Abutres



Nome Original: Carancho
Diretor: Pablo Trapero
Ano: 2010
País: Argentina, Chile, França e Coréia do Sul
Elenco: Ricardo Darín e Martina Gusman
Prêmios: Melhor Filme, Diretor, Edição e Sonorização no Argentinean Film Critics Association Awards.
Abutres (2010) on IMDb


Seguro de carro, celular, casa, obras de arte, maquinário. Seguro é o alicerce, ao lado do sistema bancário, da vida capitalista que corrompe a cada dia o nosso viver. Corrompe, pois pagar para assegurar que algum bem se mantenha em condições de uso é como pagar para estacionar na própria vaga. É um direito de consumidor que o bem que você comprou tenha garantias que terá sua vida útil e a assistência capaz de suprir quaisquer defeitos futuros. Mas os furtos e roubos tornaram-se comuns e cada vez mais normais numa sociedade baseada no medo de perder o que há de mais valioso: seus pertences mais preciosos; e para se dar bem, pode-se pensar em burlar esse sistema tão amplo e que se baseia cálculo de sinistro onde os benefícios são mais importantes que o próprio produto. Mas e quando o seguro é da sua vida? Vale a pena arriscar para conseguir passar a perna no sistema? Nesse caso, o sistema é falho.

Começamos com a informação que na Argentina morrem 22 pessoas por dia, 8000 por ano e 100.000 na última década de acidentes de trânsito. É um negócio milionário para abutres ou urubus, como diríamos no português. Sosa é um desses, um advogado que aproveita de brechas do sistema em frente a hospitais esperando que recém-acidentados cheguem e consigam ter algum rendimento com o seu infortúnio. Em uma dessas porta de pronto-socorro, conhece a obstinada paramédica Luján, que trabalha horas e horas apenas para manter conseguir um futuro para a sua vida corrida. Primeiro o encontro e o interesse, depois a decepção. Sosa não quer apenas ajudar os acidentados, mas é capaz de causar acidentes falsos, acidentes que acontecem, mas que podem passar dos limites.

Dentre idas e vindas, encontros e desencontros, Sosa segue sua caminhada paralela entre buscar o amor da paramédica e querer largar o seu sustento. Ninguém quer largar o que lhe dá dinheiro, tendo em vista que o sistema é baseado nesse pedaço de papel valoroso. Luján quer se entregar, mas a consciência não permite. É uma disparidade muito grande entre o que ela se dedica integralmente e o que corrompe o seu trabalho. Salvar vidas é mais do que tirar pessoas de carros amassados, por baixo de ônibus ou fazer uma massagem cardíaca. A prevenção é principal meta para uma saúde saudável a qualquer Estado. Mas a paixão pode falar mais alto do que uma consciência cheia de boas intenções, sem tirar que o submundo só existe porque existe o mundo.

Trapero vem com “Abutres” numa levada de filme de gênero, um policial-suspense, na base do que faz muito sucesso no cinema dos nossos hermanos, mas que podemos dizer um filme maior, mas pior acabado. Por ter muitos estereótipos e por sua base temática podemos dizer que o cinema de autor de “Leonera” era mais dolorido. Ricardo Darín sempre é um chamariz do cinema argentino aqui no Brasil pelo enorme sucesso com “O Filho da Noiva” e o recente “O Segredo dos Seus Olhos”. Aqui está bem, cheio de trejeitos e trata bem o abutre por trás de um ser humano. Martina Gusman faz bem seu par romântico nada comum. Um filme que deve ser visto para vermos até onde um homem pode arriscar para lucrar. Morrerão mais muitos, mas muitos ainda acharão que morrer foi o melhor a fazer em busca de alguma plata, nem que estejam voando sobre o lixão sem nenhum detrito.


Vitor Stefano
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