Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos


Nome Original: Nós Que Aqui Estamos por Vós Esperamos
Diretor: Marcelo Masagão - Site: http://www.filmesdomasagao.com.br/
Ano: 1998
País: Brasil
Prêmios: Melhor Lançamento e Montagem no Grande Prêmio Brasil de Cinema de 2000, Kikito de Ouro por Melhor Montagem no Festival de Gramado de 1999 e Media Net Award a Marcelo Massagão no Festival de Cinema de Munique.
Nós Que Aqui Estamos por Vós Esperamos (2000) on IMDb


Escrever de um jeito convencional sobre esse maravilhoso flerte entre história e psicologia seria até desrespeitoso. O filme entrega magistralmente um turbilhão de emoções, sensações aos telespectadores. Não pode deixar de ser assistido.

Para olhos frios pode parecer até uma apresentação no ‘Power Point’ mais sofisticada, pelo modo como o filme se desenvolve. Mas é difícil não se sentir tocado com uma trilha sonora monumental, com uma maneira incomum de tratar um tema já muito visitado. Marcelo Masagão compõe uma estória dentro da nossa história recente e com presteza e crítica relata os mais contraditórios fatos e personagens humanos.

São imagens magicamente escolhidas, transições estrategicamente concebidas. Do chocante ao gracioso, do óbvio ao inusitado. Palavras aleatórias evocam reflexões, traduzem emoções, ironizam a condição magistral e também ridícula do ser humano. Sons, canções, que surgem exuberantemente, dão ao espetáculo um colorido único, um sentido, uma pele.

Os filmes de Masagão são um choque em si, pela simplicidade e até precariedade das produções. Levam a reflexão da arte pela arte, e me leva a uma vontade imensa de abandonar o texto argumentativo...

Eis que vou arriscar, como já arrisquei traçando essas linhas acima, umas palavras em louvor ao bom desse filme.

“Esperei promessas, por muito tempo acreditei, e quando descobri todas as atrocidades ainda acreditava. Esperei poder, conforto, reconhecimento. Depois passei a esperar a destruição, um milagre, qualquer coisa. Esperei até que meus pés cansaram e andaram para longe dos meus anseios.
Eis que estamos esperando, somos obrigados a ficar estáticos, sublimando nossa covardia velada sono a sono. Esperamos que a guerra acabe, que nos expliquem como funciona o avião, a luz, que nos tragam a cura pra cabeça, pro coração e pro corpo. Sentados, deitados, acordados e sonhando, esperamos...
Uma mulher espera um homem, o funcionário espera o pagamento, o garoto espera a hora da transa, o mistério espera solução, e há quem não tenha o que esperar.
Esperar é a condição mais passiva de humilhação também sendo a condição mais necessária para a conquista. Vem no sentido de mantermo-nos estáticos, vivendo impotentes diante do que nossa ‘bondosa’ moral que nos culpa diariamente por erros que não são nossos. Maldita seja a consciência que nos cobra uma atitude, uma solução. Presos estamos na condição de esperar o vir a ser, o devir. Impossibilitados de inexistir, semeando populosamente nossa calejada verdade.
A contradição é o horror, que está em nós, magicamente trazendo vida. E, por acaso, o que há na morte humana que não haja nas folhas secas?”.


O meu grito está fraco hoje, são dias de seca.
O sorriso não tem nacionalidade.

