O Clube


Nome Original: El Club
Ano: 2015
Diretor: Pablo Larraín
País: Chile
Elenco: Alfredo Castro, Roberto Farías, Antonia Zegers, Alejandro Sieveking, Marcelo Alonso, Jaime Vadell, Francisco Reyes e José Soza.
Prêmios: Prêmio do Grande Juri no Festival de Berlim e Melhor Filme no Festival de Havana.
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Quando o absurdo é enorme, o impacto é cataclísmico. Quando representantes do “bem” são vistos de forma enviesada e cautelosa percebemos que não há mais espaço para essa dualidade de bem e mal. O ser humano é uma espécie falível e por mais que a esperança esteja esvaindo precisamos acreditar nas boas intenções, na benevolência e na caridade. Sozinhos não somos nada. Juntos, se houver consciência e discernimento, há chance de termos algo edificante. Mas há pessoas que, nem mesmo enclausuradas e excluídas do convívio da sociedade, são capazes de apagar fantasmas, expurgar pensamentos maledicentes e buscar a paz. Há sempre a culpa. Há sempre um anjo negro rondando. Há sempre o fator humano.

Clube. Já começamos com uma ironia. Não há tobogãs, piscina ou churrasco. Estamos numa cidade litorânea chilena, mas que em nada lembra uma colônia de férias ou divertida. Vemos quatro senhores de idade e uma irmã. Sabemos muito pouco de cada um, apenas que são padres e uma religiosa, que cuida das regras da casa. Casa? Prisão, refúgio ou mesmo isolamento seriam nomes mais apropriados. Logo somos apresentados a um quinto membro recém-chegado e que trás desconforto aos moradores, por conta de uma visita inesperada, que por trás do muro grita frases duras e incomodas. Descrições de como era abusado por padres durante a infância, com detalhamentos dignos de contos eróticos rasos, mas que chocam, incomodam, envergonham e enraivecem. É uma cena inicial memorável e o fato ocorrido logo após este relato gerará uma reviravolta na rotina da casa. Um novo padre, jovem, chega com a missão de vistoriar o que acontece nessa casa. Tudo muda.

Padre Garcia é recebido de forma ressabiada pelos outros moradores. Ele tem a fama de delatar e incriminar outros sacerdotes de outros clubes espalhados pelo Chile. A tela opaca, quase míope, incomoda, nos dá claustrofobia. O acinzentado nos deixa sem noção de época, nos deixa perdidos no tempo, mas coloca nossos pés no chão pela denuncia e asco. Ver os religiosos numa rotina regrada, sendo cercados por todos os lados, se digladiando interiormente e expondo suas fraquezas é uma crítica duríssima à Igreja, à conivência com os criminosos numa busca clara pela manutenção da imagem da santíssima. Em nome de Deus eles usaram seu poder convencedor para ungir crianças de gozo, roubar crianças de famílias menos abastadas, apostar em jogos de azar numa busca de fuga da dura realidade da penitência religiosa e ainda corroborar e colaborar com a ditadura, tortura e mortes. Não há espaço para o prazer, apenas para o poder. E o poder é muito grande. O poder é o maior mal desse mundo.


Pablo Larraín é um nome a sempre ter no radar. O chileno fez grandes filmes na última década, colecionando prêmios de festivais e críticas positivas em todos seus filmes. Sempre com temas duros e polêmicos, ele cutuca o establishment com um soco no estômago, sem delongas. Se em “No” e “Tony Manero” ele expunha os entraves da ditadura chilena, aqui, num ousado movimento, escancara a cúria da Igreja Católica, sem escrúpulos, como os que cometeram crime. A crueza do roteiro com a força de atuações incríveis faz de “O Clube” um marco.

Nota: 8,5

Vitor Stefano
Sessões

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