Falsa Loura

 


Contos de fada servem pra acoplar na sociedade uma realidade idílica, sonhada, idealizada. Molda a percepção e a expectativa de um futuro pra viver feliz até que o fim chegue. Amores, famílias, expectativas, desejos. Tudo isso complicado em historinhas para crianças crerem e criarem sonhos. Lê-los é uma bonita escolha pra termos esperança numa sociedade tão brutal. Falsa Loura sempre foi colocado a mim como uma obra-prima. Esse conto de fadas não se concretiza. Ao menos não pra mim.

Silmara é uma operária que se destaca dentro da fábrica junto a suas pares pela sua beleza. Sua ousadia. Desde o início todas desconfiam de que a grana que consegue é da prostituição. As roupas, o despojamento, a boca suja e histórico lhe dão essa caricatura. Porém todo filme é uma grande caricatura. Como nos contos de fada. Os estereótipos estão colocados como uma forma de identificação, porém esse conto virou uma realidade horrível, triste, lamentável. Silmara passa o filme todo em torno desses sonhos de fugir do trabalho massante, da busca pelo príncipe cantor, dos julgamentos machistas, dos preconceitos abordados pelos seus interlocutores.

Mas aí a ideia de alegoria a um conto de fadas as avessas brasileiríssimo se esvai no uso de cafoníssimas escolhas. Atuações mecânicas, amores improváveis, situações desconcertantes, diálogos expositivos e extremamente problemáticos. 

Um mix de Cinderela Baiana que se dá muito mal, com musical bizarro, inserções de leitura com a moça nua, estereótipos profundamente lamentáveis. Sem falar da trama do pai que não se encerra. Claro, contos de fadas dependem, em geral, de traumas infantis ou órfãos. O pai se foi. Mas outro pai trouxe a grande princesa para desvirgina-lo. Nem no surrealismo isso seria possível ser possível. Nem no realismo. 

Filme feio, com gente esquisita, música péssima, diálogos beirando teatro infantil na estreia com pais na plateia. Uma vergonha alheia do início ao fim. Por bem, teve o fim! 

Meu conto de fadas cinéfilo acabou…

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