Tatuagem

Nome Original: Tatuagem
Ano: 2013
Diretor: Hilton Lacerda
País: Brasil
Elenco: Irandhir Santos, Jesuita García, Sílvio Restiffe, Sylvia Prado e Ariclenes Barroso.
Prêmios: Melhor ator (Jesuíta Barbosa), ator coadjuvante (Rodrigo García), Prêmio da crítica, Prêmio do público e o Prêmio especial do júri no Festival do Rio. Melhor Ator (Irandhir), Melhor Trilha Musical e Melhor Filme no Festival de Gramado.




Vamos falar sobre cinema nacional. Tivemos altos e baixos durante a nossa história cinematográfica. Aliás, apenas altos, pois a nossa cultura deve sempre ser exaltada. De qualquer forma, vivemos baseados em uma cultura de festas populares, esportes, fome e ditadura. Se perguntarem qual filme pode representar o Brasil, qual você diria? Depende do seu ponto de vista do que é o Brasil, do que somos de onde viemos e para onde vamos. Parece retórico e filosófico demais para um texto de um blog de cinema na web querendo falar de apenas um filme. Mas passagem breve pela história é para me posicionar quanto a “Tatuagem”, um dos filmes mais premiados do ano, aclamado pela crítica e pouco visto, pois há uma mentalidade e cultura inversamente proporcional de qualidade x público no que tange a opinião da crítica especializada. Aos meus olhos, “Tatuagem” é uma miscelânea recheada de diversos assuntos mas o que realmente pula a tela são picas, cús e bundas.


“Tatuagem” de Hilton Lacerda. Não sei qual foi o intuito do roteirista e diretor. Mas consegui sentir apenas uma sensação com respeito ao filme: a intenção é chocar. Chocar por chocar. Talvez não seja exatamente essa a intenção, mas foi exatamente isso que me atingiu. Não havia lido as críticas. Li apenas a sinopse e quando sentei minha bunda na cadeira 18 da fila H da sala 3 do Reserva Cultural esperava um filme libertário, crítico à ditadura e todas as deformidades que gera através de um grupo mambembe de conotação gay. Durante a primeira meia hora do filme já sabia que a ditadura estava no filme apenas pela ambientação nos anos 70. Nem menção a ditadores ou algo que valha. Na primeira hora o cinema já tinha sido impactado com uma das cenas de sexo mais fortes dos últimos anos. Forte porque é homossexual? Talvez, mas a entrega dos atores é algo de prêmio. A hora seguinte ao fim da película foi arrastada no relacionamento, nas intrigas no grupo e por um soldado “infiltrado”, sendo quebrado apenas por leves risos das apresentações do grupo no Chão de Estrelas. O romance está lá, é emocional, é visceral, é libertário. É forte que marca na pele. Mas a tatuagem é apenas mais um elemento para me desanimar, numa clara demonstração de precisar dar um nome ao filme. O amor existe e vemos. E vemos. E vemos.

Se você achou agressivo o texto, não veja o filme. Claro que num mundo onde temos a maioria míope através das telas da tevê e da grande mídia, a sexualidade torna-se um tabu. Ainda há a conversa de carochinha das igrejas, da família como berço da sociedade e até da autopunição em nome de alguma coisa que se crê. O pré-conceito existe e é latente e é um direito, mas ter preconceito não pode mais existir. Então reafirmo nada do que disser aqui no texto tem ou deveria ter o tom preconceituoso contra homossexuais. Cenas de sexo e relações íntimas nos filmes tem aos montes, mas num enredo, contextualizado e apenas como parte de uma história maior é compreensível. Paus,  bundas e cús.... Não é o Porntube ou o ForMan. Beijos, lambidas, orgias... Não é um filme da pornochanchada. O cinema brasileiro é mais do que tudo isso. Até consigo entender as críticas exaltando o filme, mas para ser um filme cult, impactante e forte não é necessário que seja apenas chocante. Chocar por chocar. Qual o motivo?


Irandhir Santos tem meu respeito. Ator com A maiúsculo. Como todos atores. Hilton Lacerda precisava continuar apenas escrevendo roteiros, pois aqui (talvez, pelo novo olhar de diretor) é o ponto mais fraco do filme. Mas não podemos dizer que ousado ele não foi. Foi, mas a queda pode ser bem grande nesses casos. O olhar do cinema-real existe também, mas a realidade não agrada a todos. Deslizes a parte, o cinema pernambucano deve continuar a ser exaltado, principalmente por ser diferente. Acertar ou errar torna-se um detalhe. Subversivo ou não? Opte sempre pelo subversivo. "Tatuagem", no mínimo, gerará bons debates e não passará como apenas mais um filme na filmografia nacional no ano de 2000 e bolinhas...

Tem cu tem cu tem cu.

Vitor Stefano
Sessões

Comentários

  1. Ao sair do cinema, pensei: Até que enfim, um filme bom! Ria sozinho e baixo na rua por conta deste pensamento.

    Vou aproveitar o barco do Vitor e discordar quanto a comparar com o gênero pornô. O filme se distancia muito disto na sua estética e nos seus argumentos. Ele pode em certos momentos aproximar-se da chanchada, o que a meu ver é um recurso interessantíssimo, afinal este é um legado do cinema nacional. O enredo do filme é válido, trabalhado de uma maneira brilhante. Fico feliz de saber que há novos caminhos para o cinema do Brasil.

    Outra coisa: O filme não é chocante. E quanto a isto, falamos mais pessoalmente, Vitor.


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