Cidade dos Sonhos


Nome original: Mulholland Drive
Diretor: David Lynch
Ano: 2001
País: Estados Unidos e França
Elenco: Naomi Watts, Laura Harring, Dan Hedaya e Melissa George.
Prêmios: Melhor diretor em Cannes, Melhor Edição pela British Academy Awards, Melhor Atriz, Diretor e Filme pela Associação de Críticos de Cinema de Chicago e Melhor filme estrangeiro pela Academia Francesa de Cinema.
Cidade dos Sonhos (2001) on IMDb

Um pouco sobre sonho

Caros,nobres,excelsos,leitores,primeiramente eu gostaria de agredecer-lhes a presença e,segundamente, os comentários.

O filme que escolhemos para comentar foi o Mulholland Drive ou Cidade dos Sonhos(em português) e o motivo que me levou a escolhê-lo foi,por assim dizer,um sonho que tive.

O que se segue será melhor apreciado por aqueles que já assistiram o filme embora isso não seja considerado condição "sine qua non".

Se contasse o filme de uma forma resumida sua estória caberia em uma frase simples:Trata-se de uma história de amor em hollywood.

O grande problema é como chegar a essa conclusão e se só isso basta para definir um narrativa complexa de quase 145 minutos de aparente non-sense.

Se o leitor já estiver satisfeito com o resumo pode deixar a leitura aqui e se ocupar de outras coisas,se não, eu gostaria de tecer alguns comentários de algumas impressões que tive.

Uma característica marcante das obras de Lynch,pelo menos no que tange a estrutura narrativa de alguns de seus filmes, é justamente o rompimento de paradigma que divide uma determinada estória em começo,meio e fim.Em cidade dos sonhos o modelo narrativo se apresenta de modo distorcido como se a linha norteadora do filme se mexesse sem encontrar um lugar fixo.Ora contorcendo e se escondendo,ora distorcendo e se mostrando.Leitor,eu quero dizer que não há aqui um começo com a apresentação de personagens,um meio com a confecção de uma trama e um fim com o deleite ao público de um final que ,na maioria das vezes,já se conhecia. A rigor,chega-se ao final de Cidade dos Sonhos com a impressão estranha de dúvida e não raro sem saber o que aconteceu ou ainda com a pergunta do tipo:"Que porra é essa?"

Se o leitor teve essa impressão felicitações possivelmente o filme deixou alguma coisa a mais do que um final feliz ou uma sensação do tipo:"Tá vendo eu sabia que era ele o bandido!"ou "Como eu sou maroto,sabia que ia acontecer isso!!!".

Mulholland Drive é uma obra aberta: por mais que se discuta haverá sempre algo a se discutir.E as interpretações poderão ser diferentes dependendo de como se assistiu o filme.

Lynch,em uma entrevista para um jornalista francês, disse que para entender Cidade dos Sonhos é preciso prestar atenção a todos os detalhes.O que o cultuado diretor deseja é um espectador atento e esperto o suficiente para não se deixar levar pelo cinema fácil da "interpretação revelada" neste sentido os seus filmes exigem um esforço por parte daquele que assistem acabando assim por criar um público mais exigente ao invés de um público macaco-acéfalo de Hollywood.

Particulamente eu nunca havia entrado no sonho de alguém para saber o que lhe vai na mente.Não sei quanto aos leitores mas os únicos sonhos de que já fiz parte e que me lembro foram os meus própios ou de alguém que me relatou um pesadelo de cuja história fui protagonista.

Digo isso porque a primeira parte,e não o começo, do filme é o sonho de Diane(Naomi Watts) na personalidade de Betty,uma esperançosa e até certo ponto(tudo é permitido quando se sonha)ingênua garota que vai tentar a sorte em hollywood como atriz.

Tudo aqui é produto do inconsciente de Diane que dorme.

A primeira cena mostra uma mulher bonita,morena e elegante dentro de uma limosine que sofre um acidente de carro e perde a consciência indo instintivamente para na casa da "tia" de Diane que é Betty no sonho.

Betty encontra-a na casa de sua tia e passa a ajudá-la a descobrir quem ela é.Na realidade trata-se de Camila Rhodes que no sonho chama-se Rita.

Achei sintomatico o fato de que Betty seria a "mocinha" na primeira parte do filme que sempre solícita e prestativa assiste à Rita confusa e desprotegida.

Creio que foi Freud quem disse que "o sonho é a realização de um desejo" as impressões indesejáveis à que somos expostos no dia-a-dia são mandadas para o "lixo" da mente,o inconsciente, e lá trancafiados pela pelo estado de vigília do consciente.Mas durante o sono os pensamentos são liberados produzindo os sonhos.

