Um Limite Entre Nós


Nome Original: Fences
Ano: 2016
Diretor: Denzel Washington
País: EUA
Elenco: Denzel Washington, Viola Davis, Russell Hornsby, Mykelti Williamson, Stephen Henderson, Saniyya Sidney e Jovan Adepo.
Prêmio: Oscar, Globo de Ouro, BAFTA, Prêmio do Sindicato dos Atores de Melhor Atriz Coadjuvante (Viola Davis) e Prêmio do Sindicato dos Atores de Melhor Ator (Denzel).
Um Limite Entre Nós (2016) on IMDb


Cercas são visíveis ou invisíveis. São altas e intransponíveis ou incompletas e desnecessárias. Colocamos o que queremos dentro, excluímos o que não queremos. As cercas são extensão de nossas escolhas, de nossas decisões. Viver apenas com quem ama, com quem respeita, com quem agrega e soma. Fora dela, deixamos apenas o que não nos faz bem, o que divide, o que separa. As cercas são escolhas. As cercas estão em nossa consciência. E todas essas escolhas definem caráter. Quem você é? “Um Limite Entre Nós” é um filme para reflexão, para autoconhecimento, sem ser autoajuda. Pelo contrário, é um espelho onde você se vê nu, isolado, dono de suas escolhas e com as consequências que ela trás. Quem é você? Quem você deixa dentro ou fora de suas cercas, de seus pensamentos, de suas escolhas? Quem? A vida é uma só. A vida é feita das escolhas, dos arrependimentos, das quedas e de reerguer.

O que é a vida?

A vida de Troy não é fácil. Lixeiro e frustrado. Grande jogador de baseball, reclama constantemente da falta de oportunidades no esporte e culpa a cor negra pela não incursão nas grandes ligas. O baseball é uma metáfora comum a ele, onde conta strikes da vida, conquista de bases e dependência dos colegas para alcançar o ponto. Mas sua especialidade é dar home runs que saem de todos os muros com discursos provocativos, incisivos e imponentes com o colega de trabalho, com a atual esposa e com os dois filhos. Troy é o dono da palavra, dono da vida e grande pregador. Rose, sua esposa dedicada, se dedica à casa, a cuidar das finanças e da educação do filho. Também auxilia em cuidar do irmão do marido, que tem algum tipo de distúrbio mental e aparece de vez em quando na casa. Faz também a pacificadora na relação de pais e filhos – com o mais velho (do primeiro casamento) que constantemente é chamado de vagabundo por ser músico e com o mais novo, que sonha em jogar futebol americano e que tem esse desejo podado diariamente pelo pai. Há sempre um ponto de crise. E Troy trás a tona todos assuntos e nunca tergiversa. Sabe que quer dirigir caminhão, não carregar lixo. Quer que o filho trabalhe numa empresa séria e não jogue algum esporte que o frustrará, como aconteceu com ele. Quer que a mulher esteja sempre em casa para às sextas-feiras curtirem alguns momentos a dois. Quer manter a amizade eterna com o colega que conheceu na prisão. Quer que o filho cuide da sua vida, não lhe peça dinheiro emprestado para curtir a noitada. Quer... Troy quer tudo, faz tudo, mas não controla sua própria vida. Troy cai na armadilha, tropeça na cerca que não terminou de construir. Troy tem a responsabilidade pela infelicidade. Pelo descontrole. Pela pena. Troy pagará por ser tão duro e por ter sido tão impulsivo. O maioral torna-se só mais um. Troy sai do trono altivo para lutar com a morte e com a vida. Mas o amor divino e o perdão podem ser a salvação. A vida é ação e reação.


Denzel Washington na direção foi preguiçoso. E isso não necessariamente é uma crítica, pois apenas transpôs texto e estrutura do teatro para a telona. É a escolha acertada para um texto tão dramático e denso. E a escolha passa a ser ainda mais correta pois os atores são excelentes, conhecem a profundidade da trama e das camadas dos personagens. Não podíamos esperar algo diferente de Denzel e Viola, dois craques e dos melhores atores existentes – mas também é necessário louvar os “anônimos” coadjuvantes que dão o contraponto dos personagens. É um filme estático, que foca quase 100% das cenas na casa Troy e Rose, mas que vai além das cercas que o personagem de Denzel Washington tenta construir a pedido da esposa. A cerca real, de madeira e para proteção na casa. A da mente é contestada durante todo filme em embates épicos sobre raça, trabalho, ética e, principalmente, lealdade. É uma zona de exclusão do sonho americano. É a vida real. O texto é lindo. A vida é linda – é só querer.

Nota: 7,5

Vitor Stefano
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