High Life

 


A humanidade vive a buscar saneamento de si própria. Aos desprezados só resta a transformação desses em ratos de laboratórios aprisionados em cárceres que desumanizam em sua ética, liberdade e moral. A chance de retornarem pra sociedade como entes queridos e necessários é zero. Jogá-los fora pode ser quase eugenista. Jogá-los numa nave para além da estratosfera é loucura.

E essa é a loucura que Claire Denis abraça ao nos inserir em uma caixa que flutua no profundo mar de vazio do espaço. Vemos um homem e um bebê solitários a mercê da aleatoriedade. Mas como eles estão lá? Pra que? Somos apresentados ao início dessa jornada onde temos uma grande tripulação de inaptos para viver na Terra. Ali eles convivem em um sentimento bélico, sexual, aprisionante. A claustrofobia se mistura ao cheio de sêmen, fedor, ao tesão, a experimentos, abusos - de todos aspectos - é um quebra cabeça tenso. 

A beleza desse sci-fi está na sua origem. Esses personagens disfuncionais e suas características individuais se aglutinam na ausência de esperança. Na irrealidade da vida futura. Ali vivem rumo ao vazio, ao buraco negro, as próprias limitações. Belíssima construção de ambiente, trilha sonora impactante, fotografia estonteante e ótimas atuações. Claire fez um filme distópico, utópico e ainda assim humano. Incrível e surpreendente.

Vitor Stefano

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