A Última Tentação de Cristo

 


Fazer filme sobre uma figura tão conhecida, estudada, amada e seguida é dificílimo. Pois além de tudo isso há uma projeção da cultura investida e já incrustada na sociedade. Em sociedades cristãs, desde novinhos somos apresentados a Jesus e a sua mítica jornada. Do homem que é filho de Deus e que morre por todos nós. Um ser desses torna-se um mártir, um ideal, um pilar. Como mexer com isso? Scorsese fez. E como fez.

Mas ele faz isso com paciência, parcimônia e vai mexendo na memória da pedra com calma. Somos apresentados a figura de Jesus em seus últimos anos e aproximando-se da dúvida, do medo, das tentações. A aproximação dos apóstolos se dá mas há aqui já um sentimento ambíguo. Judas é seu apóstolo mais próximo. Maria Madalena diz sobre ele ter quebrado seu coração. Sua mãe, Maria, não tem tanto destaque assim. Sua ira está a prova. 

Scorsese aproveita da divindade já conhecida e nos provoca a refletir sobre a outra esfera de Jesus. Não do sofrimento quase sadomasoquista em A Paixão de Cristo. Mas da humanidade desse cidadão Jesus. Ele que crê mas descrê de sua santidade. Ele que sente a raiva mas diz sobre amor. Ele que constrói as próprias cruzes já sabendo do seu destino em sonhos. Ele vendo o diabo lhe tentando e não sendo tão cauteloso assim. 

E quando vemos a jornada épica na cruz há um devaneio, uma graça, uma provocação ou mesmo um senso de humanidade. Jesus poderia não ser nada disso? Ele poderia sonhar com uma vida comum? Ordinária? Mas é tudo que já estão pregando sobre ele aos quatro ventos? É tudo verdade? Mas o que é verdade afinal? 

Scorsese aproveita de sua religião católica pra ser cineasta e nos fazer refletir para além do que já está feito. Do que já nos moldaram a mente. E graças a uma ótima atuação de Defoe somos impactados com a beleza, com a urgência, com a fabulosa chance de sentir a vida humana e não a busca por santidades e milagres. A trilha sonora é impactante. A ambientação linda. Os efeitos muito bons ainda. Jesus, um mano. Jesus, um ser. Que bom refletir sobre isso. Obrigado, Scorsa.

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