Quiçá,porque temo em afirmar alguma coisa séria no terreno escorregadio da narrativa de Lynch,o fato de Rita estar literamente sem saber o que está acontecendo é uma ótima oportunidade de Betty exercer sua "ajuda" a amiga.

Se o leitor ao assistir o filme prestar atenção verá que a primeira cena aparece Diane rindo com luzes no rosto como se estivesse recebendo alguma premiação de atuação e logo depois um lençol vermelho que sugere que onde há cama há sonho.

Diversos outros fatores indicam que Betty está sonhando:O primeiro é a ilogicidade da narrativa.Nada é conectado.De uma cena com Rita parte-se para um anão (Sr Roque) que aparenta ser o Chefe de uma máfia da indústria cinematográfica,um diretor (Adam Kesher)que se vê cortado de um filme que estava produzindo por não ter escolhido uma determida moça para o papel principal além de ter sido traído no mesmo dia pela mulher com o limpador de piscinas ao que tem uma atitude infatilíssima de jogar tinta nas jóias da mulher,a chave azul na bolsa de Rita além dos doláres que não sabe da onde vieram,o sonho de Dan com um monstro horrível que se esconde atrás do restaurante Winkies, o Cowboy cheio de metáforas que ameaça o diretor,Louise uma mulher que aparece no meio da noite na casa de Betty e lhe diz que algo ruim está acontecendo e que ela não era a Betty,o ladrão atrapalhado que acaba matando três pessoas quando precisava matar uma só,o fato de Betty se sair extremamente bem em uma encenação para atriz que no dia anterior só ensaiara com Rita que a propósito lhe elogia;Quando Betty sugere que liguem para polícia para saber do acidente em Mulholland Drive e diz que era só fazer como nos filmes:fingir ser outra pessoa,ou quando liga para "Diane" e diz :deve ser estranho falar com si mesma e etc.

De qualquer forma Betty e sua amiga Rita vão à casa em que supostamente Rita moraria e encontram um corpo em putrefação na cama que ao que tudo indica seria o da própria Betty enquanto Diane.

A partir daí Rita quer deixar de ser morena e passa a usar uma peruca loira.Qual a finalidade disso? Leitor,o inconsciente deve ter a sua própria lógica mas pode ser que Betty desejasse que Rita fosse fisicamente mais parecida com ela.

Rita,agradece a Betty tudo o que ela lhe havia feito até ali e elas se beijam e fazem amor.

Penso que,possivelmente Diane enquanto sonhava ser Betty transando com Rita gozou ou pelo menos se molhou um pouco.O leitor não tem do que se ruborizar não é vergonha para ninguém sonhar e acordar excitado ou "molhadinha" além do que ninguém é moralista no sonho porque o sonho é por si só amoral.O que temos,portanto, são duas mulheres bonitas,uma loira e uma morena,transando ou fazendo amor, numa cena belissíma visualmente.

Rita acorda,misteriosamente,no meio da noite,dizendo:"Silêncio" com sotaque espanhol e chama Betty para ir em um lugar.O club silêncio.

Essa cena,acredito ser a mais bela do filme,mostra de forma Lynchiana o que é o Real e o que é o Verossimilhante ,ou seja,o que é Verdade e o que tem aparência de verdade.

O apresentador do espetáculo tem um ar sombrio e logo de início solta no ar:"No hay banda","there is no band"il n'y pas de orquestra", e o som ao fundo dá um toque de suspense.
Ele repete diversas vezes como que dizendo: a despeito de não vermos,sentimos, as vezes sentimos coisas que não existem.Somos cooptados pela beleza de uma ilusão que nos enche de lágrimas sem que não passe de uma ilusão.Ele está querendo dizer para que não acreditemos em tudo que vemos talves seja uma gravação,uma ilusão do inconsciente de alguma Diane frustada.
A chorona de Los Angeles,Rebekah del Ril canta uma música(lhorando) do Roy Orbison que traduz em grande medida a perspectiva de um amor que não deu certo por parte de Diane.
Em certa altura da música Rebekah cai no chão e a música continua com o mesmo ritmo sem contudo alguém representando a interpretação.Nos damos conta de que era playback e que o pior de tudo que nos emocionou.

Daí em diante,leitor,é que o quebra cabeça se encaixa.

