Eles Não Usam Black Tie



Nome Original: Eles Não Usam Black Tie
Ano: 1981
Diretor: Leon Hirszman
País: Brasil.
Elenco: Gianfrancesco Guarnieri, Fernanda Montenegro, Francisco Milani, Carlos Alberto Riccelli, Bete Mendes e Milton Gonçalves.
Prêmios: FIPRESCI e Grande Prêmio Especial do Júri do Festival de Veneza, Gran Coral no Festival de Havana, APCA de Melhor Ator (Gianfrancesco Guarnieri).


Só quem sofreu sabe. Só quem foi esfolado, estuprado, escarrado ou humilhado sabe. Mas quem realmente nunca esquecerá é quem perdeu a liberdade. Ditaduras nunca são inteligentes ou prósperas num longo período. Aparentemente no curto prazo resolvem problemas pontuais, impõe ordem e refaz cria um ímpeto patriótico, que por fim torna-se paúra. Eu não vivi essa época e talvez você também não, mas não é possível que em 2013 pensemos em viver em ditadura para haver crescimento. Vivemos ditaduras diversas: do conhecimento, da liberdade de expressão, da liberdade de sair pela madrugada sem ser assaltado, liberdade de viver sem ter que trabalhar para pagar contas ou mesmo a liberdade de jantar num restaurante sem ser sequestrado. Vivemos a ditadura da ditadura da liberdade. Que liberdade, igualdade e fraternidade o que? Eu só quero é ser livre, nem que pra isso eu tenha que trabalhar muito. 


E quem não usa black tie, pode ser livre? Deve. E como se conquista isso? Com greve. As greves no Brasil são um capítulo estudado em escola desse país e com devida justiça. A década de 80 foi uma das mais conturbadas da nossa história não apenas pelo movimento sindicalista como pela derrocada dos governos militares e sua truculência. A peça clássica de Gianfrancesco Guarnieri, adaptada ao cinema, conta com sutileza e certa beleza na abordagem de uma família operária e as suas agruras. Um pai, velho combatente e mente pensante no movimento sindicalista. Um filho, busca no trabalho apenas seu sustento e de sua futura esposa que está grávida, que o faz até contrapor o movimento. Ambos são sustentados pela mãe, dedicada, fiel e sempre zelosa. Sua nora, mesmo grávida, trabalha na fábrica, sofre com a educação de seu pai e tem em suas veias sangue socialista. Seu pai está perdido para o vício do álcool. E a cidade está inflamada pela busca de uma vida melhor, mais justa e com seus direitos intactos. Prisões, abusos, repressão e mortes. A vida operária é de morte. A história foi feita.



Um clássico do cinema nacional para ser visto e revisto. Mesmo que sua veia comunista nunca tenha pulsado. Que seu ímpeto socialista se baseie apenas na carona compartilhada nos dias de rodízio. Até se você é daqueles só de saber que é um filme nacional já torce o nariz. É um filme obrigatório. Motivos? Vários. A história do Brasil está expressa nas 2 horas de filmes. A vida da família brasileira está representada na película. Alguns dos melhores atores da nossa história estão em grande forma: os ótimos Carlos Alberto Riccelli, Francisco Milani e Bete Mendes em ótimas atuações. Ofuscados apenas pelos geniais Milton Gonçalves, Gianfrancesco Guarnieri e Fernanda Montenegro. 

Um dos últimos filmes do diretor Leon Hirszman é uma pequena obra prima. 

Vitor Stefano
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