Melancolia

Nome Original: Melancholia
Ano: 2011
Direção: Lars Von Trier
País: Dinamarca, Suécia, França e Alemanha
Elenco: Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling, Alexander Skarsgård e John Hurt.
Prêmios: Melhor Atriz em Cannes para Kirsten Dunst. 


Os rituais. O protocolo. O esperado. As convenções. A normalidade. As doenças que o mundo cria na mente humana. O fim do mundo. A beleza da dor.

Os primeiros minutos de Melancolia são de uma plástica que faria Monet molhar a coluna. Um prólogo banhado em ópera, imagens em slowmotion e referências a grandes obras de arte. Tudo meticulosamente dirigido e editado, fazendo com que o expectador tenha a certeza de que um filme graúdo o espera. Aliás, os cartazes e fotos promocionais do filme são todos extraídos destas cenas iniciais. Ali referências claras à Kubrick em seu irrepreensível “2001 - Uma Odisseia no Espaço”. Aliás, música clássica e dança de corpos celestes é algo que se bem copiado não denota insuficiência de criatividade.



E de fato, um grandioso trabalho que proporcionou um resultado que faltam as palavras para descrever, mas acho que a expressão comum no nordeste “não vale o que o gato enterra” nunca soou tão ajustada. Meu Deus! Que filme ruim! Lars Von Trier conseguiu chegar ao filme mais estético, cabeça e enfadonho que me lembro de ter visto na vida.

E não vá dizer que não tenho sensibilidade ou know-how para avaliar. Não me gabando de nada e com testemunhas de peso, posso dizer que tenho um pouquinho da verve sim. Entendi tudinho e vi claras referências a filósofos contemporâneos que o povo sai falando por aí, geralmente sem muito conhecimento de causa. Isso, isso – eu estou falando de Niestzche e Schopenhauer.

Mal estar da civilização, a fragilidade do ser humano, rituais antropológicos estão ilustrados ali de uma maneira pessimista mostrando que a busca da felicidade é a invenção mais tonta dos últimos séculos. Tá, mas as metáforas são mal empregadas, as conclusões das cenas são um tanto óbvias, depois do prólogo nada é surpreendente em momento algum.

No entanto, dar crédito a quem merece há de ser feito. Kirsten Dunst venceu em Cannes como melhor atriz e de fato, vi ali um esforço atlante dos atores em tirar algum caldo de toda aquela pataquada e Dunst ou qualquer outro ali não conseguiu maquiar o equívoco que foi este filme na carreira brilhante de Trier, porém houve tentativas. Afinal, a cara deles estava para bater também.

Importante registrar que ao sair do cinema eu ouvi uma conversa saída de um grupinho de três jovens e entre os comentários deu para escutar um: “Que ótimo filme, adoro as coisas deste cara!” Será que eles estão tão sugestionados quanto a protagonista do filme e serão os melancólico-depressivos de amanhã a espera do fim do mundo?

Já dizia Noel Rosa: “Onde está a honestidade?”

Leandro Antonio
Sessões

Comentários

  1. Adoro discordar de você, Leandro! rs
    Eu gostei de Melancolia (na verdade, ainda estou meio digerindo o filme, mas acho que gostei... rs), apesar de ter certeza que não é o melhor de Von Trier.
    Acho que são justamente os detalhes, e não a trama principal, que tornam esse filme interessante - pois é, não achei ele chato. A câmera voyeur, que passeia na cena, que nos faz sentir invasores. A contraposição das duas partes do filme. Em Melancolia, a ironia é que uma das coisas menos importantes é o planeta que vai colidir - em contraste com os males da vida, ele é o mal maior.

    Ainda acho que o fato de você apreciar um filme que fala sobre depressão não significa que você é um depressivo. A arte nos permite transcender os limites do que somos. Discordo totalmente da visão de mundo expressa em Melancolia - mas ainda assim, consigo apreciar sua riqueza!

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  2. Ju, pode discordar sempre que quiser, mas uma hora em que concordar avise também. rs. Obrigado por ler o texto e opinar.

    Lembro que eu assisti ao filme apertado. O luminoso escrito masculino me chamando. Não fui ao banheiro durante toda a sessão pensando: Algo interessante vai acontecer agora, mas... aff! Curioso que é muito mais engraçado comentar os filmes de que não gostou.

    Leandro Antonio
    Sessões

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  3. Oi Leandro,
    Acho muito saudável uma voz se levantar para dizer que o rei está nu e que von Trier não é um gênio da humanidade como a quase unanimidade acredita.
    Concordo que 'Melancolia' é um filme-metáfora de uma obviedade gritante e que o diretor se empenha mais na forma que no conteúdo, mas antes um ver pastiche de Nietsche do que uma continuação de Pânico ou Harry Potter.
    Existe um problema muito sério quando vemos um filme com sono ou apertados como você mencionou que estava, isso distorce nossa percepção.
    O filme tem suas qualidades sim e é uma introdução desta geração a temas mais áridos, como a depressão. É esteticamente impecável e tem uma série de significados escondidos, que nos fazem pensar nele por dias, o que é mais que a maior parte dos filmes que tenho visto. É divertido.
    Em resumo, von Trier não é um gênio da raça, o filme não é revolucionário, mas é interessante, bonito e estimulante.
    Parabéns pelo post e por confrontar a unanimidade.
    Abs!!!

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  4. Valeu, Armando!
    Juro que eu estava concentrado. Até meditei um pouco antes do filme, porque queria estar com a cabeça limpa. Estar apertado veio depois que já tinha acabado a Parte 1 - Justine, que eu na minha visão é ainda mais chata que a Parte 2 - Claire. Enfim, talvez eu esteja ficando muito chato também. Quem sabe daqui a alguns anos eu reveja Melancolia e encontre algo.

    Abraços

    Leandro Antonio
    Sessões

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