maravilhoso que é. Eu estou aqui para tudo que ele quer e quiser. Eu estou aqui porque o amo e isso basta. Ele me ama. Quero filhos para transformar aqui num Éden. Não um qualquer, o nosso. Nem esse homem que chega no meio da noite vai nos desestabilizar. Não estou confortável, mas tudo bem, uma noite apenas. E ele não passa bem. Mas meu marido tá aqui e me ama e suporta e está aqui para mim. Mas a esposa deste homem vem também? Os filhos? Eles se odeiam. Vão ficar aqui, no nosso lar? Eu o amo, o quero, quero ele feliz e produzindo. Filhos, poemas, bondades. Tão caridoso. Abraçando o mundo e eu aqui. Todos o querem. Todos o amam. E ele ama a si próprio quando sente esse amor. Eu não basto. Eu sou supérflua. Me esqueceu. Me deixou de lado. Apenas seu ego serve quando inflado. Eu sou descartável. Não sou não. A conta chega. Do pó vim, ao pó voltarei...

Aronofsky faz uma alegoria em cima de alegoria. “Mãe!” não é um filme qualquer nem para qualquer um. Um filme complexo, denso, visceral. O diretor costuma nos dar sempre filmes com bases instáveis onde somos convocados a pensar e entrar na história. Quase sempre ele faz referências bíblicas, mas diferente de “Noé”, que faz um caminho “conhecido”, aqui temos uma alegoria densa e opressiva onde a mãe natureza é deixada de lado e Deus vai criando e criando e criando, onde não há saídas quando há o livre arbítrio. Mas tudo são alegorias e não há solução. Nada está decifrado ou definido. É um filme, em suma, pessimista com o mundo. Com o ego. Com o humano. Jeniffer Lawrence está bem no papel, entregue e oprimida por todos ao seu redor. Interessante ver como a câmera está o tempo todo nela e o não ver o todo ao redor nos gera um incômodo, uma angustia. Bardem está ótimo e com pouco mais que olhares e leves ações consegue nos dar o seu peso, seu desdém, seu desamor ou seu amor pelo todo e por si. Harris e Pheiffer estão estupendos, densos, intensos – ela está odiosa. Excelente.


“Mãe!” é ousado, intenso e difícil. Não apenas de entender, mas também de ver o mundo se voltando contra um ser que acompanhamos por toda fita. É épico, terror, suspense, drama. É ainda mais maluco que “Cisne Negro”, mas é uma experiência que merece ser vista se você tem estômago...

Vitor Stefano
Sessões

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