Dossiê Caio Blat
Infelizmente o povo brasileiro é preconceituoso de nascença. Sim, somos o país da integração, da diversidade sócio-cultural-religiosa, do país que melhor recebe seus turistas. Sim, é verdade, mas quando se trata de valorizar o que temos por aqui, fica difícil. Claro que com crises, mensalões, politicagens, ídolos inconsequentes é compreensível não criarem uma empatia aos nossos iguais. Mas como todos pré-conceitos são irmãos da ignorância, ver o nome de Caio Blat em algum cartaz, chamada ou trailer é motivo de torcidas de nariz e viradas de rosto. A quem faz isso, entenda, Caio Blat é, hoje, um dos 3 melhores atores nacionais em cinema. Sim, isso é uma realidade. A feição angelical e meiga do menino que nasceu e cresceu nas telas da tevê e que até hoje causam paúra, não existem mais. Um ator com muita bagagem, ótimas escolhas e uma força que vai te surpreender (se é que já não surpreendeu). Além do que é uma pessoa de personalidade forte e muito capaz.
O primeiro papel de relevância no cinema já diz ao que veio
o ator. No considerado melhor filme nacional desde a retomada, “LavouraArcaica” inovou por sua estética rústica, narrativa poética e grande elenco. A
direção de Luís Fernando Carvalho sempre deixa um legado e Caio foi banhado de
um amálgama de boas escolhas e propostas a partir de então. Filmes da estirpe
de “Quanto Vale ou é por Quilo?” (Sérgio Bianchi) e “Baixio das Bestas”
(Claudio Assis) moldam a filmografia do ator. Complexos, densos, profundos e
com profundidade.
Não dá para não lembrar de papéis coadjuvantes, mas onde
Blat se destaca. Há o professor coxinha da retratação juvenil e contemporânea
de Laís Bodanzky em “As Melhores Coisas do Mundo”, o jornalista Neco Pedreira na
fraca versão cinematográfica de “O Bem Amado” e o colega de classe-marginal de
“Os Inquilino” (Sérgio Bianchi), certamente um pulo para outro marco e outro
protagonista em sua carreira: “Bróder” de Jeferson De, sobre a vida da/na
periferia paulistana.
Se nem com todos esses argumentos e filmes citados você se
convenceu que Caio Blat é um dos melhores atores do cinema nacional, indico 3
filmes em especial para você passar de ódio à admiração ao trabalho do ator. Ver
a vida de heróis nacionais como os irmãos Villas-Bôas, belamente retratada no
melhor filme nacional de 2012, “Xingu” além da força e caráter histórico tem em
Blat, Felipe Camargo e (no genial) João Miguel a sua potência máxima. É um
filme obrigatório para conhecer o país, conhecer a fundo as relações humanas, a
integração de branco e índio e para ver atores que se doam, que invadem o
personagem.
Devo confessar que outro personagem histórico me marcou na pele do ator. Em “Batismo de Sangue” (Helvécio Raton) teve a primeira
oportunidade de ser protagonista e domina o filme na pele do lendário Frei
Tito. A sua entrega ao personagem demonstra a capacidade de evolução, num filme
pouco visto, pouco divulgado, mas essencial para entendermos os tempos da
ditadura.
Outro filme é para mim o melhor de Caio. Já falei muito e
muitas vezes sobre ele, mas não me canso e cada vez que vejo é melhor.
“Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos” é mais do que um filme com um nome
extenso que avassala a cinematografia brasileira. Dirigidos por Paulo Halm,
Blat e sua esposa Maria Ribeiro conseguem extrair risos e pensamentos que
envolvem mais de 90 minutos. E em pouco tempo virá sua estreia como diretor,
com a adaptação da obra de Cristóvão Tezza, “Juliano Pavollini”
Blat pode ser um anjo, um malandro, um favelado, um suicida.
Blat pode ser o que quiser, pois mesmo novo, ele sabe da sua arte como poucos.
Sou fã e você também será.
Filmografia:
1998 - Caminho dos Sonhos (Lucas Amberg)
2001 - Lavoura Arcaica (Luiz Fernando Carvalho)
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2002 - Cama de Gato (Alexandre Stockler) |
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2003 - Carandiru (Hector Babenco) |
2005 - Quanto Vale ou é Por Quilo? (Sérgio Bianchi)
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2005 - O Quintal dos Guerrilheiros (João Massarolo) |
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2006 - O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (Cao Hamburger) |
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2006 - Baixio das Bestas (Cláudio Assis) |
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2006 - Proibido Proibir (Jorge Duran) |
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2007 - Batismo de Sangue (Helvécio Ratton) |
2008 - Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírita (Glauber Filho e Joe Pimentel)
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2010 - Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos (Paulo Halm) |
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2010 - Os Inquilinos (Sérgio Bianchi) |
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2010 - Bróder (Jeferson De) |
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2010 - As Melhores Coisas do Mundo (Laís Bodanzky) |
2011 - As Mães de Chico Xavier (Glauber Filho e Joe Pimentel)
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2011 - Xingu (Cao Hamburger) |
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2011 - Uma Longa Viagem (Lúcia Murat) |
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