Misericórdia


A subversão em forma de cinema. Ao nos apresentar logo Jérémie retornando a antiga vila onde aprendeu a viver como padeiro é um retorno desse filho que venceu na vida. Mas o retorno foi pela morte de seu mentor padeiro. E lá reencontra a viúva, Martine e é acolhido por ela. Os problemas de relacionamento do passado surgem aos poucos. Uma tensão se cria. Vincent é quem mais implica com esse retorno. O filho do padeiro sente o ciúmes do acolhimento desse antigo inimigo. 

Passar os dias revendo a padaria e colhendo cogumelos é uma peregrinação lenta e dolorosa. Os desejos do passado tomam lugar. Mas o filme deixa de ser apenas um retorno e se torna um grande noir, polar pros franceses. Um sumiço, uma nova morte, uma comédia. Comédia? Como assim?

Guiraudie apresenta esse enredo de uma forma que tenhamos grandes subversões, provocações. Há uma questão sexual em quase todos ali. Há ciúmes, desejos, fetiches, ausências que ganham contornos absurdos e também sexuais. Temos uma transgressão da palavra que dá nome ao filme com contornos religiosos que dão um peso ainda maior pro que acontecerá. A confissão virá? O complexo de Édipo surgirá? O fetiche pelo amigo assexuado surgirá? A cidade toda apaixonada pro Jéromé nos remete a Teorema de Pasolini mas com muito humor, fixação e paixão. Vem dormir comigo, vem. Guiraudie é um provocador nato. 

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