Não Espere Muito do Fim do Mundo

 


Radu Jude fez de novo. 

E ainda mais inspirado. Ao colocar no centro a vida moderna de exploração pelo capital e pelo uso indiscriminado das redes sociais, das telas, Radu faz uma reflexão sobre a humanidade através de seu olhar romeno sobre a Romênia. Mas ninguém escapa. Nem o próprio cinema passa desapercebido. A mistura de formas, cores e brilhos nos levam e trazem do presente. Nos dão base e nos levam ao futuro incerto. 

Temos ao centro Ângela. E de forma abrupta somos levados a outra Ângela, do passado. Alguém de quem não sabemos muito. Apenas que é uma taxista. A Ângela de hoje também passa o dia todo no carro. Mas ela busca empregados de uma empresa que se acidentaram durante o trabalho massacrante. Ela busca quem tenha a melhor lábia. 

É confuso? Sim. Pode ser. Mas Jude aqui não quer apenas fazer um paralelo entre essas duas mulheres de mesmo nome ou o país de mesmo nome. Aqui temos a visão do que é a evolução e de como involuímos em tantos aspectos. As relações de trabalho estão no centro. O socialismo, política, trânsito, pensamento crítico, urbanismo, tecnologias, exaustão. Tudo está colocado da forma mais cômica possível. Com um humor ácido, duro, instável, potente. De tirar risos e de incomodar. Assim faz Jude. Expõe a sociedade romena ao ridículo que está passando. Não apenas os romenos. Os húngaros são bem lembrados. No fundo… todo ocidente e neoliberalismo se verá ali.  Nas figuras. Em Ângela. Nas Ângelas. Nas lápides e cruzes.

O fim é mais do que claro ao demonstrar sua crítica á sociedade. Coloca no centro de uma câmera fixa pessoas sendo abusadas pelo capital. Pela manipulação da imagem. Pela mudança da narrativa. Tudo pelo dinheiro. No fundo Jude faz o que faz de melhor. Rir da nossa cara… ou com algum filtro que pareça nossa cara. 


Vitor Stefano


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