Sessões Brasil
Sessões Brasil é um espaço criado, dentro do sessões, para facilitar a
vida dos seguidores e melhor organizar os comentários sobre cinema.
Aqui estarão todos os filmes que
comentarmos de cunho nacional, desde ficção até documentário, bem como curtas e
eventuais outras produções audiovisuais. Nossa intenção com esse gesto é
acompanhar, divulgar, criticar, discutir, discordar, analisar, aplaudir,
repudiar, escrachar, escaldar e tudo o mais que vier á mente sobre o cinema auriverde.
O Povo Brasileiro
Eu sinceramente não sei se você
já se perguntou sobre o que é ser brasileiro? Já se questionou sobre o que
somos? Você já tentou prever qual será o impacto que nosso país terá daqui a 50
anos no mundo? Você já se viu ante uma cultura estrangeira e teve uma crise de
identidade? Você está de acordo quando dizem que nosso povo é feliz e cordial,
passivo com a corrupção e flexível com a ética e a coisa publica?
Eu já fiz várias dessas perguntas
e encontro em mim respostas das mais variadas. Às vezes sinto me um
patriota; outras o um espelho de várias raças bem ao estilo um tanto liberal e
idiota de um universalista cuja pátria é o mundo.

Dentro desse rol de estudiosos
acho que uma das mais memoráveis abordagens é a de Darcy Ribeiro (1922-1997),
que foi antropólogo, político, ensaísta, intelectual e um homem dos quais o
país deve orgulhar-se de ter dado guarida (pós-anistia).
Esse senhor de óculos fundo de garrafa e trejeitos humildes produziu uma pérola de 435 páginas chamada o Povo Brasileiro na qual ele percorre as origens do nosso país, da nossa identidade e por extensão, de nós, brasileiros filhos do pau Brasil. Toda a produção da obra mor de Darcy Ribeiro está no documentário homônimo em que diversos especialistas tentam entender o Brasil em seus próprios termos, isto é, tentam esboçar uma explicação sobre o que somos.

O documentário, apesar de extenso, não deixa nada a desejar frente ao livro que lhe serviu de base, por se valer claro de recursos audiovisuais que um livro não comporta.
Nele são apresentadas nossas três matrizes fundamentais: a indígena, a negra e a portuguesa e como a partir disso engendramos - por meio de um relacionamento, ora apaixonado, ora violento - um ser novo: um ninguém nos dizeres de Darcy;e dessa “ningüendade” nasceu o povo brasileiro.

“Surgimos, nos dirá Chico Buarque
lendo a obra de Darcy, da confluência, do entrechoque e do encadeamento do
invasor português com índios silvícolas e campineiros e com negros africanos,
uns e outros aliciados como escravos.”
O documentário é dividido em 10
partes cada uma explicando uma matriz cultural do Brasil desde o seu período de
descobrimento até o país de hoje abordando os diversos “brasis” que coexistem
dentro do Brasil: o Brasil crioulo, caboclo, sertanejo, caipira, gaucho, matuto
e gringo.
Além de ser bastante didático é ilustrado
por especialistas de diversas áreas que fundamentaram sua vida acadêmica nesse
campo tão profícuo que mistura história, antropologia, economia, literatura e
sociologia. A narrativa se desenvolve naturalmente sem rupturas como se o
processo de formação do Brasil tivesse se dado a partir de continuidades,
miscigenações e amalgamas várias tudo ao som da voz de Matheus Nachtergaele.
Apesar de se voltar às origens, o
próprio Darcy Ribeiro no documentário tece considerações interessantes sobre os
nossos possíveis futuros. E neste sentido ele me parece assaz entusiasta sem
que com isso seu pensamento deixe de ser poético e positivamente utópico. Ele
diz que Canadá e EUA,assim como a Austrália nada mais são do que povos
transplantados da Europa,ao passo que o Brasil, juntamente com a América Latina
seria uma civilização em construção permanente cuja identidade porque
fundamentada na mestiçagem se faz mais plural, necessariamente mais aberta ao
diálogo e consequentemente mais tolerante.
Eu acalento minhas dúvidas sobre
o quilate da tolerância brasileira no que concerne à sociedade, mas aceito a
ideia de que somos mestiços por definição, sendo indistinguível um português,
um italiano ou um alemão que aqui tenha se adaptado.
Por fim, o documentário é
maravilhoso e vale as longas horas dispensadas. Apesar de não responder todas
as questões esclarece algumas coisas sobre um povo em eterna crise existencial -
indício a se comprovar - de que talvez assim o seja, por trazer em si
mesmo, o mundo inteiro.
Fernando Moreira dos Santos
Sessões Brasil
Fernando Moreira dos Santos
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