Xingu


Nome Original: Xingu
Diretor: Cao Hamburguer
Ano: 2012
País: Brasil
Elenco: João Miguel, Caio Blat e Felipe Camargo
Prêmios: 3º lugar no Panorama Audience Award do Festival de Berlim.
Xingu (2012) on IMDb



Se nos contassem a verdade durante o ensino médio, deveríamos aprender um pouco mais da história real. Conquistar o Oeste é história boa para os faroestes dos engomadinhos além do Equador. Para nós, conquistar territórios mata adentro só significa crescer em mediocridade em busca de hectares para mostrar quem é mais poderoso. Exterminar a história que realmente construiu esse território não é nada orgulhoso, muito menos por terem tornado esse solo vermelho, mas de sangue.  Leonardo, Claudio e Orlando Vilas Bôas são verdadeiros heróis nacionais. Não, eles nunca conquistaram um campeonato ou uma vitória, mas eles preservaram o que há de mais genuíno nesse Brasil. Aliás, a única faceta realmente brasileira. Que o índio passe a ter a verdadeira importância que merece. O índio é o verdadeiro brasileiro. Brasil deveria se chamar Terra Vermelha.

Aos olhos de Claudio podemos acompanhar a jornada espetacular que os irmãos seguiram. Não existem motivações ou porquês. Eles apenas vão ao meio do país e comandam uma expedição para desbravar o desconhecido. Sem tecnologias ou aparatos, conseguem contatar povos nunca antes tocados, que nem sabiam o que era um branco. Os vermelhos estão lá, sempre estiveram. Qualquer aparição diferente seria motivo para estranhamento. Mas com a inteligência e audácia dos irmãos, a convivência foi possível e agora podemos dizer necessária. Não fosse assim, não existiriam mais aldeias, só teríamos estradas. Os envolvimentos, as expedições, as brigas, os romances... não preciso contar nada. Ver o filme é o melhor modo para entender o que quero dizer. Não é necessário falar de sinopse, da história, é preciso ver.

Cao Hamburguer consegue extrair das telas uma paixão, uma ternura onde passamos de burros conservadores a nacionalistas inflamados. Consegue mostrar que o que todos nós fazemos é muito pouco. Que o que fizemos com os índios durante esses 512 anos foi o maior genocídio da história. Hitler deve ter orgulho de nós, brasileiros. O filme é tecnicamente impecável, como sempre são as produções de Cao e mantendo a qualidade que nos emocionou com “O Ano...” . Cao está num patamar acima, pois sabe como poucos mostrar a essência humana através das lentes. Fez mais do que um filme, mais do que uma homenagem, contou a nossa história. É um filme que todos devem ver, que escolas devem usar para ensinar, que os pais devem mostrar aos filhos como podemos ser.

Além do diretor, a escolha de elenco é um Oasis aos amantes do cinema nacional atual. Temos na tela dois dos melhores atores do nosso cinema contemporâneo: João Miguel e Caio Blat são de tirar o fôlego. A câmera e eles tem uma relação como de marido e mulher em lua de mel. Completando com o sumido Felipe Camargo que também está estupendo. A história desses verdadeiros super-heróis que com uma força sobre humana, conseguiram atingir um sonho que aflige nossa sociedade atualmente: como combater o sistema. Eles conseguiram, com muito custo e doação. Precisamos nos doar mais, nos envolver mais, dar mais nossa cara a tapa para conseguir que esse Território vire um país decente para se viver. Os Vilas Bôas já começaram, não vamos ficar de braços cruzados esperando que outros Fernandos, Claudios e Orlandos apareçam. Não vão aparecer.


Xingu é eterno, o Brasil pode morrer. Vá ao cinema!

Vitor Stefano
Sessões

Comentários

  1. Xingu não recupera o genocídio indígena provocado pela colonização européia no Brasil por séculos nem consegue entrar profundamente nas complexas particularidades que vivificam a cultura indígena face à cultura ocidental. Mas a abordagem "aventuresca" e muito sensível do momento na história do Brasil em que estavam se assentando as bases para o surgimento do importante Parque Nacional do Xingu é fundamental para a formação de uma crítica de aproximação com outras culturas para a tolerância.

    Simplesmente dá vontade de largar tudo e ir morar no meio da selva, de mexer um pouco com o mundo.
    Alguns amigos meus fizeram isso e logo, logo, estarão de volta pra me contar o que acontece longe do trânsito, da internet, da grande cidade.

    Ótimo filme.

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  2. Filme excelente. Uma ótima produção e uma direção brilhante do Cao Hamburguer. Super recomendado.

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  3. Um filme importante e relevante para conhecermos a história dos povos indígenas da Amazônia e a fantástica contribuição dos irmãos Villas Boas, figuras que deveriam ser mais lembradas e reverenciadas na nossa história. Produção impecável, com destaque para as belas trilha sonora e a fotografia. O elenco profissional e amador estão ótimos e o roteiro não faz concessões fáceis ao drama ou tomance. Comovente e, desde já, um dos melhores momentos do cinema brasileiro.

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