Mateus Moisés
Sessões

Comentários

  1. “Nós que aqui estamos por vós esperamos” é o frontispício de um cemitério que ironicamente virou o nome de um documentário brasileiro sobre o século que passou. O filme se resume a imagens, textos e musica todos colocados em ordem não-cronológica com a finalidade de formar um quadro-mosaico de acontecimentos importantes e desimportantes que vicejaram entre 1901 e 2000.
    Vemos a obra reflexiva de Marcelo Masagão que com uma bolsa da Fundação MacArthur realizou o filme-colagem.
    Cenas que já se sedimentaram em nosso consciente coletivo e outras às quais a história geralmente vira as costas perfazem a película que enfatiza as grandes e pequenas personagens com todas suas idiossincrasias e vicissitudes conduzindo o telespectador a uma reflexão difícil, dolorida até , daquelas em que se enche o peito e se solta o ar como que em forma de desabafo.Dá a impressão que ,ao cabo do século,mostramos um sorriso amarelo e enferrujado onde se vê uma mistura de vergonha e orgulho pelo que passou e pelo que fizemos.
    Não sei se o diga... Quiçá, paradoxo. Sim, vá lá! Paradoxo é a palavra que epitomiza esse tempo recente,embora esquizofrenia também não deixe nada a desejar.No movimento pendular do século de um lado Nijínski encanta com seu balé chocante,Einstein deita a língua fora e diz “E=mc2”,Lênin volta da Suécia e inaugura um governo alternativo;Do outro alguém empacota cigarros,"josés" deixam a Serra pelada e um alfaiate desafia a lógica Newtoniana com suas novas asas de Ícaro.Lá Garrincha e Fred Aistaire driblam a vida,o pai de Gagarin vê pela primeira vez a luz elétrica e um professor de literatura resolve encarar tanques de guerra.Aqui,Hitler acende uma fogueira para se esquentar no frio alemão.temperatura:451 fahrenheit,Pol pot declara o Holiday in Cambodia e Stalin receoso manda alguém dá uma machadada na cabeça de Trotski.Quando a gangorra da história sobe,Josephine Baker faz rir,as ruas já não cheiram a cavalo e Gandhi argumenta com Che Guevara ao som de "Give peace a chance" e "I have a dream"que olho por olho a humanidade acabara cega.Quando a gangorra desce Tio Sam aponta o dedo e diz"I Want you",o Enola Gay gentilmente despeja a flor púrissima de urânio que explode num lindo cogumelo de destruição e Pierre Ledoux,deilacerado por dentro,cria uma nova dança pra alegria de tudo isso:maravilhosos espasmos involuntários de choque de guerra.
    Pra mim o filme é de um tom agridoce em que somos levados,ao mesmo tempo,para o riso e para as lágrimas.Com efeito a pergunta que fica é como é possível alcançar tanta nobreza de espírito com tanto apetite por destruição.Me traz à cabeça Ode Triunfal de Àlvaro de Campos.Me faz lembrar Eddie Vedder gritando "It's evolution,baby! Enfim,sei lá.Humano,demasiado humano.

    Fernando Moreira dos Santos

    Sessões

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  2. UM LUGAR REPLETO DE MEMÓRIAS

    Logo no início do filme, somos informados pelo diretor Marcelo Masagão das questões que serão abordadas em Nós que aqui estamos por vós esperamos. No céu azul, nuvenzinhas rechonchudas dançam graciosamente pra lá e pra cá. E nesse vaivém suave, gostoso, surgem estas palavras: pequenas histórias, grandes personagens; em seguida: pequenas personagens, grandes histórias; e finalmente: memória do breve século XX.

    Não há segredos, a essência do filme está em histórias e em personagens. Não importa se estas são famosas ou anônimas ou se aquelas são grandes ou pequenas. O que realmente interessa é que elas existiram e, de uma forma ou de outra, contribuíram para a formação do século 20 ── afinal de contas, foram parte dele.

    As guerras são um dos principais temas de Nós que aqui estamos. E isso é compreensível, pois o século 20 foi recheado delas. Houve todo tipo de guerra, pelas “razões” mais diversas. Mas sempre acompanhadas dos mesmos absurdos: intolerância e ganância, duas coisinhas inerentes aos desumanos e gananciosos, tipos nojentos que ignoram os horrores dos campos de batalha e lucram descaradamente com as guerras.

    Guerras, guerras, guerras. Além delas, Nós que aqui estamos destaca a velocidade do século 20, isto é, a rapidez dos acontecimentos, a avidez pela descoberta, a urgência por mudanças. E mostra que toda essa loucura resultou no destrambelhado modo de vida contemporâneo, no corre-corre nosso de cada dia, no ritmo frenético do tudo-ao-mesmo-tempo-agora.

    Rápidas ou lentas, engraçadas ou tristes, coloridas ou em preto-e-branco, as imagens de Nós que aqui estamos são interessantíssimas: belas, surpreendentes e carregadas de sentimento. Exemplos: Alfaiate, o homem que queria voar, porém morreu ao pular da Torre Eiffel; o andar coordenado dos homens-formigas de Serra Pelada; George, o construtor-malabarista que brincava com a sorte nos topos dos edifícios de Nova York; o monge budista que ateia fogo ao próprio corpo em protesto à Guerra do Vietnã; o china peitudo que impede, sozinho, o avanço de tanques de guerra na Praça da Paz Celestial. No entanto, senti falta de uma cena marcante: a menininha vietnamita fugindo, nua, de um ataque de napalm.

    Também são interessantíssimas as pequenas grandes histórias, sobretudo pela maneira bem-humorada como são contadas, apesar de algumas delas serem dolorosas. Eis o barato deste filme! Masagão demonstrou talento para brincar com assuntos sérios: massificação, igualitarismo, solidão, perda, morte. Este último, tema fundamental de Nós que aqui estamos por vós esperamos, é sugerido com extrema habilidade no título, que nada mais é do que a reprodução integral (e irônica) de um aviso, ou melhor, de uma mensagem fixada na entrada de um cemitério.

