Klaus


Nessa época do ano, somos sempre bombardeados por arroz com passas, maionese com maçã e filmes natalinos. E a pergunta que fica é: pra que tudo isso? No fim, a gente absorve as passas no arroz, aceita a maçã na maionese, mas se questiona sobre os verdadeiros valores do Natal. Então, para nos relembrar o que essa época traz à tona, a Netflix fez algo novo que pode ser um marco do gênero nos reapresentando o universo do Papai Noel de uma forma humana, lúdica e divertida através da animação “Klaus”.

O filme conta a jornada do jovem Jesper, um aspirante a carteiro mimado e preguiçoso. A fim de dar um jeito na vida do filho, seu pai o envia à fria e longínqua Smeerensburg com a impossível meta de postar seis mil cartas. É uma clara forma de castigar o filho por seu comodismo. E realmente é um castigo e tanto. Logo ao chegar, ele é recebido com um clima hostil existente entre duas famílias centenárias que disputam a hegemonia da ilha. Um confronto baseado em falta de educação e guerra, em uma tristeza alimentada pela ausência de diálogo. E essa falta de conversa deixa a missão de Jesper ainda mais impossível. Aos poucos, ele vai definhando ao ver que a realidade luxuosa passou a ser tortuosa. Mas como estamos num filme de Natal, ele vai até uma aldeia e conhece o aparentemente carrancudo Klaus, um velho artesão que mora sozinho na floresta. A interação entre os dois acaba gerando o que já sabemos, claro, mas de uma forma linda, instrutiva e deliciosa de se viajar. Desse contato, o que era apenas a tentativa de atingir um objetivo, se torna uma lição de vida em que Jesper encontra a sua verdadeira vocação.

É bem interessante como o filme nos remete à atual polarização política mundial e nos dá a esperança que, a partir de boas ações, conseguimos chegar a efeitos práticos quase sempre bons. Como por meio do diálogo, troca de experiências e vivência podemos mudar o mundo ao nosso redor. O diálogo é transformador... Além da bela história, visualmente, a animação foge das atuais fórmulas em 3D e nos mostra que é possível ser belo e rico sem precisar abusar das novas tecnologias, com personagens muito bem desenhados e cores que vão mudando no decorrer do filme com as mudanças do clima e do humor. É delicioso. Em certo momento, um dos personagens diz: “Um verdadeiro gesto altruísta pode sempre despertar outro”. É com esse espírito que indicamos para ver com toda a família esse belo filme que certamente é o melhor do Natal 2019.

P.S.: esse texto foi originalmente escrito e publicado no jornal ABC em Notícia em 18/12/2019.

Vitor Stefano
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