A Pedra de Paciência
Nome Original: Syngué Sabour
Ano: 2012
Diretor: Atiq Rahimi
Países: Afeganistão, Alemanha e França
Elenco: Golshifteh Farahani e Hamidreza Javdan
Prêmios: Melhor Atriz no Festival Internacional de Gijón, SIGNIS Award no Festival Internacional de Hong Kong e FACE Award no Festival Internacional de Istambul.
Não pode. Não vai. Não deve. Não. Ninguém disse, apenas é
uma verdade incontestável. À mulher apenas os deveres. Não, ela não pode falar.
Não, ela não pode fazer. Não, ela não vai. Não, ela não vai andar sem burca.
Não, ela não vai ter prazer. Não é permitido.
E não poderia ser diferente, pois é uma mulher muçulmana, casada com um
muçulmano, herói de guerra, tradicional, num Afeganistão devastado por uma
guerra sem motivo, sem causa, sem bonzinhos ou vilões. Mas ela fala. Ela faz.
Ela fez.
Não há nomes, não há localização. Pode ser em qualquer
lugar. Uma mulher abnegada cuida do marido, ferido com um tiro na altura do
pescoço, num estado semivegetativo. Ela cuida do esposo dia pós dia, com soro,
limpando e zelando seu corpo com rezas. Duas filhas para criar, sem dinheiro,
sem expectativas. A proximidade da guerra e dos guerrilheiros afugentou quase
todos. O medo é grande, mas o que pode fazer? Deixar o corpo do marido vivo,
sem honra, não é uma escolha. Aos poucos, nas lamentações, nas orações, algumas
palavras de ódio, inesperadas saem como num monólogo para um ouvinte. Não
sabemos se ele ouve, mas ela fala. A cada dia está mais a vontade, conta mais,
conta o que queria contar, conta o que queria fazer. Conta o que fez. Faz,
mesmo que seus olhos estejam abertos. Ela faz. Ela desconta os 10 anos em que
sua voz nunca foi ouvida. Seus segredos deixarão de ser segredos. Onde ela
apenas fez o que queriam. Onde ela era apenas uma mulher.
A lenda persa diz que a um pedaço de rocha pode-se contar
todos seus segredos e um dia ela explodirá e deixará o confidente livre,
levando todos os lamentos pelos ares. A mulher consegue com que seu marido seja
sua pedra de paciência, sua esponja de lamúrias. O filme aborda de forma bem
suave assuntos muito delicados, ainda mais na cultura muçulmana, como o
adultério, prostituição, casamento e a própria religião. Como a maior parte dos
filmes orientais, é necessário paciência. Um filme de belos enquadramentos,
momentos intrigantes, mas peca na dinâmica. A atriz Golshifteh Farahani dá um
banho atuando quase que isolada. Um belo filme de um mundo que parece muito
distante do nosso. Será?
Vitor Stefano
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