A Separação

Nome Original: Jodaeiye Nader az Simin
Diretor: Asghar Farhadi
Ano: 2011
País: Irã
Elenco: Peyman Moadi, Lelila Hatami, Sareh Bayat, Shahab Hosseini e Sarina Farhadi.
Prêmios: Oscar, César e Globo de Ouro de Melhor Filme de Língua Não Inglesa, Urso de Ouro, Prêmio do Júri Ecumênico e Urso de Prata de Melhor Ator e Atriz no Festival de Berlim.
A Separação (2011) on IMDb



Dividir, Desagregar, Desanexar, Desmembrar, Desintegrar. Não importa qual é a palavra, a separação é a morte em vida. Um mundo que desmorona e encobre as almas puras e sonhadoras que construíram uma história e descobrem que chegou o momento de voltar para o mundo real, irreal. A convivência cria, divide, humaniza, ensina. A vida a dois depende da boa vontade, de ideais e de leis internas bem esclarecidas e reconhecidas pelas partes. A vida a dois é difícil, mas buscar a morte desse conjunto criado com tantos sentimentos positivos catapultando tudo que foi criado em detrimento de um futuro incerto é absolutamente amedrontador, corajoso, apreensivo. Uma separação nunca será fácil, muito menos quando se vive num país onde não sabemos mais o que é a liberdade e até onde a religião nos amputa a pensar como seres humanos que somos, mas, por vezes, não parecem.

Estamos diante de um casal que está olhando para frente, mas em caminhos divergentes. Eles discutem a separação e, nós, como juízes, ouvimos as explanações e os motivos pelos quais olham em estrabismo. Um abismo entre pensamentos. Simin quer fugir e dar a oportunidade para que Termeh conheça o mundo que ela acredita que exista fora do Irã. Já Nader não consegue deixar suas raízes, muito menos seu pai com Alzheimer e que já nem se recorda de quem criou. O Irã é uma ilha isolada no mundo, particular, única – um país dirigido por ditadores, feito por rebeldes, controlado pela religião e que resiste pelas mentiras. Em “A Separação” vemos tudo, aliás, temos a impressão que vemos tudo, mas a verdade é que a verdade exibida a cada frame está sempre atrás do temor pela punição divina ou da consciência.


O divórcio não sai, mas Simin volta para a casa da mãe e Termeh opta por ficar com o pai, inclusive para ajuda-lo com o seu avô. Nader precisa de alguém para ficar com o pai enquanto está no trabalho e Razieh é a opção que lhe aparece. Muçulmana convicta e devota, um anjo, uma abnegada, uma pessoa que vive para não cometer pecados. O medo a persegue, uma frágil porcelana que parece se quebrar num primeiro toque. De aprendiz de governanta de um homem a acusante de assassinato de seu filho, um feto, por um empurrão a dissimuladora da verdade a desesperada para salvar um marido que tem o juízo do outro lado da fronteira a uma mulher enclausurada por baixo da burca e da vergonha. Um ato impensado, uma omissão, uma mentira muda todo o contexto. A vida de todos os envolvidos nunca será a mesma. Além da separação em andamento, um julgamento sobre o assassinato do não nascido toma frente. A morte e a vida são frágeis demais para serem julgados por um mero humano.

Em um país onde respirar pode ser uma ofensa ao regime ou ao Corão, “A Separação” nos aproxima de um mundo particular e impenetrável. Vemos que por conta dessa separação do mundo, o Irã dos carros franceses, dos celulares japoneses é por vezes muito mais próximo do que imaginamos. Vemos que apesar das distâncias, fronteiras, costumes, sistemas políticos e religiões o mundo é muito mais próximo do que nos vendem: a mentira é o sistema que rege todo o globo. Uns por prazer, outros por ganância, outros para criar um mundo perfeito. Se vemos tantas explosões, clichês, romances novelescos no cinema, quando nos deparamos com uma verdade, entendemos que o cinema pode ultrapassar todas as fronteiras e todos os moldes já criados. “A Separação” vem para mostrar que o mundo real é mais cruel do que as fábulas que vemos na tevê.





O filme é absoluto em cada minuto. Tira o fôlego, diz tudo sem precisar falar muito. É de sutileza imperceptível o arrombo que causa em nossas profundas almas com os olhares sensíveis e sem rumo dos personagens que vemos na telona. Farhadi conseguiu extrair a melhor expressão do que é o Irã aos nossos preconceituosos olhos através de um roteiro minucioso e costurado com muito zelo. Vemos que a partir do olhar de uma criança a liberdade, o medo, a indecisão, mas sempre com a vontade de seguir em frente, de ver a família unida. Aos olhos de uma criança a mentira é o pior dos pecados. Que pena que não existem mais olhares de crianças nesse mundo sem verdades. “A Separação” é destruidor, desolador, arrebatador


Vitor Stefano
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