Diane acorda, a realidade bate à porta e Diane está só.Seu relacionamento com Camila já terminara.Diane tem alucinações com Camila.Diane chora(lhorando),vê tudo desfocado,fica sem folêgo,se bate se masturbando por Camila que lhe convida para a festa de anunciação de seu casamento com Adam Kesher(o diretor).Na festa Diane vê todas as pessoas que lhe entraram no sonho e é tratada com piedade pela mãe do Diretor (Coco).Diane então contrata o matador atrapalhado de seu sonho para assassinar Camila e lhe paga alguns maços de dolares,justamente,os dolares que ela,Diane, colocou na bolsa de Rita no sonho.

Diane acorda e vê uma chave azul que serviria de sinal quando o trabalho do matador estivesse sido realizado a essa altura Camila já está morta.

Arrependida Diane tem alucinações,ouve vozes,vê dois velhinhos lhe atentam,grita, estertora e fugindo de seus próprios demônios explode-se com um tiro de 38 na boca.
O quarto enche-se de fumaça e o filme termina.

O que fica de uma coisa dessas?Qual é a mensagem de um filme como este?O que se deve entender de Mulholland Drive?

Espero que o leitor do Sessões assista e tire suas próprias conclusões.

Gostei muito de escrever sobre esse filme porque não entendi dá primeira vez que assisti e não sei ainda se entendo mas aprendi que entre não entender e entender facilmente eu escolho ficar com a dúvida.Algum dia desses nós dos sessões e os leitores podemos nos encontrar para discutir alguma coisa sobre o filme.

PS:ACORDA,LEITOR,TUDO O QUE FOI DITO É REAL E VERDADEIRO.EU NEM EM SONHO FARIA ISSO COM VOCÊ.

ATÉ A PRÓXIMA!!!

Fernando Moreira dos Santos
Sessões.

Comentários

  1. Sonhos? Que sonhos? Cidade dos Sonhos? É Hollywood? Freud não explica. David Lynch sim.
    Em um mundo ditado pelo desespero, pela busca pelo sucesso, pela utopia da felicidade. Ira, luxúria, inveja, vaidade, preguiça, gula, avareza. Não, não comentarei sobre o filme Se7ven, mas sim sobre a realidade do mundo sujo por trás da beleza das cenas vistas na tela grande. Tudo se mistura por um único intuito. Viver uma vida dos sonhos. Seria mesmo um sonho? Ou seria um pesadelo?
    Hollywood é uma ‘fábrica de sonhos’ e esse ‘Cidade dos Sonhos’ mostra exatamente o quão imundo é o meio cinematográfico da cidade dos Anjos (Los Angeles). Lá o que existe é: brilhar custe o que custar!!!
    O custo será caro. Submeter-se a subornos. Suportar pressões desagradáveis. Ser sabotado. Agradar outrem para se beneficiar em detrimento de terceiro. Vender a alma ao diabo. Atordoar-se pela própria consciência. Quem sabe pagar com a própria vida.
    Estou exagerando? Quando se sonha não há exagero. É sonho.
    E se não for?

    Por que tentar explicar esse filme? É um filme? Por que entender? Pra que entender o texto? Não tem sentido nenhum? Surreal. Lynch foi além da consciência cotidiana, libertando-se da razão e da lógica. Não tente entender. É um sonho! Não tente entender.
    Acorde! Liberte-se do pesadelo.

    “Por que morrer?
    Porque o sonho se tornou pesadelo.
    Porque a razão humana é mais hipocrisia e menos verdade.
    E a liberdade é apenas, para os ingênuos, uma inalcançável utopia.”
    (Ramón Sampedro, Cartas do Inferno – Editora Planeta – Pagina 84).

    “No hay banda. There´s no orchestra. Il n’y a pás de orchestra. It´s all recorded. It´s all in the tape”.

    Mulholland Drive. Estrada da Morte
    Hollywood. Cidade do pesadelo.
    David Lynch. Insanamente único.

    Vitor Stefano
    Sessões

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  2. Recortes Psicóticos do Inconsciente

    Em prosa, pode ser uma crítica ao Cinema Hollywoodiano onde duas atrizes obcecadas pelo sucesso se apaixonam e se enfrentam paradoxalmente a ponto de provocar conflitos, loucura e mortes. Em prosa.
    Em poesia, Cidade dos Sonhos, revela um grande universo inconsciente inserido em uma estória que ‘pode não ser uma estória’. Distorcidos e deslocados, os fatos fogem da linha regular do tempo e sofrem interferências de elementos surreais e desconexos. Em poesia...

    ‘Silêncio!
    Nunca houvera banda!
    Ilusões? Realidade?
    Quem sou? Onde termina o um e começa o outro?’

    Atuações estranhas. Estética aleatória.