    Isto mesmo: um cemitério. O fim de tudo? O início? O vazio? A completude? Um lugar. Um lugar onde personagens, famosas ou anônimas, dormem abraçadas a suas histórias. Um lugar repleto de memórias. Boas ou ruins, recentes ou antigas, grandes ou pequenas; mas sempre memórias.

    Paulo Jacobina
    Sessões

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  3. Se o Século XXI for igual ao XX, não existirá XXII.

    Quebra da Bolsa, Hitler, I e II Guerras Mundiais, Gandhi, Gripe Espanhola, Mao-Tsé, Revolução Industrial Fordista, Che, as mulheres conseguem seus direitos e queimam os sutiãs e usam mini-saias, cai o muro, Mussolini, Revolução Cultural, Serra Pelada, Coco Chanel, protesto de monge budista, Idi Amin, professor em frente a tanques na Praça da Paz Celestial, Salazar, o homem queria voar, o homem que nunca viu TV, a bomba atômica, Mané Garrincha dançando e Fred Astaire jogando, Win Mestens no som, Marcelo Masagão na direção, nós aqui estamos por esperamos por vós e por muito mais.

    73 minutos para refletir e pensar na vida e na morte. Os R$ 80.000,00 gastos em direitos autorais valem cada centavo em imagens que tiram o fôlego, emocionam e mostram o que o ser humano é ou pode ser: tudo e/ou nada.

    “A Morte é mais leve que uma pluma. A responsabilidade de viver é tão pesada quanto uma montanha” (Kato).

    São tantos sentimentos conflitantes que não há como ver ‘Nós...’ e ficar indiferente. Haverá algum sentimento, alguma sensação. Seja boa ou ruim, ou ainda, as duas coisas.

    Terminarei com uma frase extraída do filme, do escultor e pintor francês Christian Boltanski: “Numa guerra não se matam milhares de pessoas. Mata-se alguém que gosta de espaguete, outro que é gay, outro que tem uma namorada. Uma acumulação de pequenas memórias...”

    E você, qual pequena memória você deixará? Se é que vai deixar...

    Vitor Stefano
    Sessões

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  4. Existe uma canção que tenho ouvido bastante, me inspirou na criação do texto e evocou algumas reflexões. Acho digno postar um trecho dela.

    "Somos tão subordinados, por acaso estamos de mãos dadas sem nos conhecer.
    Todo dia, enfileirados, em ordem decrescente de importância social.
    (...)
    Sábios são aqueles que se encontram fora de alcance, preferiram simplesmente se ausentar...".

    R.Sigma (RJ)


    M.M.
    Sessões

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  5. Morbidez: esta foi a principal sensação que senti provocada pelo filme “Nos que aqui estamos por vós esperamos”. Para começar, o título já mostra ao que veio; O tema principal é a morte no século XX e, de quebra, lança questionamentos sobre o que o ser humano produziu durante sua passagem neste período.
    O filme é basicamente uma colagem de imagens marcantes do século passado, que emoldurada por uma trilha sonora triste e frases de efeito, causam sensação de mal-estar ou algo do tipo: sou humano, mais seria melhor ser um inseto.
    Isso não quer dizer em absoluto que o filme seja ruim. Pelo contrário. É muito bom porque cumpre sua função, que é a reflexão sobre a nossa condição e sobre as cagadas produzidas em 100 anos. Ou seja, um olhar crítico e uma interrogação afirmativa: “Vamos continuar a nos repetir, ou vamos tomar vergonha na cara?!”
    Outro aspecto a se levar em consideração é que, apesar de belo e reflexivo, considero a produção longa, cansativa e repetitiva. Tentei assistir duas vezes e dormi no meio. Só consegui terminar a maratona na terceira tentativa, ainda assim quase que por obrigação, afinal tinha que escrever este texto.
    Gostei muito da maneira como são apresentados os personagens do século. Grandes personalidades são colocadas em oposição com as pessoas comuns e todas elas ligadas a um único propósito, a guerra e a destruição. È poético, mas é triste pra caralho.
    Numa sucessão interminável de imagens, Hitler e a mulher que trabalha na fábrica de bombas enchem de pólvora os horrores da guerra. O protesto do monge budista e o homem tentando voar buscam coisas distintas e encontram ambos a morte. Parece que toda busca é vã e a prevalência é a barbárie.

    Carlos Nascimento
    Sessões

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  6. O que nos difere e o que nos iguala enquanto seres transmissores de cultura?
    Sendo simplista: A vida os difere. Muito ou pouco? Não entro nesta discussão hoje.
    Sendo ainda mais simplista: A morte nos iguala.

    Simples, existencialista, provocador e belo. Isto é "NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VÓS ESPERAMOS".

    Espere que eu chego já!


    Leandro Antonio
    Sessões

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  7. na hora da morte, todos os seres humanos são iguais..

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