Soundtrack


Nome Original: Soundtrack
Ano: 2017
Diretor: 300 ml - Bernardo Dutra e Manitou Felipe.
País: Brasil
Elenco: Selton Mello, Seu Jorge e Ralph Ineson.
Sem Prêmio
Soundtrack (2017) on IMDb


A imensidão branca impacta os olhos pela ausência
Não temos certeza da presença de Deus, do ar ou da vida
As dúvidas de quem foge, de quem está na busca ou de quem está perdido
Procurar um motivo ou um por que.
Mas... porque? Por quem? Para onde? De onde?

No isolamento contamos apenas consigo próprio
E em uma sombra que nos acompanha incessantemente e por vezes nem a queremos por lá
As incertezas da vida estão nos detalhes, nos impulsos
Deixar legados, marcar seu nome na história depende apenas de você
Seja pelo amor, pela carreira, pela arte ou pela dor
Você será lembrado por alguém, por algo enquanto você fizer falta.

A nossa incompletude nos faz gigantes em nossa pequenice
A tibieza das dúvidas nos faz brilhante
As certezas nos fazem errar
Somos todos efêmeros. Somos todos eternos. Só você ainda não sabe.
Eu não sei, ainda. Nem sei se saberei...

“Soundtrack” é impactante. Principalmente pelo som. Mas não é exatamente uma trilha sonora como o nome do filme propõe. A música é a matéria prima de Cris, ele a utiliza para transpor seu impacto através da tela de sua câmera. Cris é um artista e busca no gélido Ártico o pano de fundo para sua próxima exposição. Em busca de isolamento, chega numa estação de trabalho e dividirá o espaço com diversos cientistas e seus trabalhos importantíssimos. Desde o início sua empreitada é mal julgada. Cris, um artista no meio de tantos cientistas mudando o mundo, em busca de experimentos para salvar a vida humana. A arte julgada e colocada em cheque. A ciência sempre arrogante. O isolamento cria uma claustrofobia. O espaço está todo aberto, mas as condições climáticas, o silêncio, o branco eterno dão a impressão de estarem vivendo numa bolha, num balão, numa fotografia com lindo fundo ou ainda com uma música sem voz com um sopro de vento ao fundo. O som é ensurdecedor. Cris está em busca. Tem um projeto. Tem a vontade de se eternizar. 



A rejeição ao artista está nas entrelinhas, no desdém – principalmente com o colega de estação, Mark. O britânico faz aferições do clima e umidade diariamente. Sua esposa está grávida do segundo filho e ele visivelmente está abalado com a situação. Mas ele precisa ficar com Cris, pois em um lugar tão inóspito é necessário que um olhe pelo outro. Cao, o botânico brasileiro faz com que Cris sinta-se um pouco mais à vontade. Ouvir sua língua pátria gera um calor no coração, mesmo com as mãos congelando. Mas o coração e a mente precisam estar em sintonia, em sanidade para que não sejam levados à extremos. A paz do isolamento pode dar espaço à angustia da solidão. Numa jornada de relacionamentos e de autoconhecimento, os cientistas e o artista criam uma ligação, uma conexão. O instinto de sobrevivência pode ser um acalanto. Mas nunca saberemos exatamente o que está realmente por dentro. Crer em Deus, tirar fotos no meio do nada, fazer um experimento para salvar o mundo ou apenas estar vivo. Tudo depende do que estamos buscando.

A dupla de diretores conhecida como 300 ml - Manitou Felipe e Bernardo Dutra – fizeram um filme impecável. Esta dupla é conhecida pelo fabuloso curta "Tarantino's Mind". Tecnicamente é perfeito e dá força e contexto ao isolamento que os personagens vivem. As imagens externas quase sempre nubladas gelam a sala de cinema. O som é o trunfo ao expor o silêncio ou a grita interna que sufoca os personagens. O roteiro é bem escrito e não cai na armadilha de tentar parecer profundo, poético ou filosófico. É um roteiro maduro, com diálogos duros e ternos, como a situação exige. Todo elenco está em grande jornada, cada um com seu estilo. Os personagens principais dão sustentação ao todo – Selton Mello vive uma de suas melhores atuações, com força, expressão, com o inglês fluente e bem falado. Há cenas de extremos onde ele se supera. O britânico Ralph Ineson na pele do duro Mark faz bem a dualidade com Cris. Sua voz marcante e seu rosto sofrido dão bastante profundidade ao personagem. Seu Jorge é um grande ator e Cao, apesar de aparecer pouco, é forte e muito intenso, um equilíbrio entre os personagens de Selton e Ralph. Saber que o filme foi filmado todo no Rio de Janeiro dá ainda mais credibilidade e exaltação ao trabalho. “Soundtrack” pode parecer o que for, mas a verdade é que é um filme do caralho. Forte, reflexivo, dinâmico como é a vida. É difícil sair da sala de cinema indiferente. A vida é um tour de forças invisíveis e sem roteiro definido.

Nota: 8,5

Vitor Stefano
Sessões

Comentários

  1. Acredita que perdi esse filme no lançamento. Depois dessa crítica vou tentar assistir de qualquer maneira.

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    Respostas
    1. Armando, realmente eu sai bem impactado do cinema depois do filme. Depois conta o que achou. Talvez a experiência de sair do cinema quase vazio, gélido, pode ter aumentado mais o impacto. Mas é lindo...

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