    Betty é Diane que também é Camilla, e é Rita.
    Também é?
    As personagens e personalidades se confundem, sonho e realidade se confundem.
    As cenas surgem como lapsos do subconsciente das personagens, que se afogam dentre devaneios, inversões de personalidade e de posições sociais.
    Quem sonha? Camilla? Daiane?
    De fato são duas personagens?

    As belas atrizes beijam-se delicadamente, apaixonadamente.
    Quem o diretor escolherá? Ele tem escolha?
    O que faz Diane suicidar-se?

    Masturbação, morte!

    Onde se encaixam todos os personagens aleatórios?
    Esta fita nos leva a múltiplas interpretações.

    Camilla Rhodes está em Los Angeles, Hollywood.


    Mateus Moisés
    Sessões

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  3. Apenas uma dose de Cidade dos sonhos não foi suficiente para mim. Para entender a história, tive de assistir a esse filme duas vezes. Ainda assim, confesso que não compreendi a importância de algumas personagens secundárias.

    Em Cidade dos sonhos, o diretor David Lynch tenta embaralhar a cabeça do espectador, especialmente porque as cenas acontecem em três planos distintos, porém complementares: o onírico, o real e o que diz respeito à memória. As cenas oníricas dominam o filme –– e nos confundem. O plano real, breve no início, sobressai no desfecho –– para entendermos a trama. As situações relativas à memória são perigosas –– pois não sabemos se elas são de fato verdadeiras.

    Creio que o título do filme remete à cidade de Los Angeles, espécie de eldorado onde todos os sonhos-desejos são permitidos, sobretudo em razão das companhias cinematográficas de Hollywood, e também aos sonhos-sonhos –– e aos pesadelos –– da personagem principal, Diane (Naomi Watts).

    Cidade dos sonhos merece ser visto. Não é um filme inovador, embora contenha elementos interessantes, tais como: metalinguagem: o filme dentro do filme, flashbacks, desordem cronológica e atrizes que atuam em mais de um papel, ora admiravelmente bondosas, ora perversas até o último fio de cabelo. A propósito, a interpretação de Naomi Watts é uma das melhores que eu vi nos últimos tempos, sobretudo nas cenas de grande tensão e erotismo. Eta mulherzinha gostosa!

    A história é mais ou menos assim: cena A: num carro, na estrada X, dois homens conduzem uma bela morena a algum lugar, que podemos chamar de Y. Cena B: dois carros, ambos abarrotados de jovens, apostam corrida na estrada X, mas em sentido oposto. Cena A1: de repente, o motorista pára o carro, vira-se para trás, aponta um revólver para a bela morena e ordena que ela desça. Esta, puta da vida, não lhe obedece. Cena B1: os jovens gritam cada vez mais alto, os motoristas pisam fundo, entram com tudo nas curvas. Cena AB: um dos carros passa, o outro bate de frente no carro em que está a bela morena. Resultado: confusa e sem memória, ela –– a única sobrevivente –– atravessa uma mata em direção à cidade mais próxima, levando consigo uma bolsa. Chegando lá, entra sorrateiramente na casa de uma senhora atriz (ou melhor: uma atriz já senhora) que está indo trabalhar por uns tempos no Canadá. Logo em seguida, para essa mesma casa –– localizada em Hollywood –– chega Betty, sobrinha da atriz citada. Jovem, bonita e talentosa, ela sonha ser uma atriz de sucesso na terra do cinema. A bela morena adota provisoriamente o nome de Rita. Betty decide ajudá-la a recuperar a memória, isto é, a descobrir quem ela realmente é. Tornam-se amigas rapidamente, depois amantes. Entretanto, isso tudo no plano onírico.

    No plano real, porém, a história é bastante diferente: o nome verdadeiro de Betty é Diane, Rita chama-se Camilla. Esta é uma atriz de sucesso; aquela, mais uma que não vingou em Hollywood. E... o amor entre elas foi para o brejo, já era, virou passado: Camilla não a deseja mais e, como se não bastasse, está prestes a se casar com um famoso e arrogante diretor de cinema. Sentindo-se uma fracassada, uma desgraçada, o pior dos lixos, afinal jamais conseguiu os papéis que sonhou e ainda perdeu sua amada, Diane contrata um assassino profissional para matar Camilla. Daí os pesadelos, a saudade, a solidão, o remorso –– e o suicídio.

    O plano relativo à memória talvez seja o mais interessante, pois revela importantes fatos do passado da personagem principal, mas... apresenta apenas a visão dela. Então, surgem as seguintes dúvidas: será que foi assim mesmo? Diane não está exagerando? será que ela não está se fazendo de vítima? Infelizmente (ou felizmente), nunca saberemos a verdade.

