O Julgamento de Viviane Amsalem


Nome Original: Gett /המשפט של ויויאן אמסלם
Ano: 2014
Diretor: Shlomi Elkabetz e Ronit Elkabetz
País: Israel, França e Alemanha
Elenco: Ronit Elkabetz, Simon Abkarian, Menashe Noy e Sasson Gabai.
Prêmios: Directors to Watch no Festival de San Sebastián, Melhor Filme e Melhor Ator Coajudvante (Gabai) da Academia Israelense de Cinema e Melhor Roteiro no Festival Internacional de Chicago.
O Julgamento de Viviane Amsalem (2014) on IMDb


A separação é um momento doloroso e traumático para qualquer ser. Ninguém casa pensando no tribunal e na assinatura dos papéis do desquite, mesmo que seja cada vez mais comum e aceito na sociedade. Isso na sociedade ocidental. Em Israel o julgamento é feito por um tribunal religioso, comandado por rabinos. O filme não é exatamente o julgamento de Viviane, mas a busca dela pelo Gett, nome original do filme. Isso é a certidão de divórcio da lei judaica que depende do consentimento do marido para ser efetivado. Viviane não quer mais estar casada com Elisha, mas ele se recusa a aceitar. Não há traição, agressão física ou motivos escusos. Ela apenas não quer dar sequência a um casamento de 30 anos e quatro filhos, sempre bela, recatada e do lar, apesar de ser cabeleireira profissional. Ela quer a liberdade.

De qualquer forma é um novo marco nos filmes de julgamento. A princípio, ao vermos apenas os advogados fazendo argumentação, criamos a expectativa de conhecer a mulher que dá nome ao filme. Mas chegamos à uma mulher bonita, mas visivelmente cansada. E esse cansaço se torna visível a cada novo retorno aos tribunais. A negativa de Elisha, as suas ausências nas audiências, a solicitação dos rabinos a que ela volte à casa e viva sobre o mesmo teto que o marido vão gerando um sentimento ainda pior nela. Durante cinco anos vemos o patriarcalismo judeu sobrepor aos direitos e vontades de Viviane, um ser praticamente invisível. Ele com seu semblante sempre sóbrio mantém-se impávido enquanto ela se desespera ao saber que é o elo mais frágil. É a mulher. É quem deveria estar quieta e aceitar as condições do marido. Ele nunca levantou a mão para ela. Ele sempre proveu do bom e do melhor para a cada. Ele sempre foi à sinagoga e é respeitado por lá. Ele nunca a privou de nada dizem as testemunhas que também corroboram que ela não o quer. Ela tem seus motivos e simplesmente ela não quer. Ela explode, como já explodiu muitas vezes. Já basta. Viviane viveu sua vida toda como um cão preso à uma bola. Viviane nunca foi valorizada. Viviane nunca foi ouvida. Viviane precisa de sua liberdade.


"O Julgamento de Viviane Amsalem" é um grito de socorro que ecoa no âmago e na eternidade. Entre o absurdo e a lei religiosa ver que num país de primeiro mundo ainda há tanta incoerência e desrespeito gera um riso nervoso e uma angústia. Um filme que se passa integralmente entre quatro paredes, onde homens definirão o futuro de Viviane. O roteiro é brilhante que prende e penetra na mente, uma crítica ferrenha ao machismo, às convenções que o judaísmo impõe. O final em aberto é um fantasma que sempre a decisão de homens em nome de Deus será injusta. A religião tem a força de privar os seres humanos de serem quem querem. Mas como a própria personagem diz aos rabinos, num acesso de fúria: isso um dia vai acabar e vocês serão inúteis, não me julgarão e farão apenas conversões de religião. Serão descartáveis. É uma pena que Ronit Elkabetz, co diretora e estrela do filme, não verá isso em sua Israel. Faleceu dia 19/04/2016 deixando um gostinho amargo para nós. Uma grande atriz e diretora de um dos melhores filmes da década ao lado de "A Separação". Iraniano e israelense...que ironia. É um assunto traumático em qualquer lugar desse globo e gerou esses dois filmes incríveis.

Nota: 10

Vitor Stefano
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