    Paulo Jacobina
    Sessões

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  4. Tal qual nossos sonhos, o filme foi feito pra ser sentido sem precisar de entendimentos.
    Em se tratando de sonhos as vezes não entendemos nem os da gente, então, cada pessoa perceberá o roteiro e os seus personagens de modo bem pessoal. Cidade dos sonhos é um filme pra ser questionado.
    Aproveitando.....Parabéns galera, gosto muito das postagens e dos comentários.
    Abraço a todos,
    Angelo (aprendendo a postar comentários...rs).

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  5. Eu amo esse filme! A metalinguagem é mesmo uma maravilha quando bem trabalhada. E Lynch é isso mesmo. O filme não vem pronto para você, pasteurizado. Você vai recriá-lo na sua mente mil vezes e a cada uma delas entender algo diferente. Assisti-o pela primeira vez no Cinemax, no qual passavam durante algumas propagandas partes de uma entrevista com o Lynch em que ele dava dicas para entender o filme. Não consegui ver todas - eram 10 -, mas me lembro de ele comentar sobre a chave, o mendigo e os velhinhos. Hummm...
    Do Lynch, recomendo assistir ao seriado Twin Peaks, que culminou no filme "Quem matou Laura Palmer". É doideira pura.
    Aliás, sabia que Cidade dos Sonhos era, na verdade, o piloto de um seriado? O seriado foi recusado porque dificilmente a pessoas o acompanhariam na sequência e, consequentemente, não o entenderiam.
    Pena, teria sido interessante.

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  6. Carta às metáforas do Sr. Lynch

    O uso da chave põe-me em esdrúxulo movimento diante do espelho côncavo. A construção da imagem real é invertida. Física, realidade, inversão, espelho, eu.
    Eu, inconsciente, subconsciente sobre cama e travesseiro cor-de-rosa busco calmamente a imagem que vejo projetada, a imagem que vejo projetada é cativa, o objeto que refletido não. E agora? O que faço? Busco, num estalo, o irreal Silêncio e tudo não passa de uma gravação. Mera gravação. Embora o espelho côncavo revele uma real e invertida imagem, não existe orquestra. Um trombone em surdina alerta. Llorando... llorando... llorando, não é fácil de entender... llorando...
    Acordar? Não, não é para acordar, mas alguém avisa-me que não posso ser toda a mera, grandiosa e desejada gravação do lado de lá do espelho: “Já está na hora, mocinha!”
    O tão doce espelho côncavo, cobre-se com o mesmo lençol cor-de-rosa que embalou minha construção. Sem perceber imagens não sou capaz de permear conceitos da Física, aliás do lado de cá, não consigo esclarecer nem H.Q. Sombra, realidade, inveja, Coco, eu.
    Silêncio?

    Leandro Antonio
    Sessões

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  7. Cidade Surreal

    Acabei de assistir um filme que não entendi nada e ao mesmo tempo foi um dos melhore filmes que já vi na vida. Parece paradoxal, não é? Mas a proposta de Cidade dos Sonhos é exatamente esta.

    O mestre/diretor David Lynch apresenta uma história que mais parece uma colagem de cenas maravilhosas e imprecisas. O espectador se depara com um enredo, que não é enredo, é tudo sonho, ou realidade, ou uma mistura disso e você nunca sabe onde foi parar – no céu, ou no inferno.

    Eu, que só conhecia o surrealismo em artes plásticas, através das pinturas de Salvador Dali, pude conhecê-lo em outra expressão artística, nesta produção de cinema.

    Cidade dos sonhos pode provocar inúmeras reações naqueles que decidiram assisti-lo. Alguns podem adorá-lo, outros podem aceitá-lo com restrição, e também há aqueles que o odeiam. Mas uma coisa é certa, não existirá expectador indiferente diante do que presenciou.

    Cenas incríveis são introduzidas nesta obra, tais como o espetáculo do teatro Silêncio, em que são apresentadas atrações musicais e cênicas que deixam qualquer um atônito e emocionado. Como não citar a cena em que a atriz faz o teste de seleção para o filme, contracenando com um ator canastrão e aquela emoção que transborda a tela e invade a alma de qualquer espectador.

    A história, que parece não existir, se desenvolve e desfecha de maneira absurda. E assim deve ser, porque uma obra como esta, surreal, não precisa e não pode ser linear ou ter qualquer sentido.

    Merece estar na lista dos melhores filmes já produzidos na história. Nota 10.

    Carlos Nascimento
    Sessões

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  8. Assista "Império dos Sonhos" (INLAND EMPIRE), o último filme do Lynch, que "Cidade dos Sonhos" vai parecer uma historinha bem